Capítulo 13

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Alice

Quando passa das nove, o movimento diminui e eu finalmente começo a me acalmar. A correria do café da manhã é insuportável, e se mesmo no inverno nós ficamos suadas, agora no verão é imensamente pior. O calor da cozinha invade o balcão e a gente quase assa nos horários de maior movimento.

Finalmente chega o horário do meu intervalo e eu já até imagino o que eu vou pegar pra comer hoje, mas a porcaria da porta da frente se abre antes que eu chegue ao meu objetivo. Quando me viro, travo ao perceber quem é o garoto que entrou e saio do campo de visão dele o mais rápido possível.

— Que isso, menina? — Minha amiga pergunta assustada quando me vê entrando no lugar abaixada.

— Hope, por favor atende o garoto que chegou agora.

— Tá devendo é? — Ela brinca mas logo percebe que estou falando sério.

— Hope, é o Louis.

— Outra vez, isso? Deve ser o décimo Louis desse ano. — Talvez eu não tenha muito crédito quando se trata dele, mas dessa vez eu tenho certeza absoluta.

— E que culpa eu tenho se o garoto tem a cara comum?

— Comum é apelido. Se balança uma árvore por aqui, capaz de cair uns dez iguais a ele. — Falei isso uma vez e virou piada nossa. Qualquer pessoa que seja minimamente dentro do padrão vai ser citada dessa forma por nós.

— Eu sei, mas dessa vez é ele mesmo.

— Como você tem certeza?

— Porque eu vi o rosto dele, eu nunca esqueceria aquele rosto.

— Ele te viu?

— Tomara que não. — Tomara mesmo que não. — Agora vai, mesa quatro.

— Aquela mesa é horrível. — É provavelmente nossa pior mesa, ela fica num canto afastado, longe de janelas e é impossível saber o motivo dele ter escolhido aquela quando tem pelo menos outras cinco vazias.

— Para de enrolar e vai logo. Tenta perguntar alguma coisa. — Só pra confirmar que é mesmo ele.

— Tipo o quê?

— Sei lá, se vira. O nome, se ele é daqui. Essas coisas.

— Ai, tá. Mas eu quero metade da sua pausa da tarde.

— Fechado. Vai.

Observo de longe enquanto minha amiga conversa um pouco com o garoto e quando ele sorri, tenho a certeza de que é o Louis. Eu posso não lembrar de muitas coisas, mas esse sorriso é impossível de ser esquecido. Ela volta me olhando torto e assim que entramos na cozinha, ela me entrega o pedido dele.

— Um milkshake de morango. — Ela sorri e eu provavelmente estou apavorada. E em três anos eu fui de "termina o que começou" pra "ele não pode me ver".

— Ele disse que é o preferido dele.

— Nome?

— Louis. — Chega. Eu finalmente posso falar que estava certa.

— Eu disse que era ele.

— Tem mais uma coisinha.

— Ah pronto. Fala.

— Ele disse que tá super feliz porque está se mudando de Nova Iorque pra cá, e que vai poder voltar a vir aqui com frequência. — Por que essa criatura vai morar aqui?

— Ele vai o quê?

— Pelo menos você tem certeza que é ele. E por sinal, ele é lindo mesmo Alice, mandou bem.

— Cala a boca, eu não posso mais ficar com ele, e você sabe.

— Para de pensar assim. — Fácil pra ela falar. — Óbvio que você pode ficar com ele, o que te impede?

— Você sabe muito bem o que me impede. Ninguém mais vai entrar nessa bagunça. — Essa conversa está começando a me incomodar e ela começa a perceber meu desconforto.

— Alice, dá uma chance. Ele é tão lindinho, tão simpático.

— Ele ainda fala muito?

— Pelos cotovelos. Perguntei o que ele ia pedir e recebi um relatório da vida dele. — Confesso que sinto saudade da voz dele.

— Ele não muda mesmo.

— Mesa quatro. — O garoto que faz os sorvetes coloca a bandeja com o milkshake na nossa frente.

— Vai levar. — Hope empurra para mim.

— Nem se me pagarem.

— Alice, por favor.

— Não insiste Hope, eu não posso.

— Menina teimosa.

— E você é insistente. Odeio gente insistente.

— Eu sei, mas eu faço só pra implicar. E você sabe disso.

— Leva logo esse milkshake pra ele. — Esse negócio vai virar um suco daqui a pouco.

— Alice, tadinho dele. Vai lá.

— Tadinho por quê?

— Ele é um amor, pelo menos fala um oi.

— Hope, eu não vou. Desiste.

— Você pode não ir hoje, mas não vai fugir por muito tempo. Ele disse que está se mudando, lembra? — Por um segundo penso na ideia de fugir pra ir morar com meus pais.

— Mas você é uma amiga incrível que vai se encarregar de atender a mesa dele sempre.

— Nem vem. Eu posso até tentar te ajudar, mas não garanto nada não.

— O que eu vou fazer?

— Engolir esse medo e aceitar falar com ele.

— Por enquanto eu vou deixar o medo aqui pertinho. Ele é válido.

— Alice, não faz sentido algum. — Hora de parar por aqui. Ou então nós duas sabemos como essa conversa vai acabar.

— Você sabe que faz, Hope. Não vou mais falar disso.

— Tudo bem, foi mal. — Ela não parece ter realmente aceitado a derrota, mas pelo menos pega a bandeja com o milkshake e leva até Louis.

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