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— O que vocês acham? — Papai pergunta após terminar de colocar o papel de parede no quarto de Chris.

— Ainda acho que deveriam ser carros. — Theo diz, deitado no chão enquanto brinca com o bebê gorducho em seu peito.

Chris está com nove meses e ele é idêntico ao pai. Tipo, muito parecido mesmo. O cabelo claro, os olhos, a boca, o sorriso. Me enganei ao acreditar que tínhamos o mínimo de semelhança, toda sua genética pertence a Theodore e ele se gaba por isso.

— Ele pode não gostar de carros. — Argumento. — Listras são melhores e Chris nem precisa mudar quando crescer, é para todas as idades. Sem contar que vai combinar com os abajures de nuvens das paredes.

— Eu concordo. — Papai aponta para mim com o lápis que usou para as medidas.

— Desculpa. Desculpa. Desculpa. — Uma Lucy ofegante e suada aparece na porta do quarto cheia de sacolas.

— O que aconteceu com você? — Pergunto com humor.

— Eu estava vindo para cá e passei em frente uma loja incrível de brinquedos. Pensei logo em Christian! — Larga as sacolas no chão, fazendo uma careta quando o barulho das compras ecoa no quarto ao baterem no piso.

— Lá se vão os brinquedos. — Theo se levanta, se aproximando para beijá-la.

Acabou que a "diversão" deles durou mais que o esperado.

Theo não sai mais com Cacau, ela até sumiu do colégio. Na verdade, não a vejo desde que voltei. Ele também se afastou daqueles amigos de merda, e, sem que percebesse, passamos a ser um trio nos corredores e no intervalo. Ao menos eles tem um pouco de consideração e não me deixam de vela.

Estou gostando disso.

Theo não é o mesmo, com Lucy, então. Nunca mais pegou num cigarro, nunca mais bebeu. Ela é o melhor no pior.

Segui os conselhos de Ana e, com muito custo, coloquei Chris na creche. Apesar do medo inicial, consegui confiar nas cuidadoras. Ele tem se desenvolvido bastante, e sempre volta com um sorriso no rosto para casa.

Meu desempenho na escola melhorou, e mais uma vez me tornei a queridinha dos professores. Senhor Trenton que o diga, ele que antes vivia pegando no meu pé, é o que mais me elogia até então.

Logo terminarei o ensino médio e espero continuar da mesma forma na faculdade.

Enfim escolhi o que quero cursar. Nada parecido com as opções de antes, mas algo voltado totalmente à área de humanas. Psicologia. Mais uma Ana no ramo.

Sem mentiras.

Pessoas que desabafem, que confiem em mim.

— Urgh, Ana, o que você deu pra esse menino? — Theo faz uma careta ao levantar Chris pelas axilas e aproximar o rosto.

— Tá podre. — Lucy tapa o nariz.

Rio, indo até eles para tomar o bebê nos braços. Ele sorri, começando a puxar as pontas do meu cabelo, como adora fazer.

— Eu fico sempre com a pior parte, não é?

— Vai lá, mamãe! 

— Até você, pai? — Lamento.

Eles riem quando saio do quarto em reforma e vou para o meu.

— Ei, você está mesmo podrinho. — Pego a toalha que uso para proteger a cama quando o troco e depois o deito sobre a mesma.

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora