Aᴛᴀϙᴜᴇ

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❝ Diga-me que vou morrer, que o sol vai explodir, que o mundo está acabando e não há nada que eu possa fazer a respeito disso. Porque se eu ouvir "vai ficar tudo bem" mais uma vez eu vou gritar. ❞

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 31

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Nova York, 12 de maio de 2018.

— Filho da puta. — Disse, não querendo mais ouvir a voz do rapaz no outro lado da linha, não queria ouvir nada vindo dele, nem mesmo sua respiração, nada. Queria que ele deixasse de existir enquanto desligava a chamada com rapidez.

A sua mãe estava certa. Por que Ari ficaria com alguém como si se havia tantos modelos melhores por aí? Dos quais ele poderia ter num estalar de dedos. Por que ele genuinamente escolheria a si? É claro que não fazia sentido. Era aquele gosto amargo que ele sempre tinha tentado ignorar, mascarar com coisas doces, tão doces que lhe podiam dar diabetes, mas tinha estado sempre lá, lembrando-lhe que algo não se encaixava. Que alguma coisa não fazia sentido. E agora ele tinha compreendido precisamente o que não se encaixava.

Era ele. Aquele que nunca tinha se encaixado nesta história estúpida de romance adolescente. Havia uma razão para não se envolver com os outros, para não se deixar levar, de perder esse medo de amar, e o que tinha acontecido mostrava-lhe muito bem porquê. Haveria sempre alguém melhor. Sempre. Por mais que ele tentasse, haveria sempre alguém superior. Como lhe tinha sido provado durante toda a sua infância.

Qualquer um poderia ser melhor do que era. Não precisava nem esforçar-se. Apenas era.

Os seus olhos vagueavam pelo seu quarto, que de repente parecia muito maior do que realmente era. À medida que as suas unhas lentamente penetravam a pele do seu braço, viu-se estático olhando para a janela. Dominique. Era tudo que passava pela sua mente. O nome dela. Aquele maldito nome.

Finn tinha-lhe mencionado a sua existência, e rezou para que não a encontrasse em Paris. Nunca tinha sido um homem para rezar, mas quando o avião decolou, quando lhe enviou a última mensagem que indicava que estava em Nova York, rezou para não o perder. Pela primeira vez, ajoelhou-se para rezar e pedir aos céus que não o perdesse outra vez. Para que o mantivessem ao seu lado. Mas rezar não mudou em nada. Pateticamente implorar aos céus não lhe tinha feito bem nenhum.

Grunhiu quando sentiu as suas unhas cobertas de sangue. Respirou fundo quando percebeu quão profundamente tinha penetrado a sua própria pele sem sequer se aperceber. Isto era perigoso. Começou assim da última vez. ''Não, não... '', murmurou para si mesmo, afastando a mão do seu braço e percebendo a marca profunda das suas unhas. Não poderia estar regredindo. Não poderia estar voltando àqueles hábitos. Lutou tanto para eliminá-los, não poderia estar tendo uma recaída justo agora.

Negou com a cabeça diversas vezes enquanto tentava limpar o sangue que escorria com as próprias mãos, mesmo que tenha mais o espalhado do que de fato limpado. Olhou para o seu celular, que permanecia com a tela ligada no contato de Ari. Ao ver o ícone ''digitando'', aparecer no canto superior do seu contato, a sua respiração falhou e todo o seu corpo pareceu entrar num modo automático. Não queria saber quais desculpas ele iria arranjar, não queria saber de nada. Não queria nada vindo de Ari Gandhi e se conseguisse, simplesmente bloquearia o seu contato e tentaria viver a sua vida como se nunca tivesse o visto antes, no entanto...

De repente, ele parou de digitar.

Os olhos de Lin se fixaram no celular por mais uns instantes até um áudio surgir. Eram poucos segundos. O que ele deveria estar falando? Não, não queria saber. Poderia ser algo importante. Ainda assim, não valia o esforço. Mas, e se...

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora