Eu estava morta de sono, com o corpo todo cansado, suada. Porra, eu estava um lixo, sério, tive que ajudar uma amiga hoje no posto, a filha dela passou mal e ela me pediu para ficar no horário dela. Saí do posto era 22h30, tô cansada demais, só quero um banho e a minha cama.
Chamei até um Uber, não aguento mais andar, ficar em pé. Amém que hoje é sexta-feira, vou ficar o sábado todo na cama, descansando. Domingo eu vejo se vou para a favela.
Abri a porta da minha casa e entrei tirando meu tênis, tranquei a porta de novo e fui até a minha sala. Dei um puta grito e joguei a minha mochila em cima do corpo deitado no meu sofá.
— Mais que porra você está fazendo aqui? — gritei passando a mão no peito. Ela sentou no sofá e ficou me olhando, a Naty estava dormindo no meu sofá, como se a casa fosse dela.
Totalmente cara de pau.
— Quero trocar uma ideia contigo — ela sentou no sofá, estava com uma cara de sono, cabelo todo desarrumado — tu não chegava mais cedo, porra? Estou aqui há um tempão já, Bianca.
— Não faço meu horário não, tá? Tive que ajudar uma colega do serviço — ela bufou — tá fazendo o que aqui, hein? Não me ligou, nem o porteiro me ligou pra avisar que tinha alguém aqui. — Cruzei os braços embaixo do peito, olhando desconfiada para ela.
— O que, porra? Fiz nada de errado, não, Bianca. Peguei a chave que tu deu pra Rebeca. Não matei aquele velho ali debaixo, não relaxa — revirei os olhos. Olha o drama que ela faz, né? — Na moral, papo importante mesmo.
— Fala ué — fui pra perto dela, estava com saudade dessa surtada, marrenta. Sentei em cima dela com uma perna de cada lado e ela respirou fundo.
— Me escuta, porra. É pra nós conversarmos, nós duas — mordi a boca e ri concordando. Conversar? Hã, dei um selinho nela e desci pro pescoço. Ela começou a xingar baixo e eu adorava essa boca suja que ela tem, fica uma delícia — Bianca!
— Que foi? Tô com saudade, sabia — chupei o pescoço dela e ela me virou no sofá e levantou. Eu ri — tá fugindo porque Naty, não tô te entendendo.
— Falei que o papo era sério, quero trocar uma ideia contigo, maneira, nós somos duas adultas, não é porra — vi que era sério mesmo e parei com a putaria, o foda é que eu já tinha ficado cheia de vontade dela, estava toda molhadinha já.
— Eu vou tomar um banho primeiro então — ela concordou, levantei do sofá e fui para o meu quarto, peguei uma roupa e entrei no banheiro, tomei meu banho pra relaxar do dia matado de trabalho e depois saí, ela ainda estava na sala, sentada no sofá olhando para o chão — cê tá estranha.
— Não, pô, só tô pensando nos bagulho — concordei e sentei ao lado dela — dá pra nós conversarmos agora? — concordei, ela se virou pra mim e puxou uma coxa minha pra ficar em cima da sua perna, começou a passar o dedão enquanto me olhava.
— Que foi? — perguntei já ficando preocupada, nunca vi a Naty desse jeito.
— Tu tá ligada que a minha vida é toda fudida né porra, corre doido — concordei — eu nunca te falei isso, mas eu vou falar agora. Eu nunca pensei em sair dela, pode ser coisa de loco, se eu quisesse, ia pra bem longe dessa porra toda, meu pai ia achar até melhor, mas a parada é que eu não quero.
— E por quê? Você não ia gostar de ficar tranquila, sei lá, em um lugar que tu goste — dei de ombro, e ela negou.
— Coisa tranquila não é comigo, bia, sair do turano pra mim é igual abstinência, tá ligada? — ela riu — amo aquele lugar, gosto pra caralho de viver o crime, parece louco, eu tô ligada, mas é a verdade, nunca matei um inocente e já falei isso pra tu, nunca roubei de trabalhador também não, não sei explicar porque que eu gosto dessa adrenalina toda, é gostosinho de sentir, pô.
— Mas tudo isso pode acabar com você também, Naty, tu não pensa nisso? — ela concordou — então!
— Mas eu não tenho medo dessa porra, Bianca — passei a mão no rosto — se nós duas tivermos um bagulho pra frente, tu ia me aceitar desse jeito mesmo, sabendo que eu não vou sair por nada?
— Você não pode mudar de ideia?
— Eu sabia, porra, tu já ia vir com uns papo desse pra eu sair dessa vida, né — não respondi. Porque sim, eu ia — gosto pra caralho de tu, Bianca, até demais — olhei pra ela — mas não quero te envolver em uma parada que tu não ia aguentar.
— Como assim, Naty?
— Se nós começarmos uma parada agora, daqui a um ano, eu vou presa, tu ia aguentar? Não ia jogar na minha cara o tanto que me avisou — não respondi. Porque talvez eu ia, ou não, eu não sei responder — ou se eu levasse uma bala, tu não ia pedir pra eu largar tudo?
— Se é pro seu bem, é claro que eu ia falar, eu tenho certeza que todo mundo que ama uma pessoa não quer ver ela correndo risco todo dia, e porque ela quer ainda.
— Exatamente, porra, então nós não íamos dar certo — senti meus olhos arderem, mas segurei — se tu quiser alguma parada comigo, vai ter que aceitar isso aí, faz parte da minha vida toda, e eu não vou sair porque tu quer.
— Eu não acredito nisso, Naty.
— Achei melhor terminar o bagulho antes de ter começado, já é? — ela falou séria como sempre, toda fria — tu me conheceu assim, e eu não mudo meu jeito por ninguém, sempre fui solta pra fazer o que quisesse.
— Tá bom, Naty, eu já entendi — ela concordou — é o que você é, né, é o que você gosta, a gente não tem nada e é até melhor assim, minha vida tá muito boa pra ter esse problema agora.
— Eu sei, pô — ela se levantou — nunca vou esquecer de tu não, Bianca, na moral, morena, tu é perfeita demais pra mim — mordi a boca — essa parada que a gente teve foi louca, boa pra caralho, mas não era pra ser — concordei — eu vou indo nessa, qualquer coisa que tu precisar é só falar comigo.
Concordei, não olhei pra ela, quando ela saiu de casa, meu coração ficou pequeno, comecei a chorar e de novo aquele sentimento de tá sozinha brotou em mim, era foda pra caralho, mas agora eu tô uma nova Bianca, não vou ficar fraca de novo, pelo contrário, vou crescer mais com isso.
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Pique Bandida
Teen Fiction📍Morro Tijuca - Rio de janeiro Comando Rio de Janeiro Bianca é carinhosa Naty é fechada Bianca não gosta de violência Naty é agressiva Bianca é prostituta Naty é traficante Bianca quer alguém que cuida dela Naty mata e morre por ela Início:...