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— Entre, por favor. — Minha terapeuta me recebe com um sorriso caloroso.

Gosto do seu consultório e do ar gélido que me recebe, não me faz sentir uma paciente, me reconforta de alguma forma. É difícil de explicar.

— Então, da última vez que a vi você estava grávida, huh? — Comenta quando nos sentamos. Ela na sua cadeira profissional e eu em uma poltrona elegante de cor creme.

Sorrio.

— É, o pequeno Chris está com quase dois meses. Passa rápido demais.

— Sim, fiquei pensando se não voltaria aqui.

— A maternidade ocupa muito do meu tempo, e eu voltei a estudar, à distância, é claro.

— Você pretende encerrar o ensino médio de casa?

— Não sei, apesar do ambiente escolar ser o ideal para mim, fico com um aperto no peito em ficar longe de Christian.

— Até lá ele terá mais ou menos um ano, certo?

— Sim, mas eu me apeguei a ele.

— É bastante compreensível, eu sou mãe de gêmeos e logo que voltei a trabalhar passava a maior parte do tempo pensando nos dois. Só que, você entende que, bebês ou crianças, filhos em geral, devem ter sua independência!? Seja desde passar algumas horas longe dos pais numa creche ou comerem sozinhos. Deve explorar isso com o pequeno Christian. Ele deve sentir que consegue porque é capaz, mas mesmo caindo terá alguém que o ajudará a se levantar e o incitará a prosseguir. É algo que nós pais falhamos em alguns casos, por isso quando grandes, se perdem no casulo protetor.

Reflito, sentindo o soco de suas palavras em meu estômago.

— Libertá-los é depositar confiança não só neles, mas em nós mesmos, na nossa posição de pais. Nós nos agarramos tanto ao que gostamos, o que é nosso, que soltar é doloroso. Esse tempo que fica conosco serve tanto para o bem quanto para o mal. Tanto nós quanto nossos filhos precisamos de espaço para amadurecer.

Tudo que ela diz eu absorvo e não só assimilo à Christian, mas ao que Lucy disse em relação a Isaac. Acho que eu me habituei tanto ao que ele representa, uma figura de trás da tela do computador que está sempre disposto a me fazer sorrir, que tornar real me apavora. As chances de me decepcionar e decepcioná-lo me apavora. E só manter as coisas como estão parece mais fácil. O que contradiz tudo que disse a ele sobre abrir a gaiola e ser livre.

Por que eu não posso fazer isso?

Pessoalmente ele será algo diferente do que é via internet, mas isso não quer dizer que a versão real seja ruim.

Me desimpedir. Aceitar o que é diferente ao menos uma vez para a minha própria evolução.

Conto tudo à Ana, desde como e quando o conheci, desde o que, mesmo à distância, ele faz por mim. Que quer vir aqui e que isso me causa medo. E toda essa pequena reflexão. Ela ouve com atenção e me espera terminar para dizer:

— Eu conheci seu pai na sua primeira consulta. Ele parece um bom homem, mas cometeu um pequeno erro que acabei de citar, um que muitos pais cometem. Desde que você ficou grávida, Ana, Robert tomou suas dores. Óbvio que você sofreu, foi algo indesejável e que na cabeça de uma adolescente pesa demais, mas ainda assim era sua responsabilidade. Ele permitiu deixar de lado o fato de Theodore não aceitar a paternidade porque queria protegê-la do mal que, enfrentar um garoto de dezessete anos a causaria. Decidiu aceitar sua regressão nos estudos porque aquilo já não fazia diferença para você, permitiu que faltasse às aulas por medo do seu bem estar. Ele temeu por você como pai e isso a acomodou. Você deixou de enfrentar desafios porque tinha um maior nas suas mãos, mas, Ana, ter um bebê não anula os problemas do mundo e nem os que você terá pela frente. Agora você se encontra num monólogo onde seu pai não está inserido, mas um garoto que conheceu e se apegou. Imagine, o que faria se de repente seu pai dissesse que você deve se tornar dona do próprio nariz imediatamente?

— Não tenho ideia, ficaria perdida. — Admito.

— Em uma situação diferente, é mais ou menos o que Isaac propõe. Você tem medo do que é novo, mas nem tudo que é novo é ruim. 

Desculpe os erros. 

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora