— Meu Deus! Eu entrei no universo mais fofo de todos! — Exclama Lucy quando adentramos meu quarto.
Está realmente bonito.
Meu pai mudou os móveis de lugar como pedi e descartou o que não precisava. A escrivaninha e a estante foram embora, dando lugar ao berço e nichos com livros. Um berço com mosquiteiro e ursinhos, daqueles com gavetas em baixo. Uma salvação para quem tem pouco espaço para cômodas!
Minha cama ficou do lado oposto, encostada na parede e com os travesseiros servindo como proteção, de certa forma, para que eu não bata a barriga ao me mexer ou me encoste quando estiver cansada. Pensei também que pode ser ótimo na hora de amamentar. Por falar nisso, estou tendo que usar absorventes para as mamas, o que é um saco.
— Veja, é um "C". — Aponta para o nicho com o abajur em forma de letra, sorrindo boba. — Eu quero um filho! — Estala a língua.
— Não quer não. — Rio.
Estar grávida é muito mais complexo na prática que na teoria.
— Verdade, filhos são trabalhosos, mas eu quero isso. — Gesticula. — É fantástico.
Verdade.
Às vezes eu me pego olhando para o berço, imaginando um pequenino gorducho, agitando os pézinhos ou chupando os dedos.
Eu. Amando um serzinho. Meu. Um filho meu.
— Eu acho que... — Ela para de falar ao olhar para mim, os olhos se arregalando ao passo que pairam sobre minha barriga.
— O que foi? — Tateio o moletom velho do meu pai que estou usando. Essas roupas desgastadas são as mais confortáveis na minha situação.
— S-sua calça. — Gagueja. — Sua calça está molhada...molhando.
Engasgo.
Pela visão periférica, olho para o espelho do guarda-roupa.
Estou começando a sentir o líquido quente descer por minhas coxas, mas não quero de fato ver.
É só o começo da trigésima nona semana.
Não está na hora, está?
— VOCÊ VAI TER O BEBÊ!
Sim, está.
(...)
Não me lembro de sentir tanta dor como agora.
Como se pegassem a ponta de uma faca e enfiassem no pé da minha barriga e no meu útero. Uma, duas, três vezes. A cada sete minutos.
Estou em trabalho de parto há seis horas e só três centímetros de dilatação.
— Pai. — Ofego.
Ele voltou correndo para casa assim que Lucy ligou. Aliás, ela ligou para todo mundo que conhecia só para avisar que eu teria o bebê. Pessoas essas que desconheço.
— Estou aqui, querida. — Pressiona o pano úmido em minha testa suada.
Mal consigo abrir os olhos, ardem só de tentar.
— Estou com calor.
Muito calor.
Como se estivesse dentro de uma sauna. Fritando. E esse calor absurdo me causa náuseas e ânsia. Parece que vou morrer.
— Pai. — Choramingo. — Eu não aguento isso.
— Seja forte. Estou com você, meu bem. Aguente firme.
Não posso.
Quero dizer, mas da minha boca só saem murmúrios e delírios.
— Onde ele está? — Sopro.
Theo.
Theo, onde está?
Pisco.
Muita iluminação surge, pessoas de máscara. Meu pai tanto quanto, usando um avental azul e touca descartável. Segurando minha mão.
Dor.
Muita dor;
— Faça força. — Alguém em algum lugar diz.
Eu forço. Mas queima.
Tento fechar as pernas, mas meus joelhos são afastados e mantidos firmes no lugar.
Não vou aguentar.
— CONTINUE!
Gritam.
— Está saindo, Ana. Vamos, você consegue.
Não.
— Theo. — Choro.
As lágrimas rolam quentes por meu rosto, coberto por uma extensa camada de suor. Esquenta e sinto que a qualquer momento minha cabeça vai explodir.
Mãos em meus ombros, lábios quentes beijam minha testa.
— Continue. — Theo.
Tento abrir os olhos, mas não consigo. Estão colados por suor e lágrimas.
— Vamos, amor, você consegue. — Sussurra.
Empurre.
Empurre.
— Isso, isso mesmo. Quando a dor vir empurre com toda sua força. — Uma voz desconhecida diz.
Empurre.
Estou zonza.
Rasga.
Arde.
Empurre.
E quando um choro estridente ecoa por meus ouvidos, caio em um lugar sem barulhos ou dor.
∞
Desculpe os erros.
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Via Internet
Teen FictionAos quinze anos, Ana Julia é só mais uma garota grávida, a qual não planejara a gestação precoce. Abandonada pelo namorado, amigos e a vida a qual considerava a melhor, Ana, se vê só, tendo de lidar com as mudanças físicas e psicológicas, entrando n...