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Acordo sobressaltada quando sinto algo esquisito mexer em meu travesseiro. Me levanto imediatamente, correndo até o berço com mosquiteiro aberto.

Respiro aliviada.

Chris está dormindo com os dedos na boca.

Ele fez um mês de vida ontem, mas ainda tem uma carinha de joelho fofa, e dorme que é uma beleza quando não está com cólica. Tenho tanta pena quando ele contorce as perninhas, incomodado com a dor aguda que se pudesse, passava para mim.

Volto em passos de tartaruga para a cama.

Quando me deito, sinto novamente aquilo mexer no meu travesseiro. Tateio por baixo dele, até encontrar o causador de meu despertar assustado. Meu celular.

É Isaac.

Depois de semanas, ele está me ligando às cinco da manhã onde mora.

Atendo, relutante.

— Alô? — Sussurro.

— Ana Julia. — A voz é quase um murmúrio inaudível.

— Isaac, por onde você andou?

— Desculpe, eu precisava pensar.

— Qual o problema? — Me sento.

— Uma descoberta nada boa. — Ri nasalado. — Amelie e eu terminamos.

Já esperava que dissesse isso.

— Por que de repente? Você a adorava!

— É, foi uma surpresa pra mim também. Acho que eu sou o javali da vez. Minha namorada me traiu, Ana.

Meu queixo cai.

— O quê? — Emito um tom esganiçado.

— Foi essa minha reação.

— Mas como? Quando? Quando você soube?

— Saímos para comer, ela foi ao banheiro em certo momento e o celular tocou, eu atendi porque não achei que teria problema. Algum merda americano que ela conheceu em sites de relacionamento disse "amor?".

Como se fosse possível, meu queixo pende para baixo ainda mais.

— Eu a questionei assim que voltou e ela teve a coragem de admitir na minha cara como se não se importasse. — Ri nasalado sem vontade. — Ela disse que não via problema, já que eu converso com garotas americanas pela internet. Ana Julia, isso foi uma fodida vingança sem eu ao menos ter feito nada!

— Isaac...

— Eu fiquei igual um idiota. Fui fiel a uma garota que estava zombando da minha cara. Isso é sujo. É podre. Eu...tô tão frustrado. A amava de verdade. — Cospe com asco.

— Isaac, eu sinto muito. — Sussurro.

— Não! A culpa é minha por ter depositado tantas expectativas nisso. Porra...como fui tão burro?

— Não é sua culpa, Isaac. Por que seria? Você só a amou.

— E me rendeu uma traição. — Diz com deboche.

— Ainda assim. Sua consciência deve estar tranquila sabendo que foi fiel a ela e entregou seu amor. Se ela errou, o problema é dela, a culpa não pode pesar nas suas costas.

— Sei que não devia ter escondido que conversava com você, mas se ela tivesse perguntado...

— Ei, sim, você devia ter falado. Relacionamentos são a base de confiança, certo? Mas isso não justifica sair com outro cara, não tem comparação.

Ele fica em silêncio por algum tempo. E eu espero até que sinta vontade de falar.

— Eu a amava...

Balanço a cabeça, mesmo que não possa ver.

— Seria capaz de perdoá-la?

— Não. Não vou ser tão burro. — Branda.

— Então...vai precisar de muito para superar, huh?

— Sim, muito álcool.

— Nada disso, Isaac Henrique. Vai aliviar a dor mas não vai tirá-la, sabe disso.

— Estou brincando. Eu sei. Preciso de tempo para esquecer.

— Os seus livros melosos e aqueles salgadinhos com cheiro de chulé! — Acrescento.

Ele ri.

— Tem razão, ainda não chorei o bastante.

— Vai ficar tudo bem, pode falar comigo se precisar.

— Obrigado. Ter uma amiga agora vai ser bom, alguém que entenda meu lado. Ainda não tive coragem de dizer aos meus pais ou meus colegas da escola, é vergonhoso.

— Não precisa dizer o motivo do término se não quiser.

— Já é tão tarde e eu te acordei com essa merda.

— Não tem problema, Isaac. Espero poder fazer isso quando for as minhas merdas.

— E você pode! Me conta, como andou esses dias? — Muda de assunto.

— Ser mãe é exaustivo. O bebê começou a ter cólicas e eu fico à beira de cair no choro junto com ele quando as dores aparecem. Hum...eu conversei com Theodore e nós enfim decretamos paz. Tínhamos uma relação complicada, mas vamos mudar pelo nosso filho e seguir nossos caminhos separados.

— Fico feliz por vocês.

— Eu também. Era raro ficarmos no mesmo ambiente sem brigarmos, me sinto aliviada por colocar um ponto final. Ele vai ser um pai para Chris e só isso.

— Agora você pode seguir sua vida, então. Conhecer pessoas novas e tentar encontrar alguém bom para você.

— Não quero encontrar alguém, por ora vou focar nos estudos e no meu filho.

Ele assente.

— Se é o que deseja, eu apoio. O que você acha que eu devo fazer?

— Bom. — Penso. — Queria ser livre, não? Agora é uma oportunidade para você conhecer pessoas novas.

— Ah, tem razão, eu preciso de sexo.

— Eu não disse nesse sentido! — Rio.

— Mas eu preciso. — Sua voz é humorada. — Amelie foi minha única experiência, eu não sei muito sobre mulheres e isso me torna um virgem.

— Vai sair transando com desconhecidas?

— Não sei, talvez?

— Homens! — Bufo.

— Ei, você não transa com desconhecidos porque não quer. Eu não a julgaria por isso.

— É fácil falar. Mesmo se quisesse, depois da gravidez murchei igual um balão, me sobrou estrias, celulites e pele flácida! — Reviro os olhos.

— Não está transando, então?

— Querido, eu não transo desde que fiquei grávida.

— Não brinca? — Diz surpreso. — Grávidas não precisam de sexo para ajudar na elasticidade e tudo mais?

— Sim, algumas sim, mas eu não fui a escolhida da vez. — Dou de ombros.

— Que desperdício de tempo, Ana Julia. Você, mais do que eu, precisa sair para se divertir.

— Ah, não posso fazer isso. O bebê...

— Ele tem um pai, até onde sei. Hum...por que não no sábado? Vai com a Lucy. Seu corpo tem que relaxar.

— Isaac, olha o que está me sugerindo!

O mesmo gargalha.

— Adolescentes próximos de encerrar seu ciclo! — Exclama. — Eu também vou sair e nós vamos curtir muito, Ana. Espero que tenha boas lembranças no domingo para me contar.

Desculpe os erros. 

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora