As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte II

Sorte e Azar

O instinto e anos de treinamento guiavam seus movimentos. Xi Zhang era um com sua arma, um com sua armadura completa de enerjom, ele era um com o ju'gam. Seus movimentos eram um borrão para quem assistia de fora enquanto ele e seu oponente trocavam golpes a uma velocidade sobre-humana.

Cortes, estocadas, contragolpes. Os dois usavam todo o leque de ataques e quando suas almashas não conseguiam o resultado que eles desejavam, partiam para golpes de cotovelo, joelho e chutes, tentando conseguir qualquer vantagem possível contra o habilidoso oponente que estavam enfrentando.

Xi Zhang ouvia uma voz familiar soando distantemente, mas a ignorou, ele não podia se dar ao luxo de se distrair diante de seu oponente. Tudo em seu campo de visão era o comandante inimigo e seus movimentos. Ele precisava encontrar uma brecha nos movimentos do homem para poder por fim naquilo.

Tanto Xi Zhang quanto Ichi Gim estavam tão focados na troca de golpes entre eles, que não perceberam o estado que o campo de batalha estava. A quantidade de soldados imperiais e da Forja mortos ou feridos no chão. Um verdadeiro derramamento de sangue.

A luta tinha se limitado a pequenos grupos ainda se enfrentando, os poucos que ainda estavam com energia ou simplesmente não estavam feridos o suficiente para pararem de se mover. A investida de Bo Sum era o que mantinha os imperiais em vantagem, mesmo que os danos sofridos estivessem sendo pesados.

Mas outros se destacavam no combate, principalmente próximos ao duelo entre os comandantes. Primeira Lança e Braço Direito avançavam em ataques sincronizados, suas lanças modificas perfurando e cortando todos que demoravam para sair do caminho ou que tentavam se aproximar do duelo para ajudar o comandante inimigo.

Não muito distante deles, Flecha já tinha acabado com a munição de seu arco e segurava sua pistola em uma mão e uma adaga na outra, disparando contra qualquer soldado inimigo que abaixasse sua guarda.

Ignorantes ao que se passava ao redor deles, Xi Zhang e Ichi Gim continuaram o duelo deles, se movendo o mais rápido que suas armaduras completas de enerjom permitiam. Mesmo com todos os benefícios trazidos pela armadura, os dois começavam a se cansar depois de tantos movimentos. A respiração deles começava a ficar mais pesada, mas ainda assim, continuavam, sabendo que se fizessem um deslize, o oponente iria agir.

E o deslize veio momentos depois, quanto Xi Zhang foi tentar um golpe lateral e seu pé deslizou nas entranhas de um soldado esviscerado. Ele recuperou rapidamente o controle de seu corpo, se estabilizando, mas o momento que perdeu com aquele deslize, era tudo que seu oponente precisava.

A almashas de Ichi Gim avançou, passando pelas defesas de Xi Zhang e acertando seu peito. Um clarão se ascendeu enquanto o enerjom da lâmina e da armadura se encontravam e depois a lâmina ganhou a vantagem, abrindo um corte no peitoral e no peito do Patriarca que tentou recuar, tropeçando em um corpo enquanto a lâmina inimiga se movia mais uma vez para finalizar o trabalho.

Uma rajada de enerjom acertou a cabeça de Ichi Gim, explodindo contra a lateral de de seu elmo e o derrubando de lado. Normalmente o disparo de uma arma de enerjom não o teria afetado tanto, mas depois do longo duelo contra Xi Zhang, as funções e reservas de sua armadura já estavam bem baixas.

Trincando os dentes de dor, Xi Zhang se jogou para frente, sabendo que tinha escapado da morte por bem pouco. Provavelmente uma intervenção de Flecha para mantê-lo vivo. Ele teria que dar uma recompensa apropriada para ela futuramente.

Sua almashas deslizou pela barriga de seu oponente, logo abaixo da linha das costelas criando algumas faíscas enquanto o resto do enerjom na arma e na armadura entravam em conflito.

Um grito de choque e dor escapou de Ichi Gim, ainda desorientado pelo tiro que tinha recebido da arma de enerjom. Ele balançou sua arma em um corte às cegas, quase arrancando a cabeça de Xi Zhang no processo por pura sorte. Mas o Patriarca ainda estava bem consciente de seus arredores, mesmo com toda a dor no peito, ou talvez exatamente por essa dor.

Se abaixando, Xi Zhang arrancou sua arma da barriga de Ichi Gim e aproveitou para desferir um golpe que abriu um corte na parte interna da coxa de seu oponente.

Ichi Gim voltou a gritar de dor enquanto sua perna falhava e ele caía no chão, grunhindo e piscando os olhos para clarear as vistas. Foi quando ele se deparou com Xi Zhang se levantando, arma erguida, a lâmina brilhando com o enerjom que a cobria.

Merda!

Foi tudo que ele conseguiu pensar ao ver o golpe chegando e findando sua vida.

Xi Zhang caiu de joelhos, agarrando o peito ferido. A barreira de enerjom de sua armadura tinha desaparecido, danificada e gasta demais após o combate com o comandante inimigo. Mas ela ainda tinha a função que melhorava sua força e velocidade. Teria que ser o bastante para mantê-lo até que saísse dali.

- Meu Senhor! – Braço Direito se agachou ao lado dele preocupado enquanto Primeira Lança e mais alguns e seus guardas pessoais montavam guarda no perímetro para garantir que ninguém tentaria ataca-lo naquele momento de fraqueza.

- Estou bem – ele falou, sentindo o peito estremecer de dor e o sangue escorrendo lentamente pelos locais que não foram cauterizados devidamente pela lâmina de enerjom. – Ele não conseguiu cortar muito fundo. Onde está Flecha? Preciso agradecer a ela por salvar minha vida.

- Desde quando precisamos de agradecimento por fazer nosso serviço, Patriarca Xi? – Flecha perguntou em um gracejo, se aproximando com passos leves e as armas abaixadas.

O Patriarca queria falar mais, mas então reparou no estado das coisas ao redor. O tapete de corpos espalhados em todas as direções. As poças de sangue que escorriam dos corpos sem vida, ou morrendo. A ceno o lembrou da época em que era um aluno da Academia.

Quase não havia mais luta. Os soldados imperiais sob a liderança do Mush Bo Sum tinham esmagado qualquer resistência restante. Era hora de tentar salvar algumas vidas.

- Braço Direito, veja quem está livre e consegue se mover e procure por sobreviventes – ele falou, tentando se levantar e conseguindo com um pouco de dificuldade. – Montem um perímetro defensivo e tentem entrar em contato para saber o que aconteceu na superfície.

Após dar sua ordem, Xi Zhang percebeu que tinha muitas tentativas de comunicação por parte de Ryu Hon. A voz familiar que ele tinha ouvido e ignorado enquanto lutava contra o comandante inimigo.

- Mush Ryu? Está na escuta?

- Iluminados sejam os Padrinhos – a voz aliviada de Ryu Hon soou no comunicador. – Por um momento pensei que algo tinha acontecido com o Senhor, Patriarca.

- Tivemos uma luta difícil contra os soldados da Forja – Xi Zhang respondeu, ainda se encolhendo com a dor no peito. – E o seu lado?

- Conseguimos vencer, mas perdemos muitos soldados e o Mush de Zonam está bastante ferido – ele fez uma pausa e então continuou. – Encontramos os trabalhadores. Patriarca, tem milhares de pessoas aqui. Tanto das Terras Altas quanto das Baixas.

Xi Zhang já esperava por aquilo depois de sua conversa com fugitivo das Terras Baixas, mas ainda era surpreendente que um local como aquele tinha sido criado dentro do Império sem que ninguém percebesse.

- Reagrupem, cuidem dos feridos e esperem por novas ordens – Xi Zhang falou se aprumando um pouco. – Ainda não sabemos se é seguro leva-los para a superfície.

- Sim Senhor.