Acordei toda preguiçosa como sempre. O mau humor me pega de um jeito que eu mesmo fico puta comigo, fico com raiva de mim mesma e o negócio fica louco. Sou assim toda a vida, pô, desde menor, quando eu acordava cedo pra ir pro colégio eu dormia na aula e ficava putaça com meu pai. O coroa até me trocou de horário.
Naty não existe antes do meio-dia, pô. Se eu acordo cedo, eu fico virada até a hora do almoço. É assim, pô, geral me aguenta assim. Quero que se dane, rsrs.
Agora era 11h30, já bateu aquela fome. Eu levantei da cama e fui pro meu banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e fiquei me olhando no espelho. Sabe quando tu para e fica se olhando, não pensa em nada e nem fala nada? Fiquei assim por cinco minutos. Depois tomei um banho.
Coloquei cueca e top preto, uma bermuda e uma camiseta do Brasil. Eu sou viciada em camisa de time, seleção, gosto pra caralho, uso direto, do Brasil, seleção de fora, tudo. A do Flamengo nem camisa é, é manto, né, pô? Uso pra caramba.
Tenho uma coisa com isso, não gosto de emprestar pra ninguém, minhas camisas e meus bonés. Sei lá, pô, não gosto. Eu sou toda vaidosa, gosto de estar sempre no kit, cheirosinha. Cuido das minhas tatuagens pra ficar do jeitinho que saíram do estúdio. Gosto pra caralho, pô, tenho mais de 30, se pá. Me acho gostosa pra caralho com tatuagem.
As que eu mais acho foda e gosto pra caralho é uma que eu tenho nas costas, meu braço esquerdo todo fechado e uma na canela. São essas que eu me amarro.
Significado não tem muito não, a do pescoço que é "SÓ DEUS PODE ME JULGAR" é um papo reto mesmo. A do braço é mais aquela bandida, me representando, sacou? E a das costas é mais uns negócios de dinheiro com sorte e ser livre, um bagulho assim que o cara me explicou. O resto eu fiz porque achei bonito mesmo, fiquei gatona.
Saí de casa e desci direto pro restaurante da Vanessa, mulher pica, guerreira. Amo ela, tava quase virando minha segunda mãe, mas aí meu pai vacilou feio, traiu a mulher com outra, eu fiquei mó triste, pô, gostava demais dela. Meu pai é um pau no cu, falo mesmo.
Entrei no restaurante e como sempre lotado na hora do almoço. A mulher manda muito nos temperos, eu me amarro. Sempre que eu tô com fome de verdade eu venho aqui, só tô comendo besteira por esses tempos.
— Fala comigo, preta! — cheguei perto do balcão que ela tava mexendo no computador, me olhou e deu um sorrisão. Sempre assim quando eu venho aqui.
— Naty, sua feia! Quanto tempo que não vem aqui, menina! — Vanessa saiu de trás do balcão e veio me abraçando — que saudade de você enchendo meu saco.
— Tô ligada, pô, tu me ama pra caralho! — ela riu — vim comer hoje, zero-oitocentos pra mim, né não? Se não for, eu já vou embora! — ela riu e deu um tapa no meu braço.
— Tá magra, hein? — neguei — anda comendo só besteira, né? Eu faço comida caseira, tá? Moro bem pertinho da tua casa.
— Tu não cuida de mim mais não, pô. Antes, todo dia ia levar marmita pra eu comer. Me abandonou legal, nem me manda mais mensagem também! — ela riu balançando a cabeça — me esqueceu, pô.
— Para de falar merda, menina! Eu tô bem ocupada pra ficar te entregando comida. Se você tivesse sentindo falta, ia vir aqui. — cruzei os braços — sabe o que tu precisa? Aprender a se virar sozinha.
— Já não sei, né? Cuido disso tudo aqui, os mais acima de mim e meu pai, pô, e tá preso ainda! — ela respirou fundo — faz um pratinho lá pra mim, tu sabe o jeito que eu gosto.
— Senta aí! — dei um beijo na cabeça dela e puxei o banco do balcão. Sentei ali e fiquei esperando ela trazer meu prato. Foi uns cinco minutos — sério mesmo, Naty, vem almoçar aqui sempre, tá? Tu tá muito magrinha mesmo.
— Tá maluca, até engordei, pô! Tô gostosona! — falei de boca cheia e ela riu — namoral, aparece lá em casa quando quiser, eu vou vir mais aqui também, tô cheia de parada pra fazer, tu tá ligada.
— Eu sei, e eu vou sim. Tô pensando em fechar o restaurante no domingo, sabe? Não tenho nem um dia pra descansar.
— Faz isso, fica se matando não! — ela concordou — e a Ana? — perguntei meio assim e ela me olhou — tá puta comigo ainda?
— Acho que sim, né? Tá terminando os estudos dela na pista, terceiro ano da faculdade, tá empenhada, mas não mudou nada não, a mesma maluca debochada.
— Tu sabe que eu não queria que nossos lances desse naquilo, né? Mas eu não queria nem um relacionamento, tu me conhece, sempre fui assim. Ela que se iludiu sozinha.
— Minha filha, gostava pra caralho de tu, Naty, tu que não soube valorizar, igual teu pai, aquele merda! — deu risada. Nós nem falamos mais nada, comi ali, conversei mais com ela e depois fui pra boca.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pique Bandida
Teen Fiction📍Morro Tijuca - Rio de janeiro Comando Rio de Janeiro Bianca é carinhosa Naty é fechada Bianca não gosta de violência Naty é agressiva Bianca é prostituta Naty é traficante Bianca quer alguém que cuida dela Naty mata e morre por ela Início:...