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Eu sou a pessoa mais medrosa do mundo. Eu tenho um sério problema em conversar com as pessoas, principalmente por telefone. Eu costumo ficar inquieta quando fico numa ligação, então eu acabo esbarrando em coisas, até caio no chão de tão distraída e nervosa. Porém, com Luke era diferente, eu tinha um motivo para ficar nervosa, então estava dez vezes pior do que o normal.

Depois de três toques, Luke me atendeu.

- Alô? - é o que o telefone diz, depois de atender.

- É a Julie. - digo, tímida. Levanto do sofá, começando a andar em círculos pela mesa de centro.

- Oi morena, tudo bem? - ele diz, num tom um pouco sexy. Quando ele me chama de morena, eu fico arrepiada de tão bom que é ouvir essa palavra saindo da boca dele.

- Oi, você... - travo na hora de falar. O que eu faço agora? Olho para o teto, pedindo uma luz para Deus.

"Papai do céu, me ajuda! O que eu falo?"

- Julie, tá tudo bem? - ele pergunta, em um tom curioso. Acredito que esteja com um leve sorriso, do qual ele faz questão de exibir. Sorrio de lado ao lembrar do sorriso dele.

- Tá tudo bem sim, era exatamente isso que eu queria te perguntar. - falo, gritando mentalmente:

"Você tem demência?"

- Eu tô bem. Por que você me ligou? - ele faz essa pergunta.

- Eu queria te chamar... pra te dizer que o seu sorriso é lindo!

Zero, nota zero para você, Julie Molina!

- Julie, você está bêbada? - ele pergunta, confuso. - Você nunca fala desse jeito...

- Não, eu tô normal, Luke! Eu só estou... com frio. — digo, me sentindo uma atriz depois de ter inventado a pior desculpa que um ser na face da Terra poderia ter dado.

- Então tá, né... - ele dá uma leve risada, o que me faz sorrir um pouco. - O que faz da vida?

- Você sabe... as coisas de sempre. Sinto falta de maratonar os filmes com você. - digo, um pouco mais calma. Sento no sofá, imaginando onde que ele deve estar nesse momento. Seu quarto, talvez? Isso me faz pensar em coisas erradas.

- Eu também. Aliás, você tá livre hoje?

- Ah, não. — falei, desesperada. CONSERTA, CONSERTA JULIE! — Quero dizer, sim! — pronto, ufa.

- Ah, que bom! Que tal passar o dia inteiro assistindo filmes bons? — ele perguntou, visivelmente animado.

O-oh. Ele quer ficar comigo. O dia inteiro. Sozinho. Juntos.

- P-pode, pode ser. Vá de roupa, hein? - meu Deus, o que eu estou falando?

- Claro, eu larguei a vida de Tarzan e vou vestido dessa vez, tá bom? - ele entra na minha brincadeira, e rio por isso. Ainda bem que ele não entendeu errado!

- Beleza, que horas e na casa de quem? — perguntei, finalmente falando normal.

- Pode ser na minha daqui a três horas, ok?

- Tranquilo, até daqui a pouco então!

- Até, Molina. — ele diz e finaliza a chamada.

Nem foi tão ruim assim, achei que ia acabar falando a verdade, mas eu consegui disfarçar. Eu só preciso trabalhar melhor sob pressão, porque eu tenho as piores ideias do mundo para criar uma conversa descente.

É tão bom ouvir a voz dele, pena que eu só estou percebendo isso agora. Eu passei tanto tempo vendo ele somente como amigo, que meio que impedi com que tivesse qualquer pensamento obsceno sobre ele.

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