Capítulo 51

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18 de outubro de 2019

Louis

Estou nervoso, mas não como quando fui tocar a música para Alice, não como quando decidi me mudar pra Los Angeles, é muito pior, é infinitamente pior. Estou prestes a entrar em uma sala com uma empresária conhecida e produtores de música. Até antes de chegar aqui eu acreditava que era tudo uma brincadeira, que eu ia falar meu nome e iam rir de mim, me mandando pra casa e falando que nunca marcariam uma reunião dessa forma. Eu estava engando. Me mandaram aguardar e eu entrei em desespero. Conferi umas mil vezes se trouxe tudo que pediram: músicas, meu violão, meus documentos. Ainda assim, sinto que estou esquecendo de alguma coisa.

— Louis Campbell. Me acompanhe, vão te receber agora. — Eu não pensei nem que fosse conseguir ficar de pé de tanto que estou tremendo. Ainda bem que estou com uma blusa preta, porque estou suando tanto que provavelmente estaria toda marcada se fosse mais clara.

— Boa tarde, Sr. Campbell. — A mulher que reconheço como Victoria me recebe na porta da sala.

— Boa tarde. É... pode me chamar de Louis. — Bom, eu sempre prefiro que me chamem pelo nome, assim não sinto que sou igual ao meu pai.

— Tudo bem, vamos começar? — Balanço a cabeça concordando e ela abre a porta, revelando uma mulher negra, alta, com poucos acessórios e com um sorriso no rosto. Ela não deve ser muito mais velha que Lucy. Ao lado da mulher, um homem branco, com algumas tatuagens visíveis, com cabelo curto, brincos e um colar com um pingente de guitarra no pescoço.

— Boa tarde, Louis. Eu me chamo Scarlett, e esse é meu colega, Jaden. — Ela se apresenta e percebo que ela é muito mais simpática do que aparentava. — Somos os produtores que estarão na sua equipe caso seja contratado.

— É um prazer.

— Eu sou a Victoria. — Pura formalidade. Eu já sei quem ela é, e ela sabe disso. — Eu entrei em contato por email e por telefone com você. Antes de começarmos, nós três gostaríamos de ouvir um pouco mais sobre você. — Odeio isso. Eu nunca sei falar de mim sem parecer egocêntrico e narcisista. Não sei exatamente o que eles querem ouvir.

— Bom, meu nome é Louis, tenho dezoito anos. Eu nasci aqui em Los Angeles, mas me mudei para Nova Iorque com oito anos. Desde bem pequeno eu sou apaixonado por música, eu e minha irmã mais velha sempre nos apoiamos muito.

— Soubemos que você compõe também. — Jaden fala pela primeira vez e a voz condiz exatamente com a personalidade que ele exala.

— Sim. Eu faço músicas também. Desde que me entendo por gente eu faço letras, melodias. Uso todo o meu tempo livre para fazer música. — Vejo os três sorrindo e se encarando. Eles conversam com olhares e eu torço os dedos por baixo da mesa de vidro, como se eles não fossem notar que estou no auge do meu nervosismo.

— E o que é a sua música? — Como é? Que tipo de pergunta é essa? Que tipo de resposta ele quer?

— Minha música? Bom, acho que não dá pra realmente separar o que é a música do que sou eu, é como se fôssemos uma coisa só. Eu canto sobre o que eu sou, sobre o que eu sinto. Sem a música eu acho que me sentiria muito vazio. — Eu falo sem nem entender direito o que tô fazendo, mas ainda tentando não travar no meio de cada frase.

— Perfeito. — Isso foi bom ou ruim? — Você trouxe o que pedimos?

— Sim. Os documentos, as duas músicas que pediram e o violão.

— Violão? — Scarlett questiona e eu congelo. Não era pra trazer? Como não falaram nada até agora? Tem uma coisa preta de todo tamanho do meu lado.

— Eu pedi pra ele trazer pra uma pequena demonstração. — Victoria confirma que não estou louco e eu solto o ar que tinha prendido.

— Mas Vic, temos violões aos montes aqui.

— Mas foi um pedido informal, eu apenas dei a sugestão. Queria saber o grau de comprometimento dele. — Nisso eu sei que me dei bem, então dou um sorriso fraco.

— A ideia foi boa. E já que estamos aqui, pode tocar um pouquinho.

Me ajeito na cadeira, consertando minha postura e ajeitando o violão na minha perna, enquanto decido em silêncio, qual das duas músicas tocar. Por fim, escolho "Welcome to Wonderland", pois deduzo que os três já escutaram "Promises". Fico completamente à vontade e quando termino a primeira parte da música, paro de tocar e encaro os três, que mal piscam.

— Garoto, você tem futuro. — Jaden fala sorrindo.

— E então, o que vocês dois dizem? — Victoria olha para os dois e ambos sorriem.

— Acho que temos um talento nato nas mãos, e deixá-lo escapar seria burrice. — Scarlett completa e meu nervosismo vai dando lugar a empolgação.

— Louis, nós precisaremos de um prazo para realmente organizar o contrato, com seus documentos corretos e apresentar a proposta para o dono da gravadora também. Ele gosta de estar ciente do que acontece aqui.

— Espera, isso quer dizer que eu vou realmente começar a trabalhar aqui?

— Vai garoto. — Ela sorri, extremamente simpática. — Nós tomamos a decisão, então a partir de agora, é pura formalidade. A não ser, é claro, que aconteça algo que o impeça de trabalhar conosco, ou que você faça algo que vá de encontro com os ideais da gravadora.

— Nossa. Eu nem consigo acreditar. É um sonho se realizando.

— A gente consegue ver bem. Vamos marcar a assinatura do contrato para o dia sete, pode ser? — Ela fala enquanto confere algo no celular, provavelmente a agenda.

— Pode sim, qual horário?

— Eu te ligo confirmando. Talvez essa data sofra alguma alteração também, mas nada muito significativo, um dia a mais ou a menos, no máximo dois. Vou estar em contato constante com você, a partir de agora. Ah, e no dia você talvez conheça o responsável por fazer isso tudo aqui funcionar e o resto da sua equipe.

— Como assim, minha equipe? — É quase impossível de acreditar que isso realmente está acontecendo.

— É. A B&G trabalha com uma equipe fixa para cada artista. Você começa com poucas pessoas, mas na medida que ficar reconhecido, mais gente se empenha pra te ajudar. Marketing, produção musical, compositores. Você decide a maioria. — É bom saber disso. Não tenho certeza se quero compositores. Ok, eles são profissionais, mas eu gosto das minhas músicas do meu jeito.

— Entendi.

— Pode ir com a Scarlett até a recepção para fazerem a cópia dos documentos e das músicas para serem anexadas. Depois disso, você está liberado.

— Obrigado. — Saio radiante da sala, e é impossível não sorrir durante todo o processo. Verifico as horas várias vezes no celular, Alice já está na lanchonete. Eu não pensei que fosse demorar tanto aqui.

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