Tᴇɴᴛᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ

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Eu não sabia o que era querer algo, desejar algo com tanta veemência que você sente a sua alma te rasgando de dentro para fora, tentando alcançá-lo. Eu não sabia como era querer algo tão desesperadamente que o seu coração chega a doer com a sua ausência. Naquela noite, eu ansiei pelo seu toque como se você fosse de outro universo, bem longe aqui. Eu ansiei pelo seu toque tanto que eu repeti na minha mente, como um feitiço, como um mantra: toque-me. ❞

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 18

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Nova York, 01 de setembro de 2010.

Neil despediu-se de Ari com um sorriso no rosto, observando-o mudar o trajeto até sumir da sua vista e mesclar-se com o resto das pessoas. Respirou fundo então, tirando a felicidade do rosto no mesmo instante e dirigindo-se para a sua morada. Fechou os olhos assim que encostou a mão na maçaneta fria, cruzando os dedos para que nada houvesse acontecido no tempo que estava fora.

E então abriu a porta, espreitando toda a sala de estar e cozinha com um olhar preocupado, não encontrando a sua mãe de primeira vista. ''Mãe?'', chamou-a, mas obviamente não obteve nenhuma resposta.

Com as mãos tremendo de preocupação, tirou a sua mochila e jogou-a no sofá, logo se direcionando para os quartos, onde a encontrou sentada na cama, fitando a parede diretamente. Um suspiro escapou-lhe dos lábios, como se finalmente pudesse respirar outra vez enquanto aproximava-se da mulher, pondo-se à sua frente, mas a mesma não teve reação alguma, somente permaneceu olhando para frente como se o garoto não estivesse lá.

— O que é isso? — De repente ela abriu a boca; a voz de alguém que não falava há muito tempo, arrastada e lânguida.

Os dedos magros e compridos da mulher apontaram para alguns hematomas que havia no seu braço, fazendo-o franzir o cenho e apenas dar de ombros com um sorriso tranquilizador no rosto. Ela não precisava saber dos detalhes, contanto que conseguisse trazer algo para casa, era tudo que importava e tudo que ela deveria saber.

— Eu caí. — Mentiu, sentando-se ao seu lado.

Ania era seu nome. Outrora fora uma mulher belíssima, no entanto, no dado presente, era apenas uma concha vazia do que costumava ser. Cabelos escuros e lisos chegavam até à sua cintura, sempre fazendo com que Neil sentisse-se mal ao penteá-los, por conta da quantidade que caía. O rosto franzino, com bochechas delineadas pela magreza mascaravam a formosura que alguma vez esteve presente por lá; os olhos cansados, com profundas olheiras sempre pareciam vazios, como se toda a vida que poderia haver por detrás deles tinha sido sugada por todos os anos trabalhando com os piores tipos de pessoas nas ruas de Nova York.

Ela possuía as mesmas duas pintas sob o olho, as mesmas de Neil. Por vezes sorria ao vê-las, sabendo que quando ela se fosse, seria uma das poucas lembranças que teria que aquela mulher, na verdade, era de fato a sua mãe. O rapaz respirou fundo, encostando a cabeça no ombro magro do que parecia ser um fantasma ao seu lado, e como resposta, ouviu-a grunhir.

— Eu queria que você me amasse. — Disse de repente, ouvindo uma exclamação de surpresa vindo dela; uma das poucas reações que tinha. — Sei que... Na sua mente, você pensa que seria melhor se eu nunca tivesse nascido. Mas eu queria que me amasse. — Olhou para o chão. — Às vezes, quando vou à casa do Ari... Eu... — Uma lágrima escorreu pela sua bochecha de modo involuntário. — Eu... Eu fico pensando como seria ter uma mãe presente... E dói... Dói muito.

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora