Tʀᴀɪᴅᴏʀ

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❝Às vezes sinto que não sou sólido, sou vazio. Não há nada por trás dos meus olhos. Sou uma pessoa negativa. Tudo o que eu quero é escuridão, escuridão e silêncio. ❞

- Sylvia Plath

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 13

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Nova York, 30 de março de 2018.

Eu sou o rapaz que o salvou há quatro anos! — Disse no auge do desespero, fazendo com que os olhos de Lin se arregalassem. — O rapaz que o levou para tomar um café e nunca mais apareceu novamente. Eu sou ele!

— Não... Isto é... Isto não é possível... Você não pode ser ele...

Lin virou-se, aproximando-se lentamente, como se estivesse de novo em frente de um estranho. Como se não fosse Ari Gandhi que estivesse à sua frente neste momento, mas aquele estranho com a face distorcida das suas memórias. Passara tanto tempo que só conseguia lembrar-se do seu abraço, de como era senti-lo, mas não da sua aparência. Era impossível que o modelo que lhe tinha sido rude fosse o mesmo estranho com um abraço caloroso. A calmaria no meio do seu caos.

— Eu... Queria esperar para te dizer isso, mas não tive escolha...

— Isto não é possível. O que eu estava vestindo naquele dia? — Estava completamente desacreditado, buscando qualquer beirada da realidade que pudesse segurar-se para não cair no abismo que esteve sempre tentando evitar.

— Estava frio. Você estava vestindo apenas uma camiseta branca, lembro que isso me chamou a atenção. Havia ataduras em seus braços. Seu cabelo estava mais curto... E provavelmente não estava solto. Você me olhou com horror, e então um sorriso triste apareceu em seu rosto. E... Naquele momento, percebi que você era a pessoa mais linda e mais triste que já vi em toda a minha vida.

Lin evitou olhar ainda mais para Ari, qualquer contato visual fazia-o tremer ainda mais por puro desespero. Como aquilo sequer era possível? Como o tal Ari Gandhi estava no mesmo edifício decrépito que o seu? E por que o salvaria? Por que diabos salvaria um desconhecido?

— Por que estava lá...? — Perguntou, dando mais um passo para trás.

— Eu morava lá. Você se mudou e eu já estava lá. Nós nos encontramos pela primeira vez, por coincidência, em um elevador. Eu tinha 15 anos. Você sorriu para mim. — Ari tentou dar um passo para frente, como se estivesse à frente de um gato de rua assustado. — Eu o via desenhar nas escadarias. Você nunca ligou para mim e nunca escutou quando eu dizia: "bom dia". Às vezes eu o via indo para o telhado. Eu morava no último andar. Eu podia ouvir a porta fechar, e de alguma forma, eu sempre sabia que era você.

— Não... Não...

— Eu queria falar com você, mas não tinha a menor noção de como abordar o assunto. E, por acaso, conheci seu irmão porque eu tinha uma amiga que também era amiga dele. — Lin franziu o cenho. — Eu tinha 17 anos. Ele disse que eu era muito jovem. Eu disse que queria conhecê-lo, mas... Ele disse que só falaria de mim a você quando achasse que eu fosse maduro o suficiente para isso.

A memória de Cheng mostrando-lhe Ari Gandhi veio-lhe de novo à mente como um disparo, lhe estilhaçando o peito. Como nunca o tinha notado nos corredores, era óbvio que não iria reconhecer aquele modelo em ascensão como seu vizinho. O seu irmão apenas fez questão de mostrá-lo para ver a sua reação, mas certamente não pensou que o interesse despertaria em He, e não em Lin. Se não tivesse o visto naquela exposição e o abordasse como o seu vizinho, provavelmente as coisas seriam muito diferentes agora. Se apenas soubesse... Se apenas soubesse disso na época.

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora