— Pede uma pizza então — falei qualquer coisa pra parar com aquele silêncio, ela nem respondeu, se ajeitou na cama, tirou a camiseta e ficou só com o top preto. É difícil não reparar no corpo dela.
Tem uma barriga chapada, com um corpão mesmo, ela estava deitada com uma perna em cima da outra, calça jeans e a barra da cueca aparecendo, meia no pé, tinha um cordão fino no pescoço e um relógio no pulso. As tatuagens dela eram lindas, na costela tem uma margarida, aquela do Mickey, de um jeito doido, né? Olho vermelho, aí embaixo dela tinha aqueles três ladrões do desenho, todo detalhado, nas costas dela eu já vi que tinha uma mulher enorme, pegando as costas inteiras era tipo uma palhaçada, com uns detalhes todos em preto, era lindo também, tinha no pescoço também, de um lado estava escrito Fé cheio de sombra e tudo, do outro tinha uma data 22.11.1995, se pá era a data dela. Tem nas canelas também que eu já vi, no braço os dois tão fechados, com várias tatuagens, meu pai, abana.
Dei uma suspirada pesada, não posso mentir, uma puta de uma mulher gostosa, ela não tira essa cara de séria, se eu já vi um sorriso dela eu nem me lembro mais como é, voz roca e tem mania de ficar passando a língua na boca pra ficar molhada, puta que pariu.
— Quer foto pô? — ela disse ainda olhando pro celular e eu olhei a TV rapidinho — pedi pizza de frango e queijo mesmo, só gosto disso aí pô.
— Pede uma doce também, essa eu pago — ela negou fazendo uma careta.
— Não sou chegada em doce não, pô, mas eu peço pra tu, não tem nada não — concordei — mas aí, fez o que nessa tua folga?
— Nada, fiquei aqui no quarto, poucas vezes eu desci lá pra baixo, tava bem cansada — ela nem falou nada — e você, fez o que essa semana?
— fiz uma parada com um maluco aí, veio tirando com a minha cara querendo comprar um bagulho fiado, ah, toma no cu, deu azar que eu tava num dia bom não, se fudeu — resmunguei um "nossa" — mas fora isso aí não teve nada de interessante mais não.
— Você já matou muita gente? — perguntei porque não tinha muita o que perguntar mesmo.
— Oh tipo porra, isso lá é pergunta, garota? Sei não pô, foi gente pra caralho, mas ninguém era inocente não, pode ter certeza — concordei.
— Sei que você não vai responder mais, qual é teu nome? — tava bem curiosa pra saber o nome dela - Natyane? — falei gastando ela.
— Que porra de Natyane, tá tirando, caralho — ela deu um grito e eu dei risada, ela ficou bolada mesmo mas eu não consegui segurar — é só Naty, porra, não tem outro nome não, caralho.
— Tá bom, só achei que combina contigo — ela negou — porque não tem outro nome, é Natyele ou Natyane, ou Natália, sei lá — ela me empurrou pelo ombro e quase me jogou da cama — aí Naty, você tem força, caralho.
— Tu brinca muito, quer o que? Natyane é teu cu, porra — ela disse séria, mas eu não resisti e comecei a rir muito, foi a segunda risada que ela me tira depois de uma semana chorando — cuzona.
— Eu não falei na maldade não, mas é verdade — ela negou — mas Naty é legal, combina com você.
— Cheia das intimidades que não tem, né? — ri — vai Bianca, vai.
Levantei da cama e fui pro banho; eu tava usando só uma camiseta grande e uma calcinha. Fiz xixi, levei a minha mão e saí do banho de novo; ela tava olhando pras minhas coxas.
— Que isso aí na tua coxa? Vira aí, bunda pra mim ver — passei a mão pelo roxo que tinha ficado dos tapas que aquele filho da puta me deu, ela puxou minha camisa, me fazendo virar e olhei minha bunda — que isso aqui?
— Foi um cliente — sentei na cama e puxei a coberta — nada demais, não.
— Nada demais, o caralho mulher — peguei meu controle e comecei a procurar um filme, enquanto ela falava — bagulho tá feio pra caralho, Bianca.
— Aí Naty, não é nada não, eu não posso fazer nada se eles gostam de trepada bruta pô, fui paga e eu dei, pronto! — olhei pra ela que negou com a cabeça, mas nem falou nada. Ficamos em silêncio até a pizza chegar; ela foi pegar e levou uma chave que um tinha dado pra ela. Quando voltou, voltou com duas caixas, uma coca e dois copos.
Deitei de barriga pra baixo com a cabeça nos pés da cama e comecei a assistir a um filme enquanto comia a pizza.
Senti a mão dela na minha bunda que tava roxa e olhei pra ela por cima dos ombros.
— Esquece Naty — adoro o nome dela de verdade.
— Quem que foi? — botei um pedaço de pizza na boca pra demorar a responder — o filho da puta devia levar uma dessa na cara.
— Fernando, ele chegou aí querendo e foi — falei só isso, nem gosto muito de lembrar, sei que fui estuprada. No dia seguinte, eu contei pra Jô e pra Letícia; a Jô disse que, infelizmente, isso era normal, que ela mesma já sofreu isso, mas que não importava, a gente era prostituta e qualquer reclamação não tinha relevância nenhuma. Ela, quando foi estuprada pela primeira vez, disse que fez um B.O. e não deu em nada, só mandaram ela embora e disseram que iam ligar, então eu só quero esquecer que isso acontece e ponto.
— Papo reto aqui, tu e ele têm algum bagulho além dessa parada aqui? — sentei na cama rapidinho.
— Nunca na minha vida — fiz cara de nojo — ele só é mais um cliente.
— Tô ligada — ela não falou mais nada, continuou comendo e eu também; ela disse que ia dormir aqui de novo e eu não liguei, a gente foi dormir eram 3h30 da manhã.
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Pique Bandida
Teen Fiction📍Morro Tijuca - Rio de janeiro Comando Rio de Janeiro Bianca é carinhosa Naty é fechada Bianca não gosta de violência Naty é agressiva Bianca é prostituta Naty é traficante Bianca quer alguém que cuida dela Naty mata e morre por ela Início:...