Amanheci e posterguei na cama por alguns minutos, a verdade é que eu não queria encarar ninguém, estava envergonhado com tudo que tinha acontecido ontem, minha vontade era ficar ali o resto do dia, peguei o celular e já era 9:00am e pela primeira vez, acordo sem o som de batidas na porta, eu não sabia como olhar para Soraya, não sentia fome nenhuma, acho que estava há quase 24 horas sem me alimentar direito, eu sabia que tinha que levantar, a situação poderia ficar ainda pior se eu não descesse. Percebi que ainda tinha cheiro de bebida em mim, fui para o banheiro tentar resgatar a minha dignidade.
A cabeça doía demais, me olho no espelho e constato que estava péssimo, a ressaca veio certeira, pior que ela só a minha moral que estava no chão e a culpa que me matava lentamente. Acredito que nunca havia bebido tanto quanto ontem. Vesti a primeira roupa que encontrei, não conseguia pensar e nem procurar nada, desci, percebi que meu pai estava em casa pela agitação dos funcionários e constatei que provavelmente estaria em seu escritório, passei pela grande sala e sala de jantar, até a cozinha, Soraya não estava lá, talvez estivesse decepcionada comigo, esse era o sentimento mais comum que eu causava nas pessoas que ainda me amavam.
Sentei-me à mesa e me servi, um café preto e uma torrada, tentei comer mesmo sem sentir fome, não seria um bom momento para desmaiar sem energia. Assim que terminei o café, senti o mal-estar contorcendo o meu estomago, corri para o banheiro mais próximo e vomitei tudo, meu estomago vazio fazia um nó, a dor era horrível, era de se esperar. Sinto alguém atrás de mim:
- Não se preocupe estou bem, é só um mal-estar. – Digo enquanto me viro, percebo que na verdade era Liz atrás de mim e não Soraya.
- Desculpa achei que fosse Soraya. – Digo voltando a vomitar. Dessa vez ainda mais intensamente, coloco a mão sob o estomago sentindo a dor aguda. - Sente, você vai se machucar... – Liz me guia até a cadeira.
- Obrigado, não quis dar trabalho. – Me sinto ainda mais envergonhado.
Roberto aparece na entrada da cozinha e olha meu estado, era realmente uma imagem lamentável. Vejo seu olhar me fuzilando como se eu fosse um verme, sua expressão tinha algo que remetesse a nojo, mas não tenho certeza, ainda assim a frieza era o que mais predominava.
- O que te aconteceu Jonathan? Agora anda chegando bêbado em casa? É inadmissível. – Ele fala irritado.
- Não vai acontecer de novo. – Eu respondo inclinando um pouco a cabeça, para olhá-lo. Sinto seu olhar de desprezo em minha direção.
- Assim eu espero, não vou passar a mão pela sua cabeça. Você está na minha casa. – Ele diz firme. Não o respondo, não tenho energia, nem dignidade para isso, aceitar a bronca era o mínimo, difícil mesmo era aceitar a minha autopiedade. - Vamos Liz, preciso que esteja pronta para sairmos. – Ele sai logo em seguida.
Ela pega um copo de água, coloca na minha frente e sai da cozinha. Me sinto ainda pior, como eu queria não existir hoje, encarar a minha vida era um tormento, levanto procurando algum remédio nas gavetas, encontro alguns para dor e enjoo, nem consigo ler direito, peguei só reconhecendo os frascos, coloco na mão e os engulo de uma vez, torcendo para não vomitar tudo de novo.
Vou até o jardim tomar um ar, a luz me incomodava, coloquei o capuz na cabeça e os óculos escuro que tinha trazido tentando me esconder. Vejo Soraya sentada no banco, imóvel a lembrança de ontem me faz me sentir péssimo, machuquei a única pessoa que gosta de mim. Eu não queria preocupá-la, eu já lhe dou tanto trabalho, a vida toda. Sempre me senti um peso, ela não tinha obrigação nenhuma de se envolver emocionalmente, quantas férias ela nem usou só para não me deixar sozinho, não era justo.
Vou até ela e me sento ao seu lado, ela continua imóvel, eu encosto a cabeça em seu ombro, tudo que eu queria era pedir perdão, lhe dizer o quanto ela era importante para mim, mas não consigo. Se eu começasse a falar as coisas fugiram do meu controle, não teria nada que me fizesse me sentir melhor, não nesse dia horrível. Pego uma das mãos e traço na minha, seguro firme, sua outra mão envolve as nossas.
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As marcas do medo.
RomanceJohn é um jovem médico que há anos luta contra as crises de pânico. Sua vida sofre diversas reviravoltas levando-o a ficar cara a cara com os seus traumas, deixando ainda mais intensa as suas crises e seus medos. O dinheiro não era capaz de lhe comp...