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Estudar com Isaac não é nada do que imaginei. Esperava que ficássemos em completo silêncio ou voltados para a matéria em questão. No entanto, é impossível, porque ele é um palhaço, e por vídeo-chamada é ainda mais engraçado. Toda hora que desvio o olhar do caderno para seu rosto, ele está apertando os lábios para conter o riso ou fazendo alguma gracinha.

Ao menos o estou vendo sorrir. Apesar da noite que passou com a tal mulher do bar, ele ainda está tentando superar o término com Amelie. Por mais que não fale sobre ela, sei que as coisas não são tão rápidas. É difícil esquecer alguém que se ama.

— Isaac! — O repreendo quando mais uma vez o vejo colocar a mão sobre a boca.

— Desculpe, eu não costumo fazer isso. Você está segurando um bebê e escrevendo.

— Engula esses risinhos, Henrique. — Ajeito Chris em meu braço esquerdo.

— Combina com isso. — Apoia o cotovelo sob a mesa do computador, deitando a cabeça na mão.

Ele está naquele quarto ultra moderno e aparentemente muito confortável. As portas da varanda abertas, deixando que a pouca luz do sol entre. Um moletom que cobre os cabelos, que, segundo ele, não estão num bom dia.

— O quê? Segurar um bebê enquanto escrevo?

— Ser mãe.

— Hum...que elogio. — Ironizo.

— Ei, Ana Julia, é sério! Você manda bem, quero dizer. Tem tantas mães que nem são mães de verdade. Ter filhos qualquer um pode ter, mas cuidar?!

— Eu fiquei com medo de não saber o que fazer. — Olho para Chris. — É diferente agora.

— É claro que é. Você se apaixonou. Quem ama sempre vai querer proteger. Espero ter essa sensação um dia.

— Quer ser pai, então? — O encaro.

— Ah. — Balança os ombros. — Se eu encontrar uma mulher que ame o bastante para querer ter filhos... — Murmura. — Minha vida mudou tão repentinamente quanto a sua.

Largo o lápis.

— Novas vidas, novas decisões.

— É...é uma merda. — Recosta na cadeira.

Miro o caderno com atividades pela metade e os livros fechados.

— Acho melhor continuar isso depois. — Começo a guardar os materiais.

— Não vai rolar nós dois e os estudos. — Lamenta.

— A culpa é totalmente sua!

Me levanto, indo até o berço e deitando Christian com cuidado.

Coloco os materiais na mochila e passo a chamada de vídeo do notebook para o celular, assim, conseguindo deitar sem desligar a ligação. Isaac está mordiscando o lábio inferior quando volto meu foco para ele.

— No que está pensando? — Pergunto assim que os olhos, fixados em qualquer coisa que não a tela ou a webcam, reluzem.

As orbes sobem até mim.

— Solidão.

— Hã? — Franzo o cenho.

Tão aleatório.

O mesmo sorri, sem jeito, a covinha do queixo suavizando.

— Você tem a Lucy, tem o seu filho, o seu pai, mas no fim das contas está conversando com um cara fodido, carregando um par de chifres, pela internet. Isso...parece tão só e triste. Pra mim.

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora