1 de novembro de 2019
Louis
Estou nervoso. Muito nervoso. E tenho certeza que Alice pegou um pouco disso pra ela. A menina passou o voo inteiro estalando os dedos, balançando a perna e perguntando se eu estava bem. Assim que pousamos e descemos do avião, avisei que ia ligar para os meus pais e ela apenas confirmou em silêncio, mas se encarregando de pegar nossa bagagem. Assim que consigo falar com os dois, volto para perto dela e seguro sua mão.
— Vai dar tudo certo. Eles estão nos esperando.
— Então acho que a gente precisa ir né? — A voz trêmula da garota me preocupa. Ela não está tão bem quanto parece.
— Loirinha, o problema deles é comigo, lembra? — Fico de frente para ela, percebendo o quão preocupada ela está. — Não vão fazer nada com você.
— Eu tô preocupada com você.
— Não tem necessidade. — Dou um selinho nela na tentativa de acalmá-la. — Agora vamos, eles estão bem ansiosos.
— Louis, meu filho! — Minha mãe se aproxima, bem exagerada e tenho a impressão de que ela tenta ignorar Alice.
— Oi mãe.
— Oi senhora Campbell.
— Alice, querida. Fiquei tão feliz quando soube que vocês estavam namorando. — Acho que "tão feliz" não é bem o que se encaixa aqui, mas eu nunca teria coragem de contar para a minha namorada que minha mão não gostou muito de saber do nosso relacionamento.
— Filho, como as coisas estão na faculdade? — Meu pai se aproxima e eu congelo. Não tinha outro assunto?
— Muito bem. Pai... — Eu sei que não é a hora, mas é mais forte que eu, Alice aperta minha mão e balança a cabeça de leve, negativamente.
— Oi.
— Senti saudade. — Minto descaradamente. Alice já começou me salvando. — Vamos pra casa?
— Venham, o carro está aqui. Alice, eu carrego isso pra você. — Ele se oferece e eu fico feliz por ver que pelo menos ele não parece estar se esforçando muito para parecer simpático.
— Não precisa.
— Já vi que você é mesmo como seu pai. Como ele está?
— Bem. Ele e minha mãe voltaram para a Alemanha há alguns anos.
— Jura? Por quê? — Minha mãe pergunta assim que entramos no carro e eu já sei o que esperar. Eu pedi que a tratassem com educação, foi só o que eu pedi, mas agora minha vontade é de voltar de onde estamos e seguir o conselho da minha avó.
— Ah, teve um corte de pessoal na empresa e ele foi demitido.
— Sim. Então você mora aqui sozinha?
— Moro sim, desde os dezesseis. — Bom, pelo menos isso deixou os dois impressionados. Eles viviam falando que eu não sou responsável o suficiente para morar sozinho.
— Faz faculdade?
— Faço. Pedagogia. — É nessa hora que eu acho que vou explodir. A cara da minha mãe não é boa, mas felizmente, Alice não está em um lugar que permita que ela veja.
— Gosta de crianças?
— Bastante. — Ela boceja. Talvez o sono contribua para que ela não perceba o tom irônico na voz da mulher sentada no banco da frente.
— Tanto desperdício...
— Oi, mãe? — Não acho que minha namorada tenha escutado, mas meu sangue está fervendo. Eu não queria que isso estivesse acontecendo, é horrível. Meu objetivo esse final de semana vai ser manter Alice o mais longe possível dos meus pais.
— Nada. Vocês estão com fome? — Meu pai pergunta, mudando de assunto. Pelo menos ele está se esforçando. — Podemos parar para comer em algum lugar. — Sinto Alice apenas apertando minha mão, e eu logo entendo o que ela quer dizer.
— Na verdade, estamos muito cansados. Podemos ir direto pra casa?
— Vocês tem certeza?
— Absoluta.
É sexta a noite, então tem algum trânsito até em casa, o que deixa tudo ainda mais desconfortável. Minha mãe já não parecia muito receptiva antes, e então, ela descobriu que Alice trabalha. Se tornou um poço de ironia e fez questão de falar várias vezes sobre como ela e meu pai fazem o que podem para que eu não precise disso tão cedo. Sei que minha namorada se incomodou um pouco, mas ela é muito orgulhosa para admitir. Além disso o cansaço dela é bem visível. Para conseguir vir hoje, ela trabalhou em turno duplo nos dois últimos dias, conciliando com a faculdade e o adiantamento dos trabalhos. Alice está praticamente com os olhos fechados, com a cabeça deitada no meu ombro.
— Loirinha, chegamos. — Minha namorada parece despertar e se não fosse ela ter falado nos últimos dois minutos, pensaria que estava dormindo.
— Ah... sim.
— Vocês vão ficar no seu antigo quarto mesmo. É mais fácil. — Minha mãe fala e eu me preocupo. Eu e Alice no mesmo quarto? Por duas noites? Não sei se vai dar certo.
— Mãe, e o quarto da Lucy? A Alice...
— O quarto de hóspedes está em reforma. Vocês namoram, podem dividir um quarto, não é grande coisa. — Alice só balança a cabeça e eu decido que é melhor conversar com ela sozinho.
— Ok. Nós já vamos então. Até amanhã.
— Durmam bem! — A mulher grita em um falso tom de bom humor, enquanto nós subimos as escadas do apartamento.
— Eles realmente não consideram a Lucy? — Ela pergunta assim que eu fecho a porta do quarto.
— Você viu como é. O nome dela é quase proibido. — Fico em silêncio, pensando em como abordar esse assunto. — Sobre o quarto...
— Tudo bem.
— Você tem certeza? Eu acho que tem um colchão em algum lugar e eu posso pegar se você quiser.
— Lou, não precisa. Eu confio em você. — Não consigo conter um sorriso.
— É bom ouvir isso.
— É bom sentir também. — Ela segura a minha mão e me beija. Consigo sentir a segurança na voz dela e isso é um bom sinal. É tão bom saber que tenho feito tudo certo até agora, que ela acredita em mim.
— Tem certeza que...
— Ei popstar, você está mais nervoso que eu.
— Não quero que você se sinta desconfortável.
— Eu não estou desconfortável, eu juro. Eu só preciso de um banho e de uma boa noite de sono.
— O banheiro é aqui. Tem toalha limpa no armário. — Falo depois de confirmar.
— Obrigada. Já volto. — Ela pega o pijama na mala e eu ouço a porta do banheiro sendo trancada, com as duas trancas. Talvez ainda tenha algo que possamos trabalhar.
Ela não demora muito no banho, ou eu acho que não. Assim que ela sai, eu entro e acho que demoro demais, já que quando eu saio, ela já está dormindo de um lado da minha cama. Fico indeciso, sem saber o que fazer, onde me deitar. Não quero assustá-la, não quero que ela acorde e pense que algo aconteceu. Decido que é melhor dormir no chão essa noite. Eu pego alguns cobertores, improviso um colchonete com eles e me deito. O cansaço em mim é tanto que nem me importo com o quão desconfortável fico, apenas adormeço rapidamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Summer Love
Ficção AdolescenteEm 2016, as famílias de Alice e Louis decidiram passar o 4 de julho juntas, fazendo assim, com que os dois adolescentes se encantassem um pelo outro, mas depois do feriado, eles perderam completamente o contato. Três anos mais tarde, Louis cruza o p...