Jᴇʀᴇᴍʏ

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❝E então, de repente ele sentiu como se fosse um fantasma em sua própria vida. ❞

ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 8

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Nova York, 11 de março de 2018.

Ao perceber que se tratava de Jeremy, a reação inicial de Lin foi pegar o celular com apreensão e ligar para Raihan. Aguardou ansiosamente a ligação, andando em círculos pelo apartamento e, depois do que pareceu uma eternidade, finalmente foi atendido.

À medida que colocava todos os pensamentos em ordem a fim de comunicar o que havia visto para o seu amigo, somente foi à cozinha para continuar tomando a água que havia colocado no copo há alguns minutos.

— Pode falar?

— Não, atendi ao telefone apenas pra falar que estou ocupado. — Lin revirou os olhos, mas riu. — Posso falar, sim. Qual é a treta?

— É... É sobre a Helen. — Ouviu o tom brincalhão cessar no outro lado da linha. — Eu a vi passeando com um cara, e eu juro que eles estavam próximos dema-.

— Ah não, Lin. — Raihan resmungou. — Sei que pra alguém que não é muito acostumado a se relacionar com outros seres humanos pode ser complicado de entender que... Sabe, se você se relaciona com alguém, essa pessoa ainda pode ter amigos.

— Não é isso, porra. — Grunhiu, pressionando os dedos contra a palma da mão. — É porque eu conheço o cara.

— Tá, vamos lá. Como ele é?

— Alto, magro, louro e...

— Usa óculos e tem cara de quem está puto o tempo todo?

— Sim, exatamente. Espera, como você sabe?

— É o irmão dela.

Quê.

O copo escorregou da sua mão tão rapidamente quanto à informação lhe tinha entrado nos ouvidos. Partiu-se em centenas de pedaços no chão, e como estava sem meia ou sapato, não conseguiu evitar que alguns pedaços lhe ferissem.

— Caralho! — Gritou em meio a um resmungo de dor ao ter pisado num dos cacos.

— Que porra você fez, meu Deus?

— Acabei de quebrar, ai, cacete, a porra de um copo! — Afastou-se um pouco do vidro.

— Parabéns. Eu nunca duvidei da sua capacidade. — Ouviu-o rindo do outro lado. — Cuidado pra não se cortar!

— Tarde demais. — Suspirou. — Vou dar um jeito nisso, depois falo com você.

— Tá bem, tchauzinho.

— Tchau.

Lin desligou a chamada e delicadamente depositou o celular sobre o sofá. Mancando levemente, dirigiu-se até o móvel e sentou-se. Um suspiro escapou de seus lábios ao avistar um pedaço de vidro cravado em seu pé.

— Eu mereço. — Fechou os olhos, retirando-o de uma só vez enquanto sofreava um gemido de dor.

Pegou-o e ficou encarando-o por meros instantes, intercalando o olhar para a cicatriz nos seus pulsos. Sentiu o ar faltar nos seus pulmões com a lembrança e apenas deixou o estilhaço de vidro longe de si para evitar qualquer besteira. Logo em seguida, mancou até o banheiro em busca de algo que pudesse estancar o ferimento, não almejando que o chão de seu apartamento se transformasse em uma obra de arte abstrata.

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora