Estavamos deitados nus em minha cama, minha cabeça apoiada em seu peito e sua mão envolta de minha cintura. O silêncio reconfortante tomava conta do quarto, nos deixando presos em pensamentos sobre o ocorrido de hoje mais cedo.
9:05pm marcava o relógio. Estava mais cedo do que eu imaginei que estaria.
Nesse momento tenho a sensação que qualquer pessoa que olhar pra mim saberia que estou presa em uma imersão de pensamentos sobre o passado e a conversa de hoje mais cedo, no fundo eu tinha a noção que não gostaria que aquilo acontecesse, não queria que terminasse assim, talvez uma pequena esperança se ascendeu em meu peito quando ela disse que tudo o que aconteceu não era bem do jeito que eu esperava. E ela estava certa. Eu esperava um pedido de desculpas e uma explicação descente que não fizesse esse aperto no peito doer tanto.
-Aquele cara no restaurante é meu pai, meu pai biológico. -Luke quebra o silêncio do quarto. -Ele era viciado em jogos, e na maioria das vezes que não estava ganhando ele estava perdendo, mas tudo era motivo pra beber. Minha mãe sempre dizia "ele só está nervoso, é só uma maneira dele afogar a tristeza" e eu sempre acreditava, é o que uma criança de catorze anos espera e elas acreditam nos pais. Tudo piorou quando eu descobri que nos dias que ele chegava tarde, bêbado, ele estava batendo nela. -acaricio seu peito e não digo nada, era o melhor, mas eu também não sabia o que dizer além de "sinto muito". -Sempre que tentava interferir ela me impedia e me mandava voltar pra cama, isso durou um ano e meio, até que um dia eu acordei com um barulho alto vindo do andar de baixo da casa, olhei minha irmã no quarto pra ver se ela não havia acordado com o barulho e fechei a porta de seu quarto quando sai. Ao chegar na sala eu vi a cena que nunca irei esquecer, meu pai estava batendo na minha mãe, a mesma pessoa que deveria nos proteger estava lá batendo na mesma mulher que prometeu amar e cuidar. Sem pensar duas vezes eu fui pra cima dele, mas não durou muito tempo. Ele começou a me bater, eu ouvia minha mãe gritando pra ele parar que iria me matar, mas ele não parava, ele não parava. -sua voz estava distante. -Meu pai, iria me matar sem pensar duas vezes. Até hoje eu não me lembro como minha mãe o fez sair de cima de mim, mas ela o fez. Depois disso eu só me lembro de acordar no hospital.
Fico em silêncio tentando processar tudo o que ele me disse.
Quando vi sua mãe no dia que Elinor foi ver o apartamento nunca se passou pela minha cabeça que aquela mulher sorridente e com os olhos cheios de vida havia passado por tudo isso.
-Eu sinto muito. -digo mesmo sem saber o que realmente dizer pra ele. -Mesmo. -olho em seus olhos e ele sorri, e leva um de seus dedos até a ponta do meu nariz dando um pequeno aperto com o dedo indicador.
Me arrumo em seu corpo novamente, e procuro um meio de como começar a falar sobre o que aconteceu hoje na sala da minha casa.
Respiro fundo e começo. -Aquela moça que estava na sala é minha mãe. -o sinto mexer a cabeça e com um pequeno movimento o vejo me olhando com a testa franzida. -Na manhã do meu aniversário de dezessete anos meus pais me acordaram e me pediram pra fazer as malas pois iriamos viajar pro meu lugar favorito, eu me lembro de pular da cama animada e arrumar todas as minhas coisas. Eu realmente arrumei todas, tinha até coisas desnecessárias dentro da mala. -sorrio ao lembrar das coisas que enfiei na mala. -Horas depois de viagem eu comecei a estranhar, não estavamos nem perto do aeroporto, mas eles não me respondiam, era como se eu não estivesse gritando no banco de trás. Depois de um bom tempo eu fui acordada e estávamos em um estacionamento, eu estranhei o lugar, foi então que meu pai deixou minhas coisas no estacionamento e minha mãe me entregou algumas coisas, uma delas era a chave de um apartamento que estava em meu nome e a outra era uma maleta. Eu nunca a abri. E depois disso eles foram embora sem olhar pra trás, eu fiquei desamparada e alguns minutos depois de me recuperar eu peguei minhas coisas e subi pro apartamento, até por que não tinha mais nada que eu pudesse fazer, meus pais não iriam voltar se eu ficasse lá jogada chorando. -respiro fundo.
-Eu sinto muito, seus pais não deveriam ter feito isso com você. -ele me aperta mais contra seu corpo. -Deve ter sido dificil. -afirmo.
-Ela veio aqui para se "explicar". -faço aspas com minha mão livre. -E eu acabei descobrindo que eles fizeram isso por conta de uma grana que deviam para pessoas perigosas, e que eu não merecia essa vida de ficar sempre fugindo. Mas parece que eles queriam cometer tal ato, pois um ano depois do ocorrido essa tal divída havia sido paga. -seguro as lágrimas que insiste em cair como nunca.
Não dura muito quando caio em lágrimas, tudo que segurei durante esses anos vem atona, a angustia, o medo, a insegurança, o medo do desconhecido, tudo vem atona. Luke me aperta mais em seus braços mas quando percebe que isso não está me ajudando, com suas mãos habilidosas mãos ele me puxa com um movimento para deitar em seu corpo nu. Sinto seu membro em minhas partes baixas mas não me importo, eu só quero chorar como uma criança que ralou o joelho no asfalto da rua, uma criança perdida.
Suas mãos fazem carinho em meu cabelo enquanto sussura que está tudo bem e que vai ficar tudo bem. Aos poucos sinto meus olhos se pesando e acabo dormindo com seu carinho em meus cabelos.
(...)
Sinto uma luz batendo em meu rosto, abro os olhos e percebo já ser de dia, me viro para olhar o relogio na mesinha ao lado de minha cama. 5:02.
Cedo demais.
Coloco minha roupa de ginástica e caminho até a pequena acadêmia em meu quarto deixando Luke dormindo com sua bela bunda descoberta pelo cobertor. Não seria eu a pessoa a estragar essa visão dos deuses.
Começo fazendo 30 polichinelos e 20 burpee, e pelos próximos 50 minutos fico socando o saco de pancadas. Melhor maneira pra aliviar o estresse.
Quando acordei hoje cedo era como se um grande peso havia saído de minhas costas me deixando mais leve, deixando apenas a vergonha estampada em meu rosto.
6:20am
Coloco a camisa social de Luke, que encontro jogada perto da porta de meu closet. Não faço a menor ideia de como a joguei tão longe.
Faço um suco de maracujá e procuro algo de bom e pronto pra comer, mas acabo não encontrando nada.
-Você vai ter que servir. -digo olhando para o suco. Espero não ter ficado aguado ou muito doce como da última vez que tentei fazer sozinha. Ainda me pergunto como morei sozinha todos esses anos sem saber cozihar.
-Falando sozinha?! -engasgo com o suco e começo a tossir desesperadamente, enquanto Luke somente ria da minha desgraça. -Deixa eu te ajudar antes que morra engasgada aí.
Ainda rindo ele caminha até mim e da pequenos tapinhas em minhas costas, quando vê que já estou longe da morte ele informa que irá fazer algo para comermos. Escolhi a melhor pessoa pra ter relaxões sexuais.
-Tá tudo be...-começa mas o corto.
-Será que não podemos falar sobre o que aconteceu ontem? Me sinto envergonhada. -digi. -Isso nunca aconteceu comigo antes. Ter um ataque na frente de outras pessoas, digo. -olho em seus olhos.
Luke caminha até mim e tem um pequeno sorriso estampado em seu lindo rosto. -Eu estava falando da sua quase morta. -seus olhos estavam atentos em meus lábios. -Mas saiba que ter ataques de choro não é uma vergonha ou fraqueza e sim uma confirmação de que somos humanos com sentimentos, e as vezes nos faz bem colocar esses sentimentos pra fora. -sussura em meu ouvido e quando termina deixa um selinho em minha boca, me deixando sem saber o que dizer ou se mexer, e volta para seus ovos mexidos e bacon.
O cheiro está divino.
-Eu sei. -digo mais pra mim do que pra ele. Me viro e começo a repara-lo concentrado no fogão.
Talvez eu tenha problemas em expressar o que sinto.
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Tempestade- Série: Tentações
RomanceLivro 1 Tempestade é reconhecida por seus estados climáticos arrebatadores, como ciclones ou tornados, mas o que aconteceria se duas pessoas que passaram por uma grande tempestade em suas vidas se encontrassem mesmo ainda não terem encontrado o seu...