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São cinco da manhã e o sol já surge no horizonte.

Ainda assim, não consigo parar de beijar os lábios macios contra os meus.

Sem roupas, nossas peles, mais calmas depois da euforia, se tocam com leveza, queimando uma a outra.

Os braços que me aninham contra si, me protegem do frio da madrugada, pois o lençol foi parar em algum lugar qualquer e não estou nem um pouco afim de saber onde. Meu quarto é uma bagunça só.

— Mmm, não consigo parar. — Encaminha a boca por meu rosto.

Sorrio, porque eu também não.

— Seu pai vai querer arrancar minha cabeça. — Ri abafado em meu ombro.

— Eu digo que voltamos tarde da festa e você não pôde ir para o hotel.

— E fiquei no quarto da filha dele, na cama dela...

Belisco seu braço de leve e ele ri mais.

Suspiro, gostando da respiração em minha pele, de algo que não sinto há muito tempo. Permitindo que a carência seja saciada, que em meses sozinha alguém me cuide. Sei que praticamente pedi por isso, que com Isaac implorei o que poderia ter tido facilmente com Andrew, há dias atrás, mas...não sei explicar. Não sei se por causa do conforto, de meses conversando, de entrar numa parcela de sua vida mesmo que por ligação, ou...ah, isso é tão complicado. Eu sou complicada.

Penso em como retesou. Havia desejo. Há. Mas é como se algo ainda o incomodasse. Achei que fosse Amelie, mas, enquanto nos perdíamos no prazer, um lampejo de pouco tempo atrás me passou. Isaac saiu com uma mulher, foi para o apartamento de uma mulher, por que teria dúvidas comigo?

— Isaac. — O afasto devagar. Encaro seus olhos cor de chocolate, a tranquilidade que ambos transmitem. Sem perturbações.

— O que foi? — Sorri sem mostrar os dentes.

Franzo o cenho, pensativa. Não quero criar um clima ruim ou estragar as coisas entre nós. Ficaram tão boas. E, sua estadia é passageira, não é como se precisasse de explicações. No entanto, as palavras deslizam incertas de minha garganta:

— Quero que seja sincero comigo. Está bem? Você pode fazer isso?

Procuro verdade, preciso dela.

Suas sobrancelhas se erguem sutilmente e ele se afasta mais, não ao ponto de me soltar, mas o bastante para me olhar com atenção, buscando, curioso, o significado de meu pedido. No fundo, ele sabe o que é.

Inclina a cabeça para o lado.

Eu espalmo seu peito, buscando contato. Tentando dizer com meu ato que não estou exigindo ou forçando a barra, que não quero que se sinta pressionado, mas apenas confie em mim.

O pomo-de-adão se move quando engole.

— Sim, Ana.

Exalo.

Ele vai fazer isso.

— Quero deixar claro uma coisa. — Toco seu cabelo. — Não se preocupe. Não espero nada, Isaac. Você vai embora, moramos longe, eu tenho um filho. Temos vidas separadas, mas, podemos aproveitar enquanto você estiver aqui. Se você quiser.

— Eu quero. — Aperta minha cintura. — Ana Julia, não era o propósito da minha viagem, mas, porra, eu quero. — Vira nossos corpos, ficando por cima de mim.

Abraço seu pescoço.

— Sem cobranças. Vamos nos divertir. — Suspiro quando esfrega os quadris nos meus.

— Ah, é disso que eu preciso. — Me beija.

(...)

Meu pai não pareceu acreditar muito na nossa história, mas também não nos questionou a fundo. O que para mim é um alívio.

Isaac e eu estamos a caminho da casa de Theo, como não combinamos se ele levaria Chris ou se eu o buscaria, pensei em fazê-lo eu mesma, já que depois disso vamos dar uma volta.

— Você não precisa ir. — Falo para Isaac, dentro do ônibus.

— O quê? Eu tô doido pra conhecer o pai do Christian, vulgo, odiado por todos.

Rimos.

Embora eu não o odeie e ele esteja se esforçando pelo filho.

Estou um pouco nervosa. Nem imagino qual será a reação de Theo diante Isaac e vice-versa. Apesar de não tentar nada, não sei se o loiro ainda nutre sentimentos por mim. Espero que não. Seria desconcertante.

— Ei. — Olho para seu rosto, um sorriso ganhando sua boca. Ele adora sorrir, por mais que, em nossas conversas durante a madrugada, tenha dito que odeia seu sorriso. Isso porque é o que o deixa ainda mais bonito. Não entendo as pessoas bonitas.

O mesmo puxa meu queixo com o indicador e deixa um beijo casto em meus lábios.

Sorrio, com as bochechas esquentando.

— Relaxa. — Sopra.

— Pareço tão nervosa assim? — Espalmo o rosto.

— É como se estivesse indo direto pra boca de um monstro. — Zomba.

— Theodore é um monstro quando quer. Tomara que não seja um cuzão com você.

Ele ergue as mãos.

— Apenas um acompanhante.

Aperto os lábios.

Ele tem razão.

Nada de surtos fora de hora.

(...)

— Uau. — Isaac murmura.

A fachada da casa de Theodore é tão bonita quanto o interior. Foram poucas as vezes em que pude entrar, ele estava sempre na minha casa, ainda assim, não deixo de me admirar sempre que venho. Mora num bairro nobre e seus pais têm bastante dinheiro.

O motivo pelo qual transferiram Theo para uma escola pública é simples: o garoto era um terror. Eles esperavam que o filho tomasse jeito com esse "castigo", mas a coisa toda só piorou, porque dentro dessa mansão não está só Theodore e sua família, mas também o filho dele.

A consequência de seus atos.

— É — aperto os olhos por conta do sol —, ele é um mimadinho de merda.

— Os estereótipos estão surgindo novamente, Ana Julia.

Ele me acompanha quando começamos a andar em direção ao portão.

O segurança, que já me conhece, apenas acena e permite nossa passagem sem que eu diga nada.

— Tem segurança. — Sussurra impressionado.

— Pouco exagero, não é? — Brinco.

Chegamos diante a porta grande de madeira escura.

— Eles tem um dálmata chamado Dólar também?

Controlo minha vontade de gargalhar quando ergo a mão para apertar a campainha, sua expressão bem-humorada tira a tensão dos meus ombros. No entanto, antes que eu pressione o botão, a porta se abre. Theo não nos nota a princípio, pois sua atenção está totalmente focada na garota ao seu lado, ambos sorriem e ela se inclina para beijá-lo nos lábios.

Meu coração passa a bater descompensado e um frio percorre meu estômago quando os olhos da garota acabam nos meus.

Ela congela.

Seguindo o óbvio da reação, Theo também fica sem jeito, porque, à pouco, a garota que beijava com tanto carinho, é a que mais odeia.

 ∞

Desculpe os erros. 

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