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A pior parte de se estar grávida na adolescência é ver como a vida das pessoas andam e a sua parece estagnada. Parada no tempo. Como se tivessem te substituído por alguém que você não queria ser, mas é e tem que lidar com isso.

Todo santo dia alguém me para com comentários tipo: "é uma pena" ou "tão jovem, tinha muito pela frente".

Como se estar grávida fosse a morte.

E eu sei que é!

Eu perdi minha vida e sou uma das maiores culpadas nisso. Se tivesse sido diferente, se eu pudesse voltar atrás. Talvez ainda fosse namorada de Theo. Talvez uma universidade estivesse de olho em mim no ano que vem.

Estou presa. Definitivamente.

Para sempre.

Por isso eu não culpo os lamentos. Não é ignorância, é a verdade e um fodido soco na cara.

Aquela noite não me traz lembranças ruins, foram bons tempos, mas as semanas seguintes as piores. Piores do que as dores que carrego ou dos olhares que me perseguem. Angustiantes e cheia de pressão. Theo sabia que eu estava grávida antes mesmo de eu lhe avisar sobre o atraso na minha menstruação. Ele passava dias planejando sua resposta quando me perguntava durante todas as manhãs por mensagem: "E aí? Desceu?".

Continuo sem entender o porquê. Quer dizer, se de qualquer forma ele não iria assumir a criança, por que se preocupar?

Ele não está tão na merda quanto eu.

Confesso ter cogitado o aborto, pensei tanto nisso que deve ter saído fumaça do meu cérebro. Tanto que os meses passaram e eu me dei conta que era tarde.

Hoje não fui à aula, quero evitar ver o senhor Trenton, mas também porque acordei com falsas contrações. No entanto, não posso faltar ao trabalho, nem tampouco levar minha cama comigo.

Levanto porque é o jeito.

Me arrumo no ritmo de uma tartaruga filhote.

Rabo de cavalo, calça legging e camiseta.

Doei os shorts e jeans já tem algum tempo, meu guarda-roupa agora se parece com o de uma solteirona.

Pego o ônibus das uma e quinze e chego no trabalho às uma e quarenta. Não é tarde, mas também não é exatamente pontual.

Mark me lança um olhar frio quando passo por ele e eu controlo minha vontade de lhe erguer o dedo do meio.

Não entendo como sua esposa o aguenta (eu sei que é casado porque há um anel grosso e dourado no seu dedo). O cara é insuportável e depois de um dia cheio deve ser ainda pior. A não ser que ela seja duas vezes mais.

Graças a Deus, o mercado não está tão cheio como de costume. Posso manter um ritmo ameno de compras bipadas e ainda mastigar uma barrinha de cereal.

Quando chegar os nove meses de gestação largarei o posto, mas não necessariamente serei demitida. Apesar de um atraso ou outro, sou competente. E por mais que Mark não admita, útil, mesmo com uma barriga enorme no caminho.

— Boa tarde. — Cumprimento um dos clientes sem erguer o olhar, pegando a garrafa de energético na esteira. O código de barras não passa e preciso apertar a vista para digitar os pequenos números minúsculos.

— Que vida. — A voz abafada por um cigarro apagado entre os lábios me causa calafrios. Encaro os olhos azuis inexpressivos, listando os possíveis motivos de ele estar em um supermercado a dez quadras de sua casa. O que se sobressai ecoa como alerta em minha cabeça: me humilhar.

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