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Encaro o teto do quarto com o coração batendo forte.

O efeito da bebida diminuiu absurdamente e eu não consigo nem me encarar no espelho sem ficar constrangida.

Lucy me ligou à pouco, desesperada porque fui embora só. Eu a tranquilizei dizendo que já estava em casa.

Ela encontrou Isaac, afinal. É isso que importa.

Meu celular vibra em minha mão. É ele. De novo.

Mordo o interior da bochecha. Dez chamadas rejeitadas. No fim das contas, o problema não é Isaac, sou eu. Como irei lidar com ele?

Fecho os olhos e atendo.

Não digo nada. Não consigo.

Ouço sua respiração do outro lado e o total silêncio da madrugada.

— Posso entrar?

Um sussurro.

Meu pulso ganha ainda mais força.

Minhas pernas tem vida própria. Porque, por mais envergonhada que esteja, meu subconsciente diz que jamais o deixaria às uma da manhã no meio da rua, mesmo tendo para onde ir.

Abro a porta.

Ele entra. Não o olho diretamente.

Volto para meu quarto e sou seguida. Lugar que ele nunca entrou, mas que, durante todas as noites em que conversávamos, era onde estava.

Me sento na cama.

Queria estar com Chris. Me ocupar com ele agora faria com que essa situação toda não tomasse minha atenção.

Me arrependo desse vestido idiota, desse cabelo idiota, da conversa idiota com Ana. Arriscar. Até parece. Eu arrisquei e recebi um belo chute. A possibilidade de ter perdido um amigo é ainda maior.

Isaac se senta ao meu lado, e pela visão periférica, noto que me olha.

Ficamos num silêncio crucial e constrangedor.

Droga, por que ele não voltou para o hotel?

As batidas frenéticas do meu coração erram o compasso quando percebo que deslizou para mais perto. Minhas mãos suam e as bochechas esquentam ainda mais, subindo a concentração de sangue pelas orelhas.

Desvio o olhar para os travesseiros na parede.

Não quero. Não quero.

O ar escapa por meus lábios quando sinto um beijo em meu pescoço. E outro. Outro.

O que ele está fazendo?

Por que?

Sua mão toca minha coxa, me puxando para si, não me dando opções a não ser me virar e encará-lo.

As íris castanhas estão mais escuras, com um pequeno brilho nas pupilas, misturadas a coloração e tornando os olhos maiores, cheios de desejo.

Não consigo acreditar.

— Por que? — Pergunto baixinho.

Isaac não responde. Avança sobre mim, deitando-me sob o lençol.

Olho para a porta. Ele fechou ao entrar.

Na minha cabeça tem um enorme ponto de interrogação.

Ele aproxima o rosto do meu, roçando nossas bocas.

— Não podemos fazer isso. — Sussurra.

— É por Amelie? — A menção do nome o faz apertar os olhos. — Você a ama.

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora