Extratos, três meses e dez dias que eu tô nessa, dificilmente me acostumando, transando a cada dia com uma pessoa que eu nunca vi na vida, ou um programa repetido no caso do Fernando, e da Patrícia. Eles são os que mais me procuraram: o Fernando é quase todo dia e a Patrícia já pegou por umas dez noites, se eu não me engano, com um nó entalado na garganta de tanto choro que eu guardo, mas é isso, eu que escolhi isso.
A Mônica pegou uma implicância comigo desde aquele dia que eu bati boca com ela, vive me dando trabalho dobrado e tudo fica pior quando a Jô, um dia, chamou todas as meninas pra sala e mandou na lata: "a Monica manda aqui sim". Com certeza, essa lagartixa de puteiro foi reclamar com ela sobre mim. Eu fiquei puta, mas fiquei na minha.
A Jô também disse que íamos fazer algumas danças, tipo striper, sabe? Quando ela contratou eu e as meninas, além de fazer um super interrogatório sobre a vida pessoal e sexual, ela também treinou a gente na dança, e eu sempre fui boa em dança, sempre gostei, mas nunca tinha dançado em uma barra de ferro no palco.
Ela disse que eu era boa, e na minha primeira semana me colocou pra dançar, somente de calcinha. No dia que a gente dançou, não fizemos programa; eu já dancei aqui umas quatro vezes.
A Larissa, como sempre, maluca, sem filtro nenhum aquela garota. Ela tá surtando com uma novata que apareceu aqui tem uma semana; é uma ruivinha de dezoito anos. O apelido dela acabou ficando assim também: ruiva.
Já conversei com ela, a garota pensa pra frente do jeito dela, né? Deixa bem claro pra todos aqui que quer encontrar alguém pra bancar ela, que tenha muito dinheiro, mas que não seja um velho nojento, palavras dela. Ela disse que aqui é muito fácil dela encontrar.
A Larissa fala que odeia ela, principalmente a voz; a voz dela é realmente muito chata, é muito fina, tá ligado? A Larissa diz que ela quer se achar mais que os outros, e eu meio que concordo com isso; até a Monica, ela tá deixando no chinelo. A bichinha é foda.
Tava fazendo minha unha no meu quarto; gosto de deixar sempre bem feito, quando bateram na porta e logo abriram. Era a Larissa.
— A Monica tá te chamando, disse pra você descer rápido, sem enrolação — Larissa falou. Revirei os olhos. — papo reto, Bianca, eu vou matar aquela ruiva falsa, vou tacar ela na piscina com a minha algema de coração. — Dei risada.
— Meu Deus, Larissa! — Ela riu e saiu do meu quarto. Deixei as coisas que eu tava usando na cama mesmo e saí do quarto. Desci até a cozinha e vi todas as meninas lá, menos a Jô. — Oi, Monica?
— Linda, a Jô fez essa lista aqui pro mercado, me mandou escolher algumas de vocês, tá? O cartão tá aí também e a senha anotada no papel. — Monica começou. Concordei, peguei a folha que ela tava me estendendo e vi que tinha muita coisa.
— Vamo comigo, amiga! — Falei com a Larissa e ela concordou.
— Não, amor, vai sozinha mesmo, eu vou precisar das outras meninas. — Monica diz. Olhei pra ela e quase voei no pescoço dessa vadia, mas respirei fundo e concordei.
Saí de casa e desci até o mercado, peguei tudo da lista e fui pro caixa. Deu sacola pra um caralho, tipo umas vinte, sem brincadeira. Sofri, mas consegui pegar tudo; essa vadia de gibi me pega, puta!
Escutei uma buzina e parei. Vi um carro branco parando na minha frente e a Naty no volante. Faz tempinho que eu não vejo ela; eu fiz mais um programa com ela depois daquela última vez. Porra, me fez delirar, depois ela sumiu.
— Que, ajudar aí, não pô? — Perguntou com aquela voz roxa de molha calcinha, que te deixa ofegante. Toda lerda, do jeitinho que eu tô agora.
— Nossa, eu não vou fazer cu doce não, porque eu tô precisando. — Ela concordou e saiu do carro. Aí, mona, toda séria, nunca vi um sorrisinho dela, nem aqueles de canto. Ela me ajudou a colocar as sacolas no banco de trás e a gente entrou no carro.
— Tá tranquila, pô? — Perguntou e começou a dirigir.
— Tô sim, na medida do possível, né? — Ela concordou; e você? — Dei de ombros — Não apareceu lá mais.
— Até fui semana passada, tu tava no quarto já. — Concordei. — Paguei uma garota nova lá, ruiva se pá. — Concordei.
A gente ficou em silêncio, até ela me deixar na porta da casa da Jô. Desci com ela e ela me ajudou a tirar as sacolas do carro, entrou comigo em casa e nós fomos pra cozinha.
— Naty — Ruiva levantou da cadeira e só deu tempo da Naty deixar as coisas na mesa. A menina pulou no colo dela com as pernas na cintura da Naty e beijou ela. Não entendi nada, igual as outras; a Naty não negou o beijo não — veio me ver.
— Não, porra, só ajudei a Bianca. — A ruiva fez um biquinho, a Naty fez ela descer e arrumou o boné que tinha caído. — Vem aqui, pô, quero bater um papo reto contigo. — Ela puxou a ruiva pra fora da cozinha.
— É, Bianca, tu foi passada pela novata. Quando a Naty vinha aqui, era só tu que ela pagava. Agora não mais, né? A ruiva achou o ovinho de ouro dela, menina esperta. — Monica disse. Nem falei nada, nem rendi esse papo; não tinha nada a ver isso que ela falou.
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Pique Bandida
Novela Juvenil📍Morro Tijuca - Rio de janeiro Comando Rio de Janeiro Bianca é carinhosa Naty é fechada Bianca não gosta de violência Naty é agressiva Bianca é prostituta Naty é traficante Bianca quer alguém que cuida dela Naty mata e morre por ela Início:...