Alice
Quando passa das nove, o movimento diminui e eu finalmente começo a me acalmar. A correria do café da manhã é insuportável, e se mesmo no inverno nós ficamos suadas, agora no verão é imensamente pior. O calor da cozinha invade o balcão e a gente quase assa nos horários de maior movimento.
Finalmente chega o horário do meu intervalo e eu já até imagino o que eu vou pegar pra comer hoje, mas a porcaria da porta da frente se abre antes que eu chegue ao meu objetivo. Quando me viro, travo ao perceber quem é o garoto que entrou e saio do campo de visão dele o mais rápido possível.
— Que isso, menina? — Minha amiga pergunta assustada quando me vê entrando no lugar abaixada.
— Hope, por favor atende o garoto que chegou agora.
— Tá devendo é? — Ela brinca mas logo percebe que estou falando sério.
— Hope, é o Louis.
— Outra vez, isso? Deve ser o décimo Louis desse ano. — Talvez eu não tenha muito crédito quando se trata dele, mas dessa vez eu tenho certeza absoluta.
— E que culpa eu tenho se o garoto tem a cara comum?
— Comum é apelido. Se balança uma árvore por aqui, capaz de cair uns dez iguais a ele. — Falei isso uma vez e virou piada nossa. Qualquer pessoa que seja minimamente dentro do padrão vai ser citada dessa forma por nós.
— Eu sei, mas dessa vez é ele mesmo.
— Como você tem certeza?
— Porque eu vi o rosto dele, eu nunca esqueceria aquele rosto.
— Ele te viu?
— Tomara que não. — Tomara mesmo que não. — Agora vai, mesa quatro.
— Aquela mesa é horrível. — É provavelmente nossa pior mesa, ela fica num canto afastado, longe de janelas e é impossível saber o motivo dele ter escolhido aquela quando tem pelo menos outras cinco vazias.
— Para de enrolar e vai logo. Tenta perguntar alguma coisa. — Só pra confirmar que é mesmo ele.
— Tipo o quê?
— Sei lá, se vira. O nome, se ele é daqui. Essas coisas.
— Ai, tá. Mas eu quero metade da sua pausa da tarde.
— Fechado. Vai.
Observo de longe enquanto minha amiga conversa um pouco com o garoto e quando ele sorri, tenho a certeza de que é o Louis. Eu posso não lembrar de muitas coisas, mas esse sorriso é impossível de ser esquecido. Ela volta me olhando torto e assim que entramos na cozinha, ela me entrega o pedido dele.
— Um milkshake de morango. — Ela sorri e eu provavelmente estou apavorada. E em três anos eu fui de "termina o que começou" pra "ele não pode me ver".
— Ele disse que é o preferido dele.
— Nome?
— Louis. — Chega. Eu finalmente posso falar que estava certa.
— Eu disse que era ele.
— Tem mais uma coisinha.
— Ah pronto. Fala.
— Ele disse que tá super feliz porque está se mudando de Nova Iorque pra cá, e que vai poder voltar a vir aqui com frequência. — Por que essa criatura vai morar aqui?
— Ele vai o quê?
— Pelo menos você tem certeza que é ele. E por sinal, ele é lindo mesmo Alice, mandou bem.
— Cala a boca, eu não posso mais ficar com ele, e você sabe.
— Para de pensar assim. — Fácil pra ela falar. — Óbvio que você pode ficar com ele, o que te impede?
— Você sabe muito bem o que me impede. Ninguém mais vai entrar nessa bagunça. — Essa conversa está começando a me incomodar e ela começa a perceber meu desconforto.
— Alice, dá uma chance. Ele é tão lindinho, tão simpático.
— Ele ainda fala muito?
— Pelos cotovelos. Perguntei o que ele ia pedir e recebi um relatório da vida dele. — Confesso que sinto saudade da voz dele.
— Ele não muda mesmo.
— Mesa quatro. — O garoto que faz os sorvetes coloca a bandeja com o milkshake na nossa frente.
— Vai levar. — Hope empurra para mim.
— Nem se me pagarem.
— Alice, por favor.
— Não insiste Hope, eu não posso.
— Menina teimosa.
— E você é insistente. Odeio gente insistente.
— Eu sei, mas eu faço só pra implicar. E você sabe disso.
— Leva logo esse milkshake pra ele. — Esse negócio vai virar um suco daqui a pouco.
— Alice, tadinho dele. Vai lá.
— Tadinho por quê?
— Ele é um amor, pelo menos fala um oi.
— Hope, eu não vou. Desiste.
— Você pode não ir hoje, mas não vai fugir por muito tempo. Ele disse que está se mudando, lembra? — Por um segundo penso na ideia de fugir pra ir morar com meus pais.
— Mas você é uma amiga incrível que vai se encarregar de atender a mesa dele sempre.
— Nem vem. Eu posso até tentar te ajudar, mas não garanto nada não.
— O que eu vou fazer?
— Engolir esse medo e aceitar falar com ele.
— Por enquanto eu vou deixar o medo aqui pertinho. Ele é válido.
— Alice, não faz sentido algum. — Hora de parar por aqui. Ou então nós duas sabemos como essa conversa vai acabar.
— Você sabe que faz, Hope. Não vou mais falar disso.
— Tudo bem, foi mal. — Ela não parece ter realmente aceitado a derrota, mas pelo menos pega a bandeja com o milkshake e leva até Louis.
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Summer Love
Teen FictionEm 2016, as famílias de Alice e Louis decidiram passar o 4 de julho juntas, fazendo assim, com que os dois adolescentes se encantassem um pelo outro, mas depois do feriado, eles perderam completamente o contato. Três anos mais tarde, Louis cruza o p...