Eu volto para o berçário e não vejo Emily por lá, entro em umas duas salas de descanso e não a vejo, sinto o coração bater mais forte, não queria que ela fosse embora como da última vez. Na terceira sala eu a encontro no canto da cama, encolhida, ela estava chorando. Eu fico surpreso e em choque, fecho a porta e vou até ela, a acolho em um abraço. Vê-la daquele jeito era horrível.
- Desculpa John, eu não consigo. – Ela me diz aos prantos.
Eu a abracei mais firme, beijei seu rosto.
- Eu imagino o quanto doí em você, eu consigo imaginar. Desculpa te fazer passar por isso.
- Eu tenho ciúmes de você e esse sentimento não é bonito, é egoísta e primitivo. Eu não estou pronta para te dividir. Sua filha é linda, passei a noite admirando-a, me apaixonei por ela, vejo tanto de você nela que é fácil amá-la, mas não consigo te ver cuidar de outra mulher que não seja eu. – Ela chora mais.
Não a solto do abraço, eu conseguia imaginar sua dor, se eu tivesse que vê-la sendo cuidada por outro homem ou tão próximo de outro, isso me faria muito mal, seria difícil.
- Você sabe que é temporário, certo? – Tento acalmá-la.
- John, eu não quero que você tenha pressa. Você está fazendo tudo que pode e deve, eu não tenho que sentir isso e se sinto tenho que me afastar de vocês.
- Meu amor, no dia em que disse sim para mim e se tornou minha namorada eu prometi que a faria feliz, que suas lágrimas cairiam apenas de alegria. – Seco suas lágrimas. – Por uma incógnita da vida tive que te fazer chorar de medo, tristeza, saudade e ciúmes. Eu sei que ainda te faço chorar por esses motivos, mas eu quero muito te fazer feliz.
Ela me beija.
- Eu não posso te pedir paciência, eu só posso dizer o quanto eu te amo, o quanto te quero e te desejo. Vou precisar de um tempo para arrumar essa bagunça, para dar segurança a Sarah e Cecília.
- Eu sei John, eu pensei que pudesse voltar e ficar aqui com vocês, mas ainda não posso, desculpa. É muito para mim.
Pensar que ela cogitou ficar me fez estremecer e eu a beijo mais, saber que logo a perderia de novo me deixava atordoado, eu precisava dela, deixa-la ir era uma tortura.
- Eu vou embora amanhã... – Ela me fita com seus olhos molhados.
- Queria poder parar o tempo, para não ter que te ver ir novamente. – Digo passando meus dedos pelos lábios molhados.
Ela me abraça, seu abraço faz meu coração apertar, prevendo toda a saudade que eu já conhecia. Beijo a sua boca, encostando com leveza os meus lábios no seu, sinto sua boca quente e macia.
- Deixa eu te levar no aeroporto. – Digo.
- Você não gosta de despedida. – Ela me lembra.
- Não vou me despedir de você, quero que seja apenas um até logo.
Eu me afasto e sento ao seu lado na cama, encostado na parede, olho em seus olhos e vejo toda a chama que arde dentro de nós.
- Vem aqui, deixa eu te olhar, sentir seu cheiro, te amar. – Eu a chamo segurando uma das suas mãos.
Ela vem até mim, com os nossos rostos colados, ela senta em meu colo, ela se encaixa perfeitamente ali, não tenho dúvida que fui feito exatamente para ela. Sua delicadeza e leveza me fazem parecer um ogro, eu tenho toda a sua graciosidade ali, perto demais e era assim que eu queria, centímetros que poderiam se anular a qualquer momento, sem esforço, apenas um impulso nos tornaria um só. Cada movimento seu me hipnotiza e eu fico completamente tomado por ela, seus olhos me fitam, eu sinto o ar quente que sai da sua boca, a boca que me perco inteiro estava diante de mim, vulnerável. Eu a observo atento, cada detalhe do seu rosto, seus cílios negros que compõem perfeitamente seu olhar sedutor, que nesse exato momento estava desamparado, ela desposa seu rosto em meu ombro, sinto sua respiração funda.
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As marcas do medo.
RomansJohn é um jovem médico que há anos luta contra as crises de pânico. Sua vida sofre diversas reviravoltas levando-o a ficar cara a cara com os seus traumas, deixando ainda mais intensa as suas crises e seus medos. O dinheiro não era capaz de lhe comp...