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JULIE MOLINA

No dia seguinte da nossa pequena discussão, não fiz questão de mais nada. Quando eu disse que havia desistido, eu estava falando sério. O único contato que eu queria ter com ele era na carona e só.

Passei pelos corredores da escola e o vi nos armários de sempre. Só dei uma olhada e fui embora, indo para minha sala e resolver minha vida, afinal, estou numa escola para estudar, né?

Os sussurros ainda não passaram. Não sabia que tinha uma audição tão boa até escutar o que cada um diz enquanto eu passo. Acho que o pior nem são as palavras, mas sim os olhares. Aquelas encaradas de gente que eu nunca nem vi na vida assusta e intimida demais, tanto que eu evito olhar para as pessoas, somente quando for realmente necessário.

Meus pais notaram que eu ando mais desanimada esses dias e tiraram a conclusão de que não havia dado certo o plano. Eles entenderam e disseram que tem coisas que não foram feitas para dar certo. Sabe o pior disso tudo? É que eles estão certos. Eu chorei a madrugada inteira por isso.

Cara, é tão torturante ver a pessoa do outro lado da sala e não poder abraçá-la, dizer o quanto ama a presença dela ou conversar com ela pelo menos. Antes eu tinha tudo, até mais do que o necessário, mas agora eu não tenho nada, nem uma trocada de olhar. Pelo visto aquilo que ele me falou era sério, ele deve me odiar.

Agora, eu me odeio também.

Se eu disser que ainda importo comigo mesma, estaria mentindo. Eu estou fazendo o oposto do que o meu coração sente, estou chorando noites por isso, tanto que meus olhos não devem desinchar mais. Não tenho mais ninguém para me ajudar, porque a única pessoa que era boa nisso virou o motivo pelo o qual sinto esse turbilhão de emoções.

Foi tão difícil conquistar a confiança dele no passado...

Aliás, eu nunca contei muito sobre o passado, né?

Basicamente, quando eu o conheci, ele foi muito grosso comigo. Isso fez com que eu começasse a pegar raiva dele, e ele pegou raiva de mim por... sei lá.

Aí, conforme o tempo foi passando, essa raiva se transformou em uma amizade. A gente passava a maior parte do tempo juntos e isso fez com que a gente pegasse uma certa intimidade, o que fez ele começar com as provocações e as piadinhas pra cima de mim. Obviamente, eu não ligava para isso, porque eu conhecia o coração de Luke, mas não mais.

Eu achava que ele nunca se envolveria emocionalmente comigo, porque ele sabia da nossa relação de amizade. Porém, acho que ninguém pode se controlar, até eu.

Não está fácil fingir que isso não está me afetando, mostrar que eu superei, mas é impossível, porque eu o amo. Dói demais sentir que a pessoa não te corresponde nem mais um pouco, quando ela não te dá nenhuma brecha pra conversar com você e resolver essa situação.

Uma hora eu me acostumo.

Só não sei que hora vai chegar.

Bateu o sinal para o intervalo, e eu fui calmamente saindo da sala. Quando fui olhar para o lugar de Luke, ele não estava mais ali. Peguei minhas coisas e fui para o refeitório, onde estava todo mundo.

- Eu não posso mais ficar lá, não por enquanto. - falei para mim mesma, vendo Luke  interagindo com todos animadamente. Eu sei que se entrar ali isso vai acabar, então fui para uma mesa qualquer e fui comer lá. Prendi o choro com força, tentando esconder a fraqueza.

- A vadia que comeu o meu homem... - uma menina sussurrou enquanto ela passava por trás de mim.

- Ela pega os mais sujos e ainda quer ser chamada de santa. Mentirosa do caralho. - a outra menina sussurrou, e faltou um pouco para eu explodir.

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