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— Eu não entendo o Theodore, realmente não entendo! — Fecho os olhos quando Lucy começa a aplicar uma gosma verde em meu rosto.

— Não o conheço, mas ele parece sugar tanto suas energias, ainda mais com essa carta. Te dá esperanças. Quais as chances dele ser um babaca depois?

— É! Eu não quero receber esse tipo de coisa e nem quero que ele diga que me ama. Estou tentando superar.

Fiquei o dia inteiro pensando na maldita carta.

Lendo e relendo quando tive a oportunidade. Lembrando de tudo que passamos juntos, aquele "Eu te amo" roubando meu foco.

Me ama, mas não o bastante para assumir publicamente.

Me ama, mas não o bastante para aguentar essa barra comigo.

Me ama, mas não o bastante para ser o pai do meu bebê.

Bufo.

Eu odeio Theodore, odeio.

— São só promessas silenciosas, Ana. É opção sua perdoá-lo, mas não caia nessa de amor.

— Que amarga você é. — Brinco.

Ela ri.

— Experiência de uma jovem. Eu confiei em alguém que dizia me amar, confiei que mesmo mudando de cidade mil vezes nosso amor prevaleceria. Então, por ligação, ele anunciou que estava saindo com minha melhor amiga.

Abro os olhos.

— Isso é horrível, Lucy.

— É, e por mais que nós ainda estejamos nos conhecendo, não desejo que passe por algo semelhante.

Suspiro.

— Se Theo espera que eu lhe dê uma chance depois dessa carta, está enganado. Não vou passar por tudo aquilo de novo agora que tenho a oportunidade de seguir em frente. Ele me confunde, isso não posso negar, mas serei forte.

— E você tem alguém para te sacudir caso caia na dele. — Pisca um dos olhos.

É, pela primeira vez não estou tão só.

(...)

— Seu celular está tocando. — Lucy diz com a boca cheia de pizza, os olhos focados no filme de terror que ela escolheu para assistirmos.

Ela me estende o aparelho e eu o pego, atendendo sem olhar.

— Alô? — Lambo os dedos cobertos de molho de tomate.

— Feliz aniversário, debutante.

Engasgo.

— Isaac.

É Isaac!

Depois do fim catastrófico da nossa conversa há alguns dias, não nos falamos mais. Eu evitei entrar nas redes sociais porque achei que não saberia lidar com o desprezo de mais uma pessoa.

Então ele está aqui, tecnicamente, do outro lado da linha. Dizendo: Feliz aniversário, debutante. Com sua voz grossa e britânica.

Lucy está com a atenção em mim agora.

Ela não sabe quem Isaac é, mas a sugestão do nome a deixa com uma expressão maliciosa no rosto. Ergo o dedo do meio.

— Oi, hum...não esperava que você fosse ligar.

— Nem eu, mas o Facebook anunciou que era o seu aniversário e eu quis dar os parabéns. Atrapalho?

— Não. — Reprimo uma risada quando Lucy faz um gesto obsceno. — Eu só estava assistindo um filme com uma amiga. É, bem, obrigada.

— Senti vontade de falar com você, depois de ter desligado na minha cara. — Ri nasalado.

— Eu estava cansada, eu disse. — Não é bem uma mentira.

— Entendo. Volto para a escola na quinta, então esperava me despedir também.

— Já?

— É, infelizmente. Vou para a casa de Amelie amanhã e ficarei até minha partida, então aquela tentativa de passar meu recorde não vai rolar.

— Até parece. Vou treinar até as próximas férias.

— Veremos o quão boa estará, Ana Julia. O seu bebê provavelmente vai ter nascido até lá, então, ficarei feliz em saber o nome logo que você olhar para ele e descobrir que cara tem.

— Será um dos primeiros a saber, Isaac Henrique! — Sorrio.

— Estou lisonjeado. — Brinca. — Fica bem, Ana Julia.

— Você também. Boa sorte nesse semestre.

— Obrigado.

A chamada encerra segundos depois e eu coloco o celular ao meu lado no sofá antes de virar o rosto para Lucy.

— QUEM É ISAAC?

(...)

Estou terminando de prender o cabelo em um rabo de cavalo quando a campainha toca.

Ando em passos apressados para atender.

Reviro os olhos assim que abro a porta. Esperava quem fosse, já que é terça e meu pai saiu para trabalhar.

Theo entra quando lhe dou as costas e volto para o quarto. Eu o ouço me seguindo.

— Você está atrasado. — Acuso, pegando minha bolsa em cima da cama.

— Seu pai disse que sua consulta é às duas da tarde.

— E são uma e quarenta. — Bufo.

Ele balança as chaves do carro no ar.

É claro, o carro do pai rico.

Saímos de casa e eu evito ter qualquer contato próximo. Theo é radioativo.

A ida é desconfortável, mas pelo menos posso respirar aliviada quando desço do carro assim que ele estaciona diante o hospital.

Entrego meus documentos na recepção e a atendente pede que eu espere.

Quando me sento em uma das cadeiras, Theo se senta ao meu lado.

Fodidamente parecido com um casal normal que veio ver como anda a gestação do primeiro filho. 

Desculpe os erros. 

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora