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Minha médica não consegue esconder a surpresa quando é Theodore que entra comigo no consultório e não meu pai. Eu nunca o mencionei, e a única pergunta em relação ao pai do meu filho que ela fez no primeiro mês, foi se eu tinha um parceiro.

— Tem sentido dores? — Pergunta, aplicando o gel gelado em minha barriga. Tento não olhar para Theo ao meu lado.

— Não desde a última consulta.

— Vou pedir para que faça mais alguns exames, de sangue e de urina.

— Algum problema? — Ouço Theo perguntar.

— É apenas algo de rotina. Temos que ter certeza que o pequeno aqui não está planejando sair antes da hora.

As batidas do coração minúsculo, porém forte, reverberam na máquina de ultrassom. Manchas brancas, que para mim são quase indecifráveis, aparecem no monitor.

— Se o bebê der indícios que vai nascer antes da hora, há alguma chance de ser cesariana? — Pergunto por cima dos batimentos.

— Depende de como seu corpo vai reagir, envolve a dilatação, a posição da criança...

— Eu corro algum risco? — Engulo seco.

A médica desvia o olhar do monitor e pousa sobre mim. Então, sobe até Theo.

— A medicina avança de muitas formas todos os dias, ainda assim, nada é capaz de mudar algo tão natural como as reações do corpo na hora de dar a luz. Você é saudável, mas muito jovem, um parto exige muito de uma mulher. — Diz por fim.

Suspiro.

Está bem. Eu não descartei essa possibilidade.

Sinto a mão de Theo pressionar meu ombro e não sei se fico com mais raiva ou me permito relaxar. Oscilo entre os dois.

— Se caso algo acontecer...

— Não vai acontecer. — Theo me interrompe. — Não é? — Espera a confirmação da médica.

— Não, não vai. Continue tomando suas vitaminas e vindo aqui regularmente. Está tomando as vacinas?

— Sim.

— Ótimo. — Limpa minha barriga com um papel toalha. — O bebê está bem. Logo estará posicionado.

E se não estiver?

E se for necessário fazer cesariana e algo acontecer?

Ou eu não aguentar um parto natural?

E se eu morrer?

Ou se o bebê...

Não.

Respire, Ana.

Está tudo bem.

A doutora já disse.

Vou conseguir.

Eu consegui até agora, não?

Ela me passa uma guia para poder marcar os exames e depois disso me libera.

Voltar para o carro com Theo é ainda pior do que a ida. Eu sinto seu olhar me queimando e não gosto disso.

— Ana — Começa quando coloco o cinto. Apertado na barriga. — Você não está preocupada, está?

— Estou bem, Theo. — Olho para os outros carros no estacionamento, apoiando o cotovelo na porta.

— Não parece.

Rio nasalado, e isso sai mais amargo do que esperava.

— O que você queria, Theodore? — Me viro irritada. — Eu sou uma grávida de dezesseis anos, não tô preparada física e psicologicamente para isso. Mas está tudo bem, não é? Quantas garotas não estão grávidas aos dezesseis ou até mesmo já tem uma família de cinco filhos?! Foda, você e suas perguntas ridículas. — Bufo, jogando as costas contra o estofado.

Pessoas entram e saem do hospital. Mães, prontas para serem mães, e pais felizes por serem pais. Vidas planejadas.

Suspiro.

— Apenas me leve para casa. — Peço baixinho.

Ele fica em silêncio, sem emitir quaisquer ruídos ou retrucar de maneira afiada meu desabafo. O que é algo novo, porque Theo jamais é tratado como petulante. Dá partida e então saímos do estacionamento.

(...)

Não estamos na rota da minha casa.

— Onde está indo? — Indago após longo silêncio.

— Vamos comer alguma coisa. — Diz com os olhos fixos na estrada.

Arqueio uma das sobrancelhas, mesmo que não possa ver.

— Não vou comer nada com você. Eu quero ir para casa.

— Vou te levar para casa depois que comermos.

— Theodore? — O encaro com desdém.

— Ana Julia? É só o drive thru do Mc Donalds, você vai morrer até lá?

— Bem, como posso ter certeza? Estou dentro de um carro com você.

— Ah, vai se foder. — Gira o volante na entrada do restaurante.

— Desculpe?

— É isso aí, vai se foder. Eu posso ser um merda mas não te faria mal. Você sabe disso.

— Eu não sei de nada sobre você. — Cuspo.

— Ok.

O "ok" preguiçoso que sempre definia o fim de nossas brigas. E que agora não é diferente.

Cruzo os braços.

Instantes depois os carros da frente andam e nos aproximamos do cardápio.

— O que você quer? — Pergunta sem vontade.

Balanço os ombros.

— Infantil. — Murmura.

Cuzão.

Chega nossa vez.

E eu sei que é idiota da minha parte precisar apertar os lábios para não sorrir quando ele pede nuggets, fritas e milk-shake de morango para mim. É o que eu sempre comia quando saíamos do cinema cheios de fome. "Comida de criança", dizia Theo.

O bebê chuta.

Acho que ele gosta da sugestão.

Pensar que ele não esqueceu esse pequeno detalhe banal sobre mim me deixa entre raiva e coração apertado. Não tínhamos muito para sermos um casal feliz igual aos de novela mexicana, mas nosso pouco significava algo. Pelo menos para mim.

Às vezes me pego me perguntando em silêncio:

Será que fui a única?

Será que Theo não tem outros filhos espalhados por aí aos quais abandonou?

Eu de fato o desconheço.

Tudo que sabia sobre ele foi o que criei na minha cabeça.

O mesmo me entrega a sacola de papel pardo e a caixinha com os copos de refrigerante e milk-shake.

Eu seguro firme contra a barriga redonda e enorme quando o carro volta a se movimentar.

Não sei para onde vamos agora, mas me concentro exclusivamente na comida e no cheiro maravilhoso de batata-frita. Não me lembro de ter almoçado direito, estou faminta.

Minutos depois, Theo para novamente.

Ergo o olhar.

— Não vamos comer aqui, vamos?

— Vamos. — Tira o cinto, pega a sacola e a caixinha de minhas mãos e depois sai. Direto para o lugar onde demos nosso primeiro beijo.

Desculpe os erros. 

Via InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora