Capítulo 61

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20 de novembro de 2019

Louis

A campainha da casa de Lucy toca desesperadamente, no meio de uma tarde de quarta feira. Isso não é normal e em qualquer dia comum esse lugar estaria vazio, mas eu resolvi passar o dia por aqui para tentar finalizar algumas músicas. Uma das vantagens da gravadora é que eu não preciso necessariamente estar lá. Eu posso trabalhar aqui e mandar o que eu fizer para os produtores, ou até mesmo para Victoria. Tento ignorar a campainha aos berros e focar nos versos na minha frente, mas a insistência me preocupa.

— Alice? O que você está fazendo aqui? — Ela deveria estar trabalhando, o que houve?

— Hope ligou pra Lucy e ela disse que você estava aqui. — Hope? Lucy? O que está acontecendo?

— O que está acontecendo? Por que você está chorando? Alguém te fez alguma coisa?

— Lou... eu... — Ela não consegue falar e isso só me deixa mais apavorado. Será que aquele maluco apareceu? Fez alguma coisa com ela?

— Loirinha, por favor, tenta se acalmar. Senta aqui.

— Não queria te atrapalhar. — Ela fala olhando para o violão e o caderno jogados na sala.

— Não está atrapalhando, estou adiantado hoje. — Não é mentira. — Agora respira. Pronto, está mais calma?

— Um pouco.

— Tenta falar agora.

— Eu fui demitida. Não tenho mais como me sustentar aqui. — Não pode ser. Se ela não chorasse tanto, ia pensar que isso é alguma pegadinha.

— Como assim? O Tom ficou maluco?

— Ele vai mudar tudo lá. A lanchonete não vai mais ficar aberta a noite então ele não precisa de tanta gente. — Isso é insanidade, aquele lugar é famoso justamente por isso. — Eu e mais quatro fomos mandados embora.

— Ei Loirinha, fica calma, nós vamos resolver isso.

— Não tem como resolver isso, Louis. — Impossível não pode ser.

— Como não?

— Meus pais não podem me mandar dinheiro, eu não posso ficar mais de duas semanas sem trabalho ou então vou me afundar em dívidas. Só tem uma coisa que eu posso fazer.

— E o que é? — Se tem uma coisa, é isso que ela deve fazer.

— Eu vou ter que ir pra Alemanha, preciso voltar a morar com meus pais. — NÃO. Tudo menos isso.

— Alice, não. Você está muito nervosa. Vem comigo. — Penso em uma coisa que pode funcionar.

— Onde?

— Ver minha avó.

Mando uma mensagem rápida para Victória, avisando que provavelmente até o fim da tarde não vou mandar mais nada, mas que amanhã bem cedo, a música vai estar pronta e o arquivo com ela. Só preciso de mais duas estrofes e eu posso virar a noite se precisar, mas agora eu preciso ajudar Alice, e minha avó vai conseguir acalmá-la. Minha namorada passa o caminho todo tentando se segurar, mas em alguns momentos, vejo uma lágrima ou outra escorrendo no rosto dela.

— Oi vó. — Falo enquanto entramos na casa dela.

— Oi, vocês não falaram que iam vir hoje... que houve? — Ela repara em Alice, que está completamente abatida.

— Vó, ajuda a gente. — Antes que ela fale alguma coisa, já elimino uma opção que eu tenho certeza que ela pensou. — Não, ela não está grávida. — Ela dá um sorriso e balança a cabeça.

— Então o que pode ser?

— Ela perdeu o emprego, vó. E agora quer ir pra Alemanha. — Falo como se fosse uma insanidade.

— Eu não posso ficar sem trabalhar, eu preciso de dinheiro e sem ele, essa é a única solução.

— Menina, respira. — Elas respiram juntas e Alice se acalma instantaneamente. — Me explica melhor.

— Eu fiz um acordo com meus pais quando eles se mudaram. Eu ficaria aqui, contando que conseguisse me manter, caso contrário, eu teria que voltar a morar com eles.

— Mas você tem um prazo né? — Isso, um prazo.

— Pouca coisa, eu não posso ficar sem trabalhar, tenho muita conta pra pagar e encontrar um lugar que pague tão bem é difícil.

— Alice, você precisa respirar, não vai fazer bem pra nenhum de vocês se você continuar tão nervosa. — Minha avó se preocupa com minha namorada, que começa a se desesperar outra vez.

— Tá bom.

— Vó, ajuda a gente.

— Meu menino, você conhece sua namorada bem o suficiente pra saber que ela não vai aceitar dinheiro meu ou de ninguém.

— Não mesmo.

— Linda por favor, a gente pode te ajudar até você encontrar outro lugar pra trabalhar.

— Não vou ficar dependente de alguém outra vez, Lou. — Ela é irredutível, mas eu não vou desistir.

— Alice, me escuta. — Minha avó toma o controle outra vez. — Você não quer ir pra longe né? Não nessa situação.

— É verdade.

— Algo me diz, que nesse ponto você já pagou a passagem de Nova Iorque pro Louis.

— Cada centavo. — Confirmo.

— Eu ajudo o Louis, coisa pouca por mês, só pra ele conseguir comprar comida e colocar gasolina, só que agora trabalhando na gravadora, já tá recebendo não é?

— Melhor do que eu imaginei, eles realmente investem na gente, querem que eu fique só por conta da música.

— Eu pensei em passar um pouco do que eu costumo te dar pra Alice. — Ela fala para mim e imediatamente eu concordo.

— Não. Eu não posso aceitar isso.

— Calma menina, eu vou te emprestar esse dinheiro. Você anota tudo e quando conseguir outro emprego, me paga devagar, no seu tempo. — É a solução perfeita, Alice nunca aceitaria que déssemos o dinheiro, mas emprestado, provavelmente.

— Não sei...

— Linda, é o melhor que pode acontecer agora.

— Ele está certo. Eu não posso te deixar desamparada, não num momento desse. — Minha avó está diferente, não consigo lembrar se é de agora ou se já tem um tempo.

— Você promete que vai receber o dinheiro de volta?

— Achei que você não gostasse de promessas. — Tento descontrair um pouco.

— Não gosto, mas abro uma exceção.

— Eu prometo. — Minha avó fala confiante.

— Tudo bem então. Mas por pouco tempo também.

— Fica calma. Vai dar tudo certo. — Abraço a garota já mais calma e minha avó sorri nos encaramos.

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