Aᴄᴏʀᴅᴏ

705 96 262
                                    

❝Eu me tornei bom em fingir. Tornei-me tão bom que depois de um tempo as linhas entre minha verdade e a ficção se desfizeram. E às vezes, quando eu fazia um trabalho realmente bom fingindo, eu até me enganava. ❞

— Ruta Sepetys

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 14

————————

Nova York, 17 de março de 2009.

Ari estava sentado num banco numa praça, a espreitar ansiosamente em cada esquina possível à espera do seu amigo. Precisava lhe contar a sua notícia, precisava lhe contar sobre o homem que tinha encontrado no elevador há alguns dias atrás. Tinha de lhe contar como tinha sentido algo diferente por um homem pela primeira vez, como o seu sorriso o tinha hipnotizado.

Assim que viu o jovem loiro aproximar-se, um sorriso veio-lhe à cara e levantou-se apressadamente do banco, aproximando-se do rapaz e segurando-o pelos ombros, puxando-o depois para um abraço amigável, que foi imediatamente retribuído.

— Neil, meu Deus do céu, você está péssimo. — Foi a primeira coisa que disse assim que afastou-se, olhando o rosto do jovem um pouco mais de perto. — Jesus.

— Eu sei, eu sei, tá bem ruim. — Sorriu de nervosismo, dando um passo para trás e cobrindo as marcas que estavam no seu pescoço com a gola da sua camiseta. — Mas liga, não. Logo passa. — Deu de ombros. — Você não me chamou aqui pra isso, vai, me fala o que queria dizer.

— Não, não. — Ari negou, ainda incrédulo com o seu estado. — O seu bem-estar vem em primeiro lugar. — Neil respirou fundo. — Ainda está saindo com ele, é isso, não é? Ele quem está fazendo isso com você.

— Não liga para isso. — Insistiu, sentando-se no banco e resmungando. — Eu já te disse que... Que tá tudo bem. O acordo é esse. Eu recebo a grana e ele faz o que quiser. — Deu de ombros. — Temos limites, mas...

— Ele sabe que você tem quinze? — Neil comprimiu os lábios, cruzando os braços e desviando o olhar logo em seguida. — Você não pode enganá-lo para sempre, sabe disso... Neil, você não pode mexer com um cara daqueles. Apenas diz a verdade de uma vez por todas, isso foi longe demais.

— E o que você quer que eu faça? — A sua voz ficou chorosa de repente. — Que merda você quer que eu faça, Ari? Eu... Eu preciso cuidar da minha mãe, sabe disso. Eu já me fodo porque preciso ir para a escola e eu não sei o que ela faz nesse meio-tempo, imagina se eu tentasse arranjar um emprego! No primeiro dia eu a encontraria morta com uma agulha no braço. Apesar de tudo, ela ainda é a minha mãe.

Ari fitou o amigo com pena e em seguida sentou-se ao seu lado, puxando-a para mais perto a ponto de deixá-lo encostar a cabeça no seu ombro. A sua situação era complicada, não podia negar nisso, mas era como se a cada dia que de passasse, Neil piorasse ainda mais as coisas.

— O que ele fez dessa vez?

— Mesma coisa de sempre. Primeiro derrama os problemas da vida dele no meu colo. Pede que eu não fale nada, já que não gosta da minha voz. — Deu de ombros. — E depois... Bem, você sabe. Ele tentou me enforcar, eu acho. — Ari fitou-o diretamente nos seus olhos azuis, mas eles estavam distantes. — Mas eu vi ódio nele. Eu senti o ódio dele.

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora