Capítulo 20

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Abro os olhos na esperança de vê-la de novo, mas ela não estava na cama, sento constatando que provavelmente ela já tinha ido, ainda assim vasculho o quarto, como se tivesse alguma chance dela está escondida. Eu a grito pela casa, sabendo que ela não responderia, a dor toma conta da minha alma. Olho nossa cama, do lado tinha uma foto nossa, no porta retrato, eu o pego e é inevitável não o encharca com o meu lamento.

Pego a minha roupa e saio do quarto, a sala estava completamente vazia, eu paro um segundo para ver tudo que a gente viveu ali, todos os filmes que assistimos, nossa segunda noite quando ela dançou para mim e todas as outras vezes que o fez. Era triste ver tudo se apagar assim. Visto minha roupa ali mesmo, minha chave do carro está na bancada, na geladeira tem um recado:

"John,

Eu não sei como vai ser o futuro, o que sei é o quanto eu te amo, mas não posso ser injusta com nós dois, é melhor reconhecermos os nossos limites e evitar grandes desastres.

Desejo que essa criança tenha saúde e que você se descubra um bom pai, como não tenho dúvida que será. Eu preciso me manter distante, não quero atrapalhar esse momento tão importante na sua vida. Você é um homem digno e responsável, sabe exatamente o que fazer.

Se o universo nos ajudar um dia nos encontraremos de novo.

Te amo, Emily."

Eu pego a sua carta e sento na cadeira, sinto as pontadas no meu coração, era um fim, eu não tinha certeza se o universo me ajudaria, na verdade ele só me dava rasteiras, era uma atrás da outra. Guardei seu recado no bolso e escrevi um para ela:

"Minha Emily,

É com muita dor no peito que preciso aceitar o seu adeus. A única coisa boa que o universo me trouxe ele acaba de levar embora. Você me deu os melhores dias da minha vida e eu lhe prometi te fazer chorar apenas de alegria, ontem o destino me fez lhe causar dor. Me perdoe se não pude cumprir minha promessa, mas se um dia ainda me quiser eu vou te esperar, porque eu sei que o meu amor vai ser para a vida toda.

Com amor, John."

Deixo o bilhete debaixo do porta retrato que carrega a nossa foto juntos, no seu quarto. Fico um pouco ali olhando cada canto daquele lugar, aquele apartamento estava cheio de nós dois, tinha escova minha no seu banheiro, cueca em sua gaveta que prefiro deixar lá, tinha alguns livros meus. Pego a calcinha perdida que lhe tinha devolvido, tinha se tornado nossa marca, decido leva-la comigo e pego o restante das minhas coisas. Olho tudo, cada detalhe me faz lembrar de nós dois, penso como vou encará-la no hospital e o que vou dizer para as pessoas quando me perguntarem por ela, sinto uma tristeza que me faz chorar.

Era hora de dizer adeus, sai e fechei a porta, peguei a minha cópia da chave e tranquei, beijei e passei por baixo. Era o fim da melhor parte da minha vida. Passei pelo corredor e entrei no elevador, desci e fui para o meu carro, coloquei as minhas coisas lá, peguei a calcinha e senti seu cheiro era única coisa que tinha me restado dela, guardei no porta luva.

**

Era uma boa hora para ter um amigo para beber, constato, Adam estava longe, só tinha Leone. Antes precisava passar em casa e saber como estava Sarah, agora eu era responsável por duas vidas. Vou até lá, ela estava dormindo, presumo também que teve dificuldade de dormir. Tento não fazer barulho, preparo um café reforçado. Enquanto lavo a louça vejo-a levantar e vir até a sala, estava com uma blusa justa que destacava a barriga um pouco saliente, dava para ver o quanto estava magra.

- Bom dia, mamãe. – Digo ensaiando um sorriso, não queria encarar mais o bebê como um fardo, ele merecia ser amado.

- Bom dia. – Ela sorri timidamente.

As marcas do medo.Onde histórias criam vida. Descubra agora