Terei de ficar de repouso durante alguns dias.
Ou seja, nada de escola ou de trabalho.
Toma essa, Mark!
Meu pai, que não pode faltar, ainda assim me mima como uma criança. Ele deixou o almoço pronto e até sobremesa, as vitaminas com as prescrições médicas na bancada. Não preciso me esforçar.
Na verdade, eu sou bastante privilegiada por tê-lo.
A campainha toca.
Paro de balançar meus pés calçados à meias na mesa de centro, encarando a porta como se de alguma forma pudesse ver quem está lá fora.
Bem, eu não posso.
Bufo, afastando as cobertas e apoiando as mãos no estofado do sofá para conseguir me levantar.
Depois de uma noite inteira no hospital para ter certeza que o bebê não iria escapar por entre minhas pernas, gostaria de dormir até esquecer que o mundo existe.
Abro a porta e me arrependo no segundo que o faço.
Franzo o cenho.
No entanto, antes que eu possa dizer qualquer coisa, sou metralhada por palavras.
— Minha mãe ligou para o seu pai, ele disse que estiveram no hospital porque acharam que o bebê iria nascer. Você está de atestado médico e apesar de ter sido um alarme falso tem a possibilidade de dar a luz antes do previsto.
Cruzo os braços sobre a barriga, arqueando uma das sobrancelhas como se questionasse: "e o que você tem a ver com isso?"
Theo suspira.
— Ele disse que estava sozinha e que estava receoso caso realmente fosse a hora.
Droga, pai.
O loiro dá um passo em minha direção. Eu o barro.
— Você não vai entrar aqui.
— Qual é, Ana? — Estala a língua, impaciente.
— Qual é? Qual é digo eu! Você me humilha diversas vezes, segue a vida como se nada estivesse acontecendo e de repente quer dar um de pai responsável? Por favor, Theodore! — Aponto o dedo em sua direção. — Eu prefiro ter o bebê sozinha na minha sala de estar do que receber sua ajuda. Porco.
Bato a porta com força.
(...)
Bebo o quinto copo d'água, tentando estabilizar minha respiração.
Ainda não acredito que ele fez isso. Que teve coragem de vir aqui depois de tudo como se nada tivesse acontecido. É claro que deve ter sido obrigado, mas lhe faltou pudor para tocar minha campainha.
Sua boca é uma privada inconveniente, Theo diz o que quer mesmo tendo filtro, mas suas atitudes são ainda piores.
Ele me tira o eixo.
Esse garoto idiota e repugnante.
Ele consegue me abalar e eu sou tão, tão burra, que posso me render a pequenos atos como esse. Carente e solitária.
Deveria colocar um anúncio no eBay. Procura-se pai para recém-nascido. Quem sabe não fosse tão pulso fraco para o verdadeiro.
Tranquei todas as portas e janelas como se estivesse refém de um criminoso. Nunca se sabe do que as pessoas são capazes.
Tento me distrair com meu celular. Tem mensagens de Isaac, eu lhe mandei uma logo cedo, mesmo que não precisasse, me senti na obrigação de avisar o porquê do bolo.
Isaac Henrique Jones
Vocês estão bem?
Me surpreendi por não estar bloqueado
Estamos bem
Ele está só dando uma festa
Não bloqueei, não ainda
Mordisco o lábio, começando a ver vídeos de relatos de parto no YouTube. Ignorando a vontade de bisbilhotar a janela da frente.
Meia hora depois...
Isaac Henrique Jones
Vou torcer por você para que ele não o faça quando já estiver no mundo conosco
Deixa para a próxima a sua derrota
Preciso ir
A sua derrota
Até mais
Bloqueio a tela do celular e me levanto.
Posso deslizar os pés no chão sem fazer barulho, as meias felpudas são ótimas.
Afasto a cortina da janela da frente e o ar prende em meus pulmões.
Ele está lá.
Sentado nas escadas da varanda como um cachorro abandonado.
Meu coração acelera subitamente e o bebê chuta.
— Traidor. — Sussurro.
Me afasto da janela.
Theo não se preocupa realmente comigo ou com o filho, por ele nós desapareceríamos do mapa em um estalar de dedos. Problema resolvido. Porém, seus pais são exigentes e responsáveis demais para permitir que isso acontecesse. Apesar de não irem com a minha cara, fariam seu filho se casar comigo se isso o fizesse assumir a paternidade.
Eu não quero fazer parte daquela família, já não basta meu bebê ter o sangue deles.
Espero que não seja um cafajeste egoísta. Que se engravidar uma garota um dia e mesmo que não queira estar com ela, seja presente na vida da criança. Presente de verdade, não só o depósito no fim do mês.
Uma lâmpada se acende em minha cabeça quando estou a caminho do quarto outra vez e um sorriso ladino curva minha boca. Uma pena, terei de fazer um pequeno esforço, mas será para um bem maior.
— Você entende, não é, bebê? — Murmuro a caminho da cozinha.
Não hesite em eliminar as pragas do quintal.
Encho uma panela com água na pia e volto para a porta lentamente.
Me vejo em um desafio de abrir a porta e segurar as alças da panela. Por isso, apoio o pé no aparador e a panela no joelho. Giro a chave na fechadura o mais silenciosamente que consigo, apertando os dentes como se qualquer ar que passasse por eles fosse chamar atenção.
Pressiono a maçaneta até que esteja aberta. Volto a segurar a panela com firmeza e puxo a porta com o pé.
Ele não notou. Está encarando a rua com o corpo relaxado e os braços esticados para trás, as mãos apoiadas no piso.
— Theodore. — Chamo.
É instantâneo ele virar a cabeça. E quando seus olhos estão sobre mim e os meus sobre sua cara de idiota, a panela sem querer tomba para frente, não o dando tempo de reagir.
— Saia da minha varanda! — É tudo que digo antes de bater a porta e cair na gargalhada.
∞
Desculpe os erros.
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Via Internet
Teen FictionAos quinze anos, Ana Julia é só mais uma garota grávida, a qual não planejara a gestação precoce. Abandonada pelo namorado, amigos e a vida a qual considerava a melhor, Ana, se vê só, tendo de lidar com as mudanças físicas e psicológicas, entrando n...