As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte II

Tragedia

As telas holográficas brilhavam revelando o que acontecia no interior da Forja, e no centro da sala, Aka Gim contemplava a queda de seu "império" construído nos últimos cinco anos. Interiormente, ele se perguntava se tinha tomado a decisão errada ao escolher sua independência e cortar os laços com seu antigo Senhor.

Ele deu uma olhada na tela onde seu irmão liderava uma tropa contra um grupo de soldados imperiais. Ichi Gim poderia ter exterminado aquele grupo com facilidade, mas escolheu prolongar a batalha, usando os soldados como uma isca para atrair reforços. Quando esses reforços chegaram, em grande número, Ichi Gim ativou sua armadilha, que foi inutilizada pela investida do comandante inimigo em sua armadura completa de enerjom.

Depois daquilo foi uma confusão de combate corpo a corpo entre as duas forças de combate. Com Ichi Gim se movendo para interceptar e enfrentar o comandante inimigo. Após uma rápida troca de golpes, ficou claro para Aka Gim que seu irmão mais novo estava em pé de igualdade com o inimigo. Demoraria muito para que um deles conseguisse lidar definitivamente com o outro.

Aka Gim aproveitou para acompanhar o resto da batalha. Um gigantesco oficial tomou a liderança das tropas imperiais, virando a batalha a favor deles enquanto os dois comandantes se enfrentavam. A falta de um oficial competente entre as fileiras de Ichi Gim estava custando aquela batalha para a Forja.

Em outra tela, Aka Gim viu seus dois oficiais mais competentes enfrentando outro grupo de soldados imperiais. No início, eles estavam esmagando uma única unidade, mas com a chegada de outras duas, eles começaram a ser forçados a recuar.

Analisando o mapa da Forja, Aka Gim viu que seus homens não tinham muito para onde recuar. De onde estavam, iriam acabar indo para as celas dos escravos, onde era bem provável que acontecesse uma rebelião quando percebessem que seus captores estavam em desvantagem naquela batalha.

Por fim, Aka Gim olhou para os hologramas que representavam o campo de batalha na superfície. Seus canhões de enerjom já tinham sido destruídos pela artilharia inimiga e mesmo seu bando de Predadores da Noite não conseguiram fazer mais do que imobilizar os reforços imperiais da fronteira. Com o céu tomado pela frota dos Xa, seria impossível conseguir uma fuga da Forja fosse pela superfície ou pelo céu.

- Meu Senhor, temos uma transmissão do Abrigo – um de seus operadores avisou um pouco aflito.

Aka Gim se virou para ele com a testa levemente franzida. Com a Forja sendo atacada, o melhor seria manter as comunicações com o lado de fora bloqueada para não revelar as outras bases deles. Mas Aka Gim sabia que o responsável pelo Abrigo não era um tolo, ele não iria entrar em contato com a Forja a menos que fosse de estrema urgência.

- Conecte.

Uma nova tela holográfica se ascendeu diante de Aka Gim, revelando o rosto de um homem velo e assustado. O olhar do homem se iluminou ao ver seu líder, mas ainda dava para perceber o terror em sua face.

- O que aconteceu? – Aka Gim perguntou friamente, sabendo que algo estava errado.

- Peço perdão, meu Senhor – o homem falou respeitosamente. – Eu falhei com a proteção do abrigo.

- Do que está falando?

- Pouco depois de recebermos o alerta de que a Forja estava sobre ataque, um pequeno exército começou a se aproximar do Abrigo. A princípio pensávamos que não era nada... mas acabou que eles marcharam diretamente até nossas passagens secretas e começaram a nos invadir.

- O Império mandou um segundo exército até vocês?

- Não tivemos essa sorte – a expressão do homem no holograma estremeceu por um momento. Algumas pessoas correndo passaram rapidamente atrás dele. – Parece que nosso antigo Senhor resolveu nos fazer uma visita.

O corpo de Aka Gim congelou diante daquela afirmação. As implicações levadas ali, eram as piores possíveis. O Abrigo, era onde as famílias dos membros da Forja estavam vivendo em paz e mordomia. Encontrando tudo do bom e do melhor enquanto a Forja continuava vendendo seus produtos pelas Terras Altas.

- Há alguma chance de escaparem? – Aka Gim perguntou em voz baixa.

- Temo que não, meu Senhor.

Um silêncio se espalhou pela sala onde Aka Gim estava conforme os seus guardas e operadores se viravam para esperar sua resposta. Todos eles tinham familiares dentro do Abrigo e estavam preocupados com o destino deles.

Para Aka Gim a situação era pior ainda. Ele sabia que sua decisão tinha colocado ele em péssimos termos com seu "antigo" Senhor, mas nunca esperava que ao invés de tomar satisfação diretamente com ele, acabariam por atacar os civis não combatentes dos Gim e seus aliados.

- Quem está liderando o ataque? – Ele perguntou, temendo pela resposta.

O velho no holograma hesitou por um momento, se virando e repetindo a pergunta para aqueles em volta que não apareciam na tela. A resposta veio rapidamente e quando foi repetida para Aka Gim, o Senhor da Forja de Sangue sentiu seu sangue esfriar.

De todos que poderiam ser enviados, tinha que ser logo os Kuro?

- Você sabe o que fazer – Aka Gim conseguiu responder com um pouco de dificuldade.

O velho congelou por um momento. Seu rosto apresentava a resignação da situação, mas ainda assim ele hesitava.

- O Estrondo? – Ele perguntou fracamente.

- Sim, será melhor do que deixar nossas famílias caírem nas mãos dos Kuro.

O homem assentiu, sabendo que Aka Gim estava certo. Ele servia aos Gim desde que eles faziam parte do grupo que os estava atacando agora, tomando proveito da situação em que a Forja estava ao ser atacada pelo Império.

- Foi uma honra servir aos antigos Gim – o homem falou respeitosamente, se curvando para frente. – Se me permite, irei na frente.

Aka Gim sentiu um gosto horrível na boca. Ele devolveu o cumprimento do homem e todos na sala com ele fizeram o mesmo. Era possível ver lagrimas silenciosas descendo pelos rostos de algumas pessoas presentes ali.

- Logo nos encontraremos novamente. – Aka Gim falou solenemente e a transmissão foi encerrada.

Todos na sala ficaram calados, curvados, respeitando o momento. Depois daquela conversa entre Aka Gim e o velho do Abrigo, todos tinham compreendido a situação em que estavam.

De repente, o som de uma lâmina saindo da bainha assustou aqueles que estavam curvados, que se depararam com seu Senhor erguendo sua almashas.

- Peguem suas armas, vamos recepcionar devidamente nossas visitas.