Pᴀʀɪs

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❝Quanto tempo se pode perseguir um sonho até se tornar um pesadelo? ❞

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 34

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Nova York, 24 de maio de 2018.

— Medo de avião? — A voz de Neil de repente chamou a atenção do homem, que fitava apreensivamente para a pequena janela ao seu lado. — Se quiser, posso segurar a sua mão quando chegarmos ao chão outra vez. — Riu.

— Vai se foder. — Fitou-o diretamente. — Não é isso. — Respirou fundo. — Só... Sinto que não é a melhor opção. Ainda tem o Mark... Se ele souber, avisará Jeremy imediatamente. E quanto aos seus problemas? Disse que ele também fez algo que te irritou.

— É. — Suspirou. — Bem... No final das contas, uma hora ou outra o que ele tem contra mim viria à tona. — Deu de ombros. — Eu mesmo já estraguei tudo, se ele fizer mais algo, não vai mudar muito a minha situação. — Desviou o olhar. — Eu só quero que ele se foda nisso, e se eu tiver que me afundar junto... Pelo menos vai valer a pena.

— O que ele tem contra você?

— Coisas piores do que ele tem contra o Ari. — Olhou para as próprias mãos. — Coisas que eu me arrependo, mas que não via problema na época. Bem, eu via, mas não me importava. Não é tão importante pra você saber. — Suspirou. — Bem, vai demorar um pouco pra chegarmos a Paris, e eu não dormi. Se quiser conversar, me acorda, mas eu iria preferir que não o fizesse. Obrigado. Boa noite.

— Boa noite. — Respirou fundo.

Lin observou-o virar-se ligeiramente para o lado antes de olhar novamente para o céu. Algo no fundo da sua alma lhe dizia que esta era a sua pior escolha, mas que mais deveria ele fazer? Apenas esperar que ele regressasse sabe se lá quando para ter algum tipo de garantia do que estava acontecendo? Precisava vê-lo frente a frente para que conseguisse discernir se o que saía da sua boca eram mentiras ou não, já que por mensagens e áudios isso se tornava mais difícil.

Estava com um pequeno bloco de notas no bolso do seu casaco, junto com uma caneta, para quando sentisse a vontade de rascunhar alguma coisa. Pegou-os e voltou a olhar para Neil, que já parecia estar num sono profundo. Gostaria de saber como era a sensação de simplesmente apagar sem precisar ficar se remexendo na cama por horas e horas.

Segurou a caneta com mais força e rabiscou-o. O seu cabelo branco repartido no meio caía pela testa, as suas sobrancelhas mais escuras ligeiramente franzidas, os piercings no rosto e nas orelhas, e os seus cílios claros e vagamente alongados. Certos traços em seu rosto eram mais afeminados, o formato mais arredondado da face, o nariz arrebitado e a boca levemente curvada para baixo, com o lábio inferior maior que o superior.

Ainda assim, ele era um jovem atraente, não podia negar. Era apenas justo como ele tinha sido bem sucedido como modelo antes de ter afundado completamente na história da overdose, mesmo que o seu assessor havia tido êxito em controlar um pouco a situação. Deu de ombros com o pensamento, voltando a olhar pra o seu desenho por meros instantes.

Recordou que tinha um sonho de viajar pelo mundo juntamente com Cheng. O pensamento trouxe-lhe um sorriso à cara, voltando a olhar para as nuvens. Se houvesse um céu, talvez ele ficasse feliz por estar a realizar este sonho para ambos. Encostou então a sua cabeça no assento, não sabendo o que fazer. Sabia que se assistisse a um filme, acabaria adormecendo, por isso, apenas fechou os olhos de uma vez, cedendo à exaustão pela primeira vez em semanas.

Quando as Luzes se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora