Rᴇᴄᴏᴍᴇᴄ̧ᴏ

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❝Cada nascer do sol lhe dá uma oportunidade de começar de novo. ❞

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 1

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Nova York, 24 de fevereiro de 2018.

Lin sempre detestou seguir rotinas, mas quando percebeu que não tinha dinheiro nem mesmo para manter a espelunca onde vivia, foi obrigado a voltar aos seus dias do ensino médio, onde trabalhava em todas as lojas imagináveis.

No entanto, mesmo odiando seguir horários, hoje ele despertou ainda mais cedo do que o habitual, provavelmente devido à ansiedade que sentia se espalhar pelo seu corpo a cada minuto que passava. Assim, ele respira fundo, virando-se para o lado contrário da cama e observando os números esverdeados e brilhantes do relógio que iluminavam o seu quarto ainda escuro.

4h02min da manhã.

Ele se virou novamente, agarrando um travesseiro e pressionando-o contra a cabeça, na esperança de conseguir mais algumas horas de sono com a crescente falta de ar, porém não funcionou. Com um grunhido de puro descontentamento, Lin levantou-se, permanecendo alguns minutos sentado à beira da cama, olhando para o nada enquanto esfregava os olhos, tentando habituar-se à mais ligeira claridade que já entrava pelas brechas da cortina.

Quando se levantou, a primeira coisa que fez foi abri-las. O sol ainda não tinha nascido, mas era possível ver alguns feixes da sua presença a aparecer no horizonte. Dez anos vivendo naquele mesmo apartamento e, no entanto, a vista coberta por edifícios deixava sempre um gosto amargo na sua boca.

Odiava a cidade e, se pudesse, venderia o pouco que tinha para viver no meio do campo, rodeado pelo silêncio mais belo e encantador. Lamentavelmente, ele não havia realizado esse sonho quando teve a chance, anos atrás.

Naquela época, ele sentia que não deveria exacerbar a grana que tinha. Quando possuía ânimo para ser o "He", possuía dinheiro suficiente para viver nos melhores apartamentos de Nova York, porém nunca se mudou do lixo em que vive desde os seus vinte anos.

Agora, ele apenas contempla as oportunidades que deixou escapar, refletindo sobre o que poderia ter acontecido se tivesse sido mais despreocupado com suas finanças, como tantas outras pessoas. Afastando de vez esses pensamentos, ele parte ao banheiro. Como era o seu primeiro dia, pegou uma camisa social branca e uma calça preta que provavelmente estava mais justa e curta do que gostaria.

Deveria comprar roupas novas o mais breve possível, pensou.

Depois foi para o banho, desfrutando da única coisa que era boa naquele apartamento. O chuveiro. Era uma das poucas coisas nas quais ele realmente tinha investido ao longo de todos aqueles anos. Nada se comparava à sensação reconfortante de um banho relaxante.

Quando ainda pintava, os seus banhos eram sempre momentos de reflexão sobre novas telas ou técnicas de pintura. Agora, eles apenas são tingidos de melancolia.

Assim que terminou, parou diante do espelho, contemplando o reflexo acabado de um homem de apenas vinte e nove anos. Claro que poderia orgulhar-se com a ideia de que ninguém nunca cogitou a possibilidade de realmente possuir essa idade quando o fitava, mas mesmo assim, sentia-se completamente derrotado.

Os seus cabelos eram pretos, lisos e espessos, antigamente arrumados da melhor forma possível, mas que hoje o comprimento passava do pescoço e nem se importava em cortar; meramente deixava com que as mechas formassem o volume que quisessem e inventassem um estilo novo a cada dia.

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora