As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte II

Os planos para o futuro

Ele flexionou os dedos metálicos por debaixo da luva que usava. Era estranho usar aquela prótese e toda vez que olhava para a mão metálica, Xi Zhang abria um sorriso resignado, lembrando-se por algum motivo do encontro com o sacerdote no templo da Academia Militar Imperial anos atrás.

Não que ele nunca tivesse visto uma prótese metálica. Na verdade, ele tinha vivido na companhia de pessoas, veteranos do exército de Zonam, que usavam membros metálicos, mas nenhum o marcou tanto quanto o sacerdote dos Padrinhos.

- Está te incomodando? – perguntou Quin Zhang, a esposa do Patriarca.

Ele olhou para ela e simplesmente balançou a cabeça. Não havia nenhum incomodo. Os médicos tinham feito um trabalho perfeito na conexão da prótese com seus nervos e a prótese em si era de uma qualidade surpreendente. Retirada das conquistas da Forja.

- Não me incomoda, é só... um pouco estranho - respondeu Xi Zhang com sorriso.

Os dois estavam sozinhos em uma sala espaçosa, esperando pelo chamado para o dever. Já tinha se passado quase um mês desde o ataque a Forja e muitas coisas tinham acontecido desde então.

O relacionamento com os Seto estava pior do que nunca, já que o Patriarca deles culpava tanto os Zhang de Swam quanto os de Zonam pela morte de todos os seus soldados em campanha.

Por sorte, os oficiais Xa estavam presentes quando Xi Zhang foi ao combate e puderam atestar em sua defesa contra as acusações do outro Patriarca.

Já os Fong, os Sum e o Exército da Fronteira estiveram mais interessados na divisão do material conquistado na Forja. O lucro alcançado ali iria ajudar muito a estabilizar cada facção nos próximos anos.

A princípio, Xi Zhang e seu irmão estavam fazendo parte da divisão dos bens confiscados, mas decidiram abdicar de uma parte desses bens para poderem conquistar um outro tipo de recurso.

Uma batida na porta alertou o casal Zhang que já era hora. Xi Zhang trocou um rápido olhar com Quin Zhang e se levantou, respirou fundo e foi até a porta que se abriu para o corredor.

O Mush Daiko Lulou estava à espera deles com uma guarda de honra. Xi Zhang trocou um aceno de cabeça com o oficial e depois deu uma olhada para sua guarda. O que restava de sua antiga unidade. Flecha era quem liderava, já que Primeira Lança ainda estava se recuperando do ferimento no peito e Braço Direito se acostumando com o uso das duas próteses.

- Está tudo pronto, Patriarca – falou Daiko Lulou se curvando respeitosamente.

Xi Zhang assentiu e estendeu o braço, cruzando-o com o de sua esposa. Os dois respiraram fundo e seguiram logo atrás do Mush e da guarda de honra pelos corredores até seu destino. Uma sacada, iluminada pelo brilho do sol ao meio da tarde.

Mesmo antes de chegar na sacada, Xi Zhang já conseguia ouvir as vozes. Sussurros nervosos daqueles que esperavam pela sua chegada. Ele próprio estava nervosos.

Sua guarda se posicionou nas paredes, dando passagem enquanto Daiko Lulou ia até a sacada. O Mush ergueu a voz, chamando a atenção de todos que esperavam lá em baixo e então fez uma rápida apresentação do Patriarca e sua esposa antes de se afastar, dando espaço para que Xi Zhang aparecesse na sacada.

Assim que surgiu na sacada, Xi Zhang pôde ver a multidão que esperava no terreno mais abaixo. Centenas de pessoas reunidas ali. O Patriarca sabia que seus números chegavam quase a mil. Todos resgatados da Forja.

Nos dias que se seguiram a destruição da Forja, Xi Zhang se reuniu primeiro com seu irmão e depois foi até o Patriarca dos Xa para fazer sua proposta. Ele, ao ver todas aquelas pessoas, teve a brilhante ideia de as usar para ajudar na expansão dos territórios desocupados depois da guerra contra as Aranhas e os Exilados.