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Um leve toque em meu ombro.

Pisco.

A claridade contempla minhas vistas. O mesmo cenário de anteriormente, só que agora sem barulhos, sem a sensação de estar morrendo. Afinal, estou viva.

Toco minha barriga.

Não está dura, nem tão inchada quanto antes.

O bebê.

O bebê.

Arregalo os olhos.

— Ei, tudo bem. — Viro o rosto na direção da voz.

Meu pai.

Minha respiração prende na garganta ao perceber o pacote azul em seus braços.

O bebê.

Meu nariz pinica e a súbita vontade de chorar surge mais rápido do que eu possa controlar. Quando me dou conta, estou chorando copiosamente, de maneira que meus ombros balancem.

— Você conseguiu, Ana.

Eu consegui.

Olho para meu pai, embaçado pelas lágrimas e consigo ver minha emoção refletir a sua.

Está tudo bem agora.

Eu consegui.

Passo o dorso da mão pelo rosto, notando, só então, a seringa injetada em minha pele, coberta por uma fita adesiva.

— Ele está bem?

— Está. Com fome, mas saudável.

— Oh meu Deus. — As lágrimas são incessantes.

Papai se inclina e eu o vejo. Uma bolinha rosa de rostinho enrugado, dormindo profundamente. Ele definitivamente tem cara de Christian.

Meu pai me oferece e eu fico um pouco desconcertada, mas é instintivo erguer os braços para pegá-lo, ainda que morrendo de medo de acordar ou machucar o pequeno.

Christian mexe as mãozinhas de dedos minúsculos.

Eu queria tanto que abrisse os olhos para que pudesse ver se são azuis ou castanhos como os meus.

A camisola que estou usando não é a mesma de quando cheguei, mas uma de botões, propícia para amamentar.

— Quanto tempo faz? — Pergunto.

— Você deu a luz de madrugada, são quatro da tarde agora.

— Eu dormi por todo esse tempo? O que Christian comeu?

O bebê dorminhoco parece ter algum tipo de sensor quando o aproximo de meu peito. Ainda de olhos fechados, agarra o bico e começa a sugar como se sua vida dependesse disso. E depende. A sensação é estranha.

— Formula.

Não acredito que a primeira comida do meu filho no mundo foi formula!

— Cuidaram bem dele? Deram banho e tudo?

Meu pai ri.

— Eu o acompanhei o tempo todo. Deram banho e vestiram a roupinha que você separou.

Eu quase havia me esquecido da bolsa de maternidade. Nem lembro de tê-lo visto pegar.

— Quando vou sair daqui?

Já estou ansiosa para voltar para casa e começar essa nova etapa.

— Segunda, se tudo continuar ocorrendo bem.

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora