Por um momento achei ter batido na porta errada, mas é claro que se tivesse pedido desculpas e dito que foi um engano seria uma completa idiota. Porque eu sei quem ela é, e, com base no sorriso desdenhoso que se forma em sua boca, sei que ela sabe quem eu sou.
A mesma dá um passo para trás.
— Ainda bem que chegou...é a estrela do show.
Não entendo o que ela quer dizer, mas algo me impulsiona para dentro do quarto. Não me importando se vou encontrá-lo deitado na cama ou só de toalha. Eu só faço. Porque preciso ver com meus próprios olhos a grande otária que eu sou.
Sentado numa poltrona, ele tem as mãos no rosto, os cotovelos apoiados nos joelhos, balançando quase sem controle. No entanto, não é Isaac quem me chama atenção, mas a mulher alterada de pé em sua frente e o homem de rosto vermelho, ambos muito irritados.
— O que está acontecendo? — Minha voz sai quase num sussurro.
Isaac levanta o rosto. Aflito.
— Ana.
Ele tenta se levantar, mas o homem o empurra de volta para a poltrona, um olhar ameaçador sobre si.
— Você. — A mulher alta e elegante aponta para mim. Seus olhos são parecidos com os de Isaac. — Você é Ana Julia?
— É ela, tia. Em carne e osso. — A garota diz com petulância.
— Você sabia? Sabia que ele viria aqui?
— Eu...
— Mãe, ela não sabia de nada. A Ana não tem nada a ver com...
O som ardido e estalado interrompe sua fala quando a mão do homem, claramente pesada, bate contra seu rosto e o faz cair sentado na poltrona ao tentar se levantar novamente.
Arregalo os olhos.
O que é isso?
Que tipo de pessoas são essas?
— O que vocês estão fazendo? Por que bateu nele? — Pergunto com raiva, fuzilando o homem que nem sequer devolve o olhar, focado em Isaac e em seu rosto marcado por dedos.
— Então você não sabia? — A mulher escandaliza.
— Do que está falando? Do que eu não sabia?
— Deixa que eu explico, tia. — Amelie aparece em minha frente, as sobrancelhas levantadas e o sorriso quase rasgando a face. Me olha de cima à baixo, franzindo levemente o nariz. — Depois que Isaac e eu terminamos, fui para um retiro de jovens. Algo para espairecer, pensar na vida... — Passa os dedos pelo cabelo. — Fiquei em choque quando titia apareceu por lá atrás do filho.
— Ele disse que iria para o retiro tentar reconquistar Amelie, mas veio para a América conhecer uma vagabunda de internet. — O homem cospe.
— Não fala assim dela, porra! — Isaac tenta avançar nele, mas é inútil, pois o mesmo é claramente mais forte e consegue derrubá-lo facilmente, não com a mão como fez anteriormente, mas com o punho.
— Isaac! — Grito.
A loira entra na minha frente quando faço menção de me aproximar.
— Não chegue perto. — A mulher também intervém. — Meu marido está educando o filho.
— Educando? — Olho para o garoto que coloca a mão sobre o nariz, o qual agora corre um vermelho vivo de sangue. — Isso é educar?
— Nós o criamos, demos uma boa educação, o colocamos numa escola para seguir os caminhos certos. Então, ele troca a namorada por você! — A mãe dele me mede, da mesma maneira que Amelie; com nojo.
— Ela o traiu, não existe troca em algo tão sujo.
— Isso é o que ele diz. — Amelie cruza os braços.
— Cínica. — Isaac engasga, ainda sob o olhar ameaçador do pai.
Como isso aconteceu?
Como essa viagem se tornou esse caos?
— Ah, cala a boca. — Ela revira os olhos. — Vai bancar o santo agora? Você viajou só pra transar com uma garota estranha e que ainda por cima é mãe.
— Que decepção, Isaac!
— Isaac, se você for o pai dessa criança... — O homem começa.
— Parem! — Grito. — Parem de agir como se eu fosse nada. Isaac não é pai do meu filho e não veio por mim. Ele veio à passeio, e agora sei porque, com pais como vocês...
— Não ache que tem o direito de se meter, desconhecida. — A mãe dele grunhe. — Acabou essa palhaçada. Independente do motivo, ele veio e mentiu. Agora vai arcar com as consequências.
— Vai terminar os estudos no colégio dominical e depois para uma faculdade na Escócia. Lá eles vão tratar de lixos como você. — O pai cospe. — Vai virar homem.
— E coitado de você se tentar fugir, Isaac. Coitado de você! — A mulher acrescenta, odiosa.
Engulo em seco.
Meu coração já nem sabe como bater em um ritmo normal. Estou tremendo e não é pouco. Com tanto sangue, tanta raiva, tanta mentira. Quero vomitar.
Olho para Isaac no chão.
Não sei o que sentir. Tão decepcionada que sequer entendo o motivo de ainda estar aqui, de ter sido idiota ao ponto de me preocupar.
Ele levanta os olhos até mim, o constrangimento, a culpa...Elas me batem na mesma intensidade do soco que, provavelmente, quebrou seu nariz.
A lembrança da nossa primeira noite passando por nós, gargalhando com deboche.
Seja sincero.
Eu só pedi isso.
Uma única coisa.
Eu fiz de tudo e em troca fiz um pedido.
— Isaac, por quê?
Não reconheço minha voz.
Não me reconheço.
— Porque é isso que ele é. — O homem responde. — Um pedaço de asco mentiroso.
Porque todos são.
Porque todos mentem.
Vacilo em passos para trás, voltando por onde nunca deveria ter entrado.
Saio pela porta e então corro. Corro para a bolha que fugi, para o comodismo que larguei por uma aventura. Para os braços de meu pai, que doutora Ana culpa por eu me fechar, para um filho, que não deveria ter tido, mas tenho, para uma amiga, que perdoo, mas em quem não confio mais. Corro da mentira e para a mentira.
Corro para o que não tenho saída, mas que escolho.
Pois aquele quarto de hotel irradia toxicidade e com isso é o que não posso lidar.
∞
Desculpe os erros.
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Via Internet
Teen FictionAos quinze anos, Ana Julia é só mais uma garota grávida, a qual não planejara a gestação precoce. Abandonada pelo namorado, amigos e a vida a qual considerava a melhor, Ana, se vê só, tendo de lidar com as mudanças físicas e psicológicas, entrando n...