❝O que ele ansiava era a escuridão feita pelos braços envolventes, o silêncio que não é solidão, mas compaixão que prende a sua respiração. ❞
- Edith Wharton
Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 15
————————
Nova York, 12 de janeiro de 2001.
Lin caminhava com Cheng pelas ruas de Nova York no seu regresso a casa. O seu irmão estava demasiado ocupado a pensar em como iria convencer os seus pais a deixá-lo ir à festa dos quinze anos da garota que gostava, e, por outro lado, Lin estava ansiosamente a pensar em como deveria mostrar-lhes outra nota abaixo da média. Ambos caminhavam lado a lado, embora não dissessem nada durante todo o caminho; presos nas suas próprias mentes.
Quando chegaram à frente da porta de entrada, o passo de Lin cessou por um breve momento, segurando a camiseta do irmão mais velho e fitando-o diretamente nos olhos escuros. ''O que eu falo?'', perguntou baixo, sendo a ansiedade clara no seu tom.
— Apenas diga que fez o seu melhor. — Cheng respondeu-lhe com um sorriso, desordenando os seus cabelos, ouvindo-o resmungar como resposta enquanto abria a porta. — Ela vai entender...
— Não sei... — Respirou fundo, logo vendo a sua mãe de costas na cozinha; parecia preparar algum lanche para os dois.
''Oi, mãe'', ambos disseram ao mesmo tempo, fazendo a mulher virar-se. Um sorriso apareceu no seu rosto ao aproximar-se dos rapazes, e abraçou-os, embora o seu olhar se tivesse fixado em Lin, já sabendo o que aquela expressão significava. A mulher de cabelos escuros pôs a mão no seu ombro, agachando-se ligeiramente à sua frente para que ficasse à altura do menino de doze anos.
— Tem algo para me dizer, querido?
Cheng somente mantinha o olhar fixo em Lin, sabendo que tentaria o defender caso ela se irritasse.
— Mãe, eu só quero dizer que... — Deu um passo para trás, tirando a mochila das costas e pegando a prova. — Eu... Eu dei o meu... O meu melhor... — Embaralhou-se completamente para falar, mal a olhando nos olhos.
A expressão da mulher mudou um pouco quando pegou a prova com certa brutalidade, observando o grande e vermelho ''F''. Um longo suspiro de decepção saiu dos seus lábios ao mesmo tempo em que levava a mão até o próprio rosto ao ver as questões que Lin havia errado. ''Querido, eu estava te ensinando isso ontem... '', sussurrou mais para si mesma, vendo o garotinho apenas assentir de cabeça baixa, envergonhado.
— Eu sei, eu sei... Mas... Mas na hora eu fiquei nervoso, e...
— De novo, Lin? — O seu tom ergueu-se um pouco, logo direcionando o seu olhar para Cheng, que compreendeu o recado e subiu as escadas rapidamente antes que ela gritasse. — Filho, é a quinta vez que me dá essa mesma desculpa. Você quer reprovar de ano, é isso? Sabe que não podemos pagar por uma professora particular para você em todas as matérias.
— Mas... Não é desculpa... — Continuava a olhar para baixo, levando os seus braços para frente do seu corpo, mexendo ansiadamente nas próprias mãos. — Eu juro que não é...
— Olhe para mim enquanto falo. — Deixou a prova no chão e ajoelhou-se, segurando-o fortemente pelos ombros para que a fitasse. — O seu pai teve que vir até aqui a trabalho, você tem idade o suficiente para entender isso, querido. Não queríamos ir embora da China. Sei que tinha amigos por lá, mas você era muito novo, pensávamos que nem teria muitas lembranças. Estamos aqui há seis anos, querido, seis anos. — Respirou fundo. — E desde que chegamos, você está na mesma escola. Qual é o problema então, Lin? Quer chamar a nossa atenção, é isso?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando as Luzes se Apagam
Romance"Quem é você quando não há ninguém por perto?" Lin Yi, um pintor renomado sob o pseudônimo He, vê seu mundo perder a cor após a morte trágica de seu irmão. Desesperado e desmotivado, ele vai até o telhado de seu prédio, pronto para desistir de tudo...