Hoje era domingo, ia ter pagode e eu estava me arrumando para ir, eu e a Larissa no meu quarto. No corpo, eu estava com um vestido preto coladinho, chinelo, maquiagem clara e cabelo solto. A Lari já estava com saia branca, cropped vermelho e um tênis com um saltinho.
— E aí, amiga, tu e a Naty? Vi vocês juntas aquele dia no jogo, achei super que combina — Larissa perguntou; neguei com a cabeça, bufando.
Fazia uma semana desde o dia em que a gente fez aquela loucura no quarto. O foda foi acordar e ela nem estava ali; já passei várias vezes por isso, inclusive com ela, mas sei lá, dessa vez eu fiquei incomodada.
— Nem rola nada, Larissa, ela é igual a todo cliente — ela me olhando com uma sobrancelha levantada — é verdade amiga, não posso fazer nada.
— Sei não, hein, vamo ver hoje no pagode. Tenho certeza que, quando ela te ver, ela vai vir pra perto puxando assunto contigo — dei de ombro — tô gostosa? — parou na minha frente e deu uma volta.
— Tá gostosa, amiga — ela piscou pra mim; peguei só meu celular e nós duas saímos de casa. A maioria das meninas estava saindo ou já tinha saído também, até a Jô estava indo junto.
No caminho, a Larissa já foi entrando na onda do samba, começou a cantar uma música e sambar no meio da rua. Eu achava mó graça quando os meninos assobiavam e ela ria toda envergonhada, é muita maluca, cara.
Quando nós entrou na cancha que estava rolando o pagode, já escutei algo muito bom tocando, geral ali estava em volta sambando e cantando junto.
🎶Lá na subida do morro existe um palácio
Construído com esplendor e harmonia
Lá é o berço do samba onde eu encontro a paz
É lá que a minha tristeza sorri de alegria🎶— Vamo pro bar, amiga? — concordei; ela me puxou pra ela e pegou um litrão pra gente. Sentamos em uma cadeira perto da grade do campo e comemos e bebemos — em, a patroa não para de olhar pra cá — disse enquanto estava com o copo perto da boca.
— Tá atrás de mim? — ela concordou. Dei de ombro e tomei um gole da minha cerveja — para de olhar também, Larissa, eu, hein?
— Aí que não é só ela que tá olhando não, hein? Olha aquele grupinho do outro lado do campo — ela apontou com a cabeça, não sabe nem disfarçar, cara.
Olhei um pouco e vi três caras e uma menina no meio; eles riram quando perceberam que a gente estava olhando, desviei também e fiz que nem vi. A mulher eu já conhecia, foi uma cliente há um tempo atrás; gosta de uma coisa mais safadona, ela é gostosa.
— Ela tá vindo pra cá — eu fiquei nervosa, não pensei que ela ia vir falar comigo agora. Mas quando eu olhei pro lado e vi uma cabeleireira preta, levantei a cabeça e vi que não era a Naty.
— E aí? — Patrícia falou com a Larissa e depois me olhou — um parceiro meu tá querendo falar contigo ali, cola lá, pô.
— Ôpa, beijo amiga — ela saiu rápido e a mulher puxou a cadeira dela pro meu lado.
— Como tu tá? Fui atrás de tu esses tempos aí e me disseram que tava de folga — concordei — como quetá?
— Tô de boa, Paty, foi só uma semaninha de folga, eu tava precisando, sabe? — ela concordou — e você?
— Tô trampando na boca aí, fazendo uns dinheiros, tá ligada? Tava muito parada e a veia lá em casa tava precisando de uma mão, só fui pro lado mais fácil, saco? Mas tô bem — concordei — vi tu com a patroa no jogo, geral tava falando que cês duas tão tendo alguma coisa, verdade? — neguei.
— Não — ela mordeu a boca. Quando ia falar mais alguma coisa, olhou pra trás de mim e ficou quieta.
— E aí, como tu se chama mesmo? — a Naty esticou a mão pra ela, que apertou e respondeu — Patrícia, tô ligada, aí pega esses cem aqui e busca meu carro lá em casa, leva a moto Jaé — falou em um tom baixo. A Patrícia me olhou e eu nem falei nada.
— Beleza, patroa, já volto aí — se levantou e saiu. A Naty sentou no lugar dela e eu fiquei acompanhando os movimentos dela.
— Quer outro litrão? — neguei — quer nada não?
— Eu tenho dinheiro aqui, qualquer coisa eu pego depois — ela concordou. Ficamos em silêncio por algum tempo, mas aí ela se virou pra mim, ficando de frente e eu olhei pra ela.
— Aquele dia lá em casa, tu nem ficou muito, pô, bora lá de novo. Nós pede um lanche, fico de boa — neguei, ela riu — quer ir comigo não, fazer companhia?
— Não trabalho hoje — trabalho sim. Menti.
— Quem disse que eu vou pagar? Nós vamos lá pra casa, eu peço um lanche da hora e se rolar nós transa gostosinho — ela falou perto do meu ouvido. Senti o corpo arrepiado e a calcinha molhando, caralho.
— Não, Naty — ela se afastou e ficou me olhando. Eu bebi minha cerveja disfarçando.
— Que foi, porra? Tá assim por quê? — nem respondi. Eu tava normal, oxi. Eu, em Bianca, tá assim por quê? Falando assim comigo por quê?
— Nada, tô normal — ela cruzou os braços e se encostou na cadeira, ficou em silêncio com a cara séria olhando pra nada. Depois de um tempinho, ela falou de novo.
— Eu não fiz nada não, porra. Fala aí — não aguentei e acabei dando risada. Essa mulher me deixa doida, nem brava com ela eu consigo ficar. Me largo dormindo sozinha depois daquela coisa toda que a gente fez no meu quarto e eu tô aqui toda cadelinha por ela. Se fode, Bianca, porra! — que foi?
— Tu vai me engordar de tanto lanche — mudei de assunto porque não ia falar aquilo pra ela. É uma coisa nada a ver que eu senti.
— Foda-se, vai ficar mais gostosa ainda — mordeu a boca e deixou um beijo perto da minha nuca — não paro de pensar naquele beijo nosso, diaba. No primeiro, lembra?
Ela falou e eu fiquei sem reação. Não disse nada e nem me mexi direito.
— Primeira vez que eu me emociono desse jeito, de ficar pensando no bagulho toda hora. No momento, eu só achava que era um beijo, pô, mas aí sei lá, o bagulho parece que gruda na mente, tá ligado? — ela disse sussurrando e eu dei um sorriso — fui a única?
— Não, mas eu achei que tu nem tinha dado bola pra isso, pô — ela concordou.
— Eu achei também, porra, mas aí eu vi que eu tava pensando demais em tu, mulher. E eu não sou nenhuma que finge que nada tá acontecendo, não, pô, tá ligada? Mas é só isso por enquanto, o beijão lá que não sai da mente.
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Pique Bandida
Teen Fiction📍Morro Tijuca - Rio de janeiro Comando Rio de Janeiro Bianca é carinhosa Naty é fechada Bianca não gosta de violência Naty é agressiva Bianca é prostituta Naty é traficante Bianca quer alguém que cuida dela Naty mata e morre por ela Início:...