As marcas do medo.

Capítulo 37

Não queria recomeçar a minha vida com Emily como da primeira vez, escondendo situações da minha vida, mesmo que nunca tenha sido o meu objetivo. Todos mereciam saber e eu tinha que me permitir falar sobre isso, minha dúvida era se conseguiria fazer, teria que tentar pelo menos, quero virar essa página. Passei a noite praticamente olhando Emily dormir, não queria ter a menor das chances de estragar o que tínhamos, com os meus traumas. Estava magoado e o medo de perde-la ainda era uma constante, mas sabia o quanto a amava. Eu não podia deixar o medo tomar mais conta da minha vida, estava pronto para enfrentar o maior da minha existência, aprender de uma vez por todas a conviver com ele de um jeito mais saudável.

Dormir por poucas horas, levantei antes de Emily, tomei um banho tentando relaxar minha musculatura, sabia que estava tenso demais, sai do banheiro enrolado na toalha, Emily me fitava com seus olhos penetrantes, estava lendo tudo dentro de mim, eu era péssimo para esconder qualquer coisa. Tentei lhe dar um sorriso, mas sabia que era em vão. Ela sinalizou com a mão para que eu sentasse ao seu lado, sentei e ela acarinhou meu cabelo, me fazendo respirar fundo, era uma sensação boa está ao seu lado, passei meu braço sobre ela e a abracei apertado.

- O que te angustia tanto?

- Eu estou prestes a fazer a coisa mais difícil da minha vida, ainda não sei se vou conseguir, mas eu sei que preciso ao menos tentar.

- Não entendi muito bem. Tem a ver com a gente?

- É algo que venho guardando há muitos anos, algo que tem comprometido a minha vida, que não me permite viver. Sua volta me fez pensar se era justo recomeçar nossa história com isso, eu quero que você me conheça por completo. – Respiro fundo e uma lagrima escorre pelo meu rosto. Sinto seu dedo passar pelo meu rosto secando-a. - Assim você pode decidir ficar ou não.

- Eu estou com você e vou ficar com você.

- Quero lhe pedir desculpas por nunca ter contato o que você vai saber hoje. Vou te levar primeiro a um lugar onde saberá um pouco sobre um período da minha vida que tento esquecer há muito tempo.

Sinto seu abraço apertado, beijo a sua testa e sinto seu rosto encostado no meu peito. Fomos para a sala tomar café da manhã, Cecília ainda dormia, Leone já estava na sala nos esperando, Soraya também já tinha chegado. Emily foi até Leone e lhe deu um abraço, Leone me deu um sorriso de felicidade.

- Fico feliz em vê-los juntos de novo. Bem-vinda de volta Emily.

- Obrigada Leone, senti muita saudade de vocês, agora voltei para ficar. – Ela me olhava sorrindo.

- Tio, eu chamei Adam e Sarah para virem mais tarde, queria que o senhor pudesse ficar, preciso muito conversar com vocês. – Apesar de toda a alegria do momento meu tom ficou sombrio.

Soraya me olhou, seu olhar era uma mistura, por um lado parecia saber exatamente o que eu estava falando, por outro parecia confusa.

- Soraya você poderia, por favor, ficar com Cecília? Não precisa ouvir o que tenho para falar e sei que prefere não ouvir, melhor que não passe por isso de novo e que Cecília não esteja aqui, tudo bem?

- Claro meu filho. – Sua voz ficou nitidamente nervosa.

- É alguma coisa muito séria? Percebi que não dormiu bem, dá para ver pelo cansaço estampado no seu rosto.  - Leone dizia olhando nos meus olhos, seu rosto era de preocupação.

- Melhor eu contar de uma vez, com todos e evitar o desgaste tentando falar mais vezes.

- Eu vou esperar aqui, seja o que for.

Sentamos e iniciamos o café da manhã, todos me observavam, eu estava tenso e preocupado, seria o primeiro passo com Emily, esse não era o mais assustador, o pior viria depois. Quando terminamos, segurei a mão de Emily e ela apertou, beijei sua mão e saímos do apartamento, chegamos até o estacionamento em silêncio, entramos no carro, quando liguei respirei fundo, ela passou a mão na minha perna e a olhei nos olhos.