Capítulo 23

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Louis

O caminho até aqui foi tranquilo. Por mais que eu tenha percebido Alice inquieta, não a julgo. Na verdade, me lembrei de Grace naquela festa. Acho que eu nunca ia conseguir viver direito se estivesse em constante estado de alerta. Tentei amenizar a situação colocando algumas músicas e conversando. Aos poucos ela se soltou e quando viu onde estávamos, sorriu tímida.

— Santa Mônica? — Ela sai do carro e eu observo como ela fica ainda mais bonita com as luzes do pôr do Sol no rosto.

— Aham.

— Você disse que eu ia gostar da surpresa. — Eu disse...

— Bom... considerando que eu lembro que você não gosta de praia, e que minha única intenção é ir no píer, acho que ainda existe alguma chance. — Tento contornar a situação e ela sorri. O cabelo dela sendo atrapalhado pelo vento deixa tudo tão perfeito. Eu poderia morar nessa cena.

— Ok, talvez eu tenha gostado um pouquinho.

— Ei isso foi um sorriso?

— Está me deixando envergonhada.

— Uma frase que eu não imaginei que um dia fosse ouvir sair da sua boca. — Alice não era o tipo de garota que se envergonhava facilmente. A menina na verdade, não tinha um pingo de vergonha na cara.

— Eu já disse muita coisa que eu pensei que nunca diria, Louis. — Isso está prestes a ficar profundo.

— Tipo? — Ela pensa bastante antes de responder.

— Tipo "qual o seu pedido?"

— Engraçadinha. Você parece gostar de trabalhar.

— Hoje eu amo aquilo, além de ser minha fonte de renda. Mas no início era um pesadelo.

— A princesinha do papai indo trabalhar. — Implico um pouquinho.

— Foi horrível. Eu passei dezesseis anos tendo tudo, sabe? E do dia pra noite tive que começar a me virar. — Isso me lembra um pouco da minha irmã. Não que ela tivesse tudo antes, mas com certeza tinha uma vida muito mais fácil da que tem hoje.

— Imagino que deve ter sido difícil.

— E foi. Entrei numa vida completamente diferente. Mas hoje eu vejo que foi bom, me ajudou a amadurecer mais.

— Realmente, essa maturidade é bem visível. — Falo de forma irônica, já que ela ainda aparenta ter a mesma idade de três anos atrás.

— Palhaço. — Finalmente chegamos no final do píer e olhamos de volta para a cidade. — A vista daqui é linda a noite.

— Muito. — Não estou falando mais da vista.

— Louis, você nem tá olhando. — Ela se vira pra mim.

— Tô sim. — Estou olhando para algo bem mais bonito do que a cidade iluminada.

— Lou, por favor. — Percebo que ela realmente está sem graça e desvio o olhar para o chão.

— Desculpa.

— Tudo bem, é só que... junto com a maturidade veio a timidez.

— Você fica ainda mais bonita quando fica sem graça. — Ela fica sem reação mais uma vez. — Foi mal.

— Está tudo bem.

— Você tem noção do quanto eu tenho vontade de terminar aquilo que eu comecei há mais de três anos? — Arrisco me aproximar mais um pouco e ela não se afasta. Isso é um bom sinal, certo?

— Louis, eu disse que podíamos ser amigos.

— Eu sei, por isso não vou mexer um músculo. É você quem vai decidir se isso deve acontecer ou não. — Estou lutando para manter meu corpo parado. O que eu mais quero é beijá-la, mas nunca faria isso sem a permissão dela.

— Por favor, não faz isso.

— Alice, eu... — E então ela me beija.

Isso é real? Alice está me beijando? Eu deixei nas mãos dela, e ela decidiu me beijar? Eu provavelmente estou sonhando agora. Coloco as mãos em sua cintura devagar, e ela brinca com meu cabelo. Meu Deus, eu estou beijando Alice.

— Menina, você vai me deixar maluco. — Falo assim que nos separamos, mas ela parece estar em uma espécie de choque.

— Eu... eu não deveria ter feito isso. — Vejo os olhos dela se enchendo de lágrimas, que em poucos segundos vão embora. Uau, o que ela tem?

— Por quê? — Eu quero entendê-la, quero ajudá-la, mas pra isso, ela precisa deixar.

— Porque eu não posso.

— Alice, você já disse que seus pais não se importam, já disse que não namora. O que realmente te impede? — Eu quero saber, eu preciso saber. É agoniante ver que ela está machucada, ver que ela tem medo, e não saber o que aconteceu, o que foi tão ruim a ponto de fazer com que ela criasse uma casca contra tudo e todos.

— Eu não quero falar disso. Por favor, me leva pra casa.

— Mas...

— Por favor. — A voz dela parte meu coração. Sai como um misto de desespero e melancolia. Ai Alice, por quê não me deixa te ajudar?

Voltamos em silêncio para o carro. Consigo ver o medo nos olhos dela, enquanto ela se ajeita no banco de trás. Cada dia que passa, eu fico mais certo de que alguma coisa mais grave realmente aconteceu, mas odeio pensar nisso, odeio pensar no que essa menina pode ter passado. Odeio vê-la dessa forma. Quebrada. A exaustão a vence durante o trajeto e assim que chego no endereço que ela passou ainda na praia, percebo que vou ter que acordá-la. Eu não queria ter que fazer isso, ela é tão linda enquanto dorme. Abro a porta de trás do carro e me sento ao lado dela. Quando tiro uma mecha do cabelo do rosto dela, a garota dá um pulo. Esse é o sono mais leve que eu já vi na minha vida. Ela dorme com um alarme instalado no cérebro?

— Não encosta em mim. — É a primeira coisa que ela fala, se afastando bruscamente. Se a porta do lado dela estivesse aberta, com certeza tinha caído na rua.

— Eu não encostei em você.

— Encostou sim. Eu senti. Sua mão bem perto do meu rosto. — Ela tem um alarme, um sensor ou algo do tipo.

— Você não tava dormindo?

— Eu tenho o sono leve.

— Percebi. Mas eu não encostei em você, só fui tirar o cabelo do seu rosto, eu juro.

— Onde a gente tá? — Ela tira o cinto de segurança. — Por que o carro tá parado? O que você tá fazendo aqui? — Ela me olha e percebe que estou bloqueando a saída mais fácil no momento.

— Ei loirinha, devagar. A gente tá na porta da sua casa. — Começo a sair do carro. — Eu só estou aqui atrás porque ia te acordar.

— Eu já estou acordada. Preciso ir, obrigada pela carona. — Ela sai assim que encontra uma oportunidade e se afasta de mim super rápido.

— A gente se vê?

— Aham. Até mais. — Isso me dá um fio de esperança. Se ela ainda quer me ver, não está tudo perdido, está?

— Até.

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