Voltei para o plantão um pouco aliviado, as palavras de Leone me faziam refletir, era tão difícil encontrar razões para me amar, meus pensamentos só me colocavam para baixo, minha cabeça criticava cada respiração. Lembro o quão sempre fui depreciado por Roberto e o quanto eu me sentia péssimo, nada nunca estava bom para ele, por mais que eu me esforçasse. As vezes que apanhei por não ser exatamente como ele queria, por pensar diferente ou até por ser submisso demais e parecer covarde. Seria difícil encontrar algo para amar dentro de mim.
Era hora de encarar a realidade.
Após o plantão passei no apartamento para pegar Sarah, ela estava pronta e nitidamente nervosa, parecia tensa. Tentei acalmá-la, mas não fui bem sucedido, talvez fosse por reencontrar Antony, eu não tinha como ter certeza. Ainda era difícil falarmos sobre isso abertamente, se é que um dia deixaria de ser. Chegamos no laboratório e fizeram logo a minha coleta de saliva, Antony chegou quando estavam levando ela para colher o sangue. Ele sentou do meu lado e não nos falamos, colheram sua saliva também e aguardamos Sarah.
Trouxeram ela em poucos minutos, agora só nos restava esperar, o teste demoraria em torno de dez dias, o de Antony seria entregue no endereço dele e o meu eu poderia pegar no próprio laboratório. O clima era estranho, ninguém se falava, antes de Antony ir embora pedi para que conversássemos a sós, marquei em um bar próximo da minha casa, ele concordou.
Deixei Sarah em casa e sai para o ponto combinado.
Antony estava no balcão já bebendo, sentei ao seu lado e pedi uma dose de tequila. Ele quis brindar, como se houvesse motivo para tal, ainda assim brindei. Ele virou a dose e eu virei também, pedimos mais uma.
- John eu sei que você me acha o pior homem do mundo.
- Infelizmente conheço piores. – Digo virando a segunda dose.
- Eu errei com você.
- Errou não só comigo Antony, você deixou Sarah a qualquer sorte.
- Eu sei que ela não está grávida de mim.
Isso me irrita profundamente, era como dar murro em ponta de faca.
- Antony não interessa isso agora. Eu te chamei aqui, porque quero me certificar, mesmo eu não confiando nem um pouco na sua palavra, que se esse bebê for seu, você vai assumir, vai cuidar de Sarah e do bebê. Vai se responsabilizar por eles.
- John, você tem tanta certeza que sou escroto. - Ele não estava fazendo uma pergunta, era uma firmação.
Eu tinha, mas não quis responder e gerar ainda mais briga. Estava cansado demais para isso, eu apenas o olhei.
- Eu amo Sarah, mas quando ela disse que estava grávida eu surtei, esse filho é seu.
- Você não sabe Antony.
Eu vejo sua cabeça balançar, pela primeira vez conseguir ver algum sentimento nele, sempre se mostrou tão forte, confiante, corajoso o dono da verdade. Agora estava ali, nitidamente sob efeito do álcool a ponto de quase chorar.
- Eu vou esperar esse resultado, mas o meu coração já sabe. - Ele disse.
Bebi mais algumas doses e sai de lá, deixei ele sozinho. Voltei para o apartamento com a cabeça cheia, deitei no sofá e fiquei pensando na certeza de Antony, eu não conseguia entender. Sarah estava transando com nós dois, como ele podia ter tanta certeza que o bebê era meu, podia ser o orgulho, ele sempre foi muito orgulho, essa possível dúvida deve ter ferido o ego dele. O álcool começou a me deixar sonolento, pelo menos uma coisa boa nesse caos.
A semana se arrastou, os dias foram longos e cansativos, eu estava trabalhando muito para tentar me ocupar, Sarah estava começando a se sentir melhor no apartamento, estava participando das compras da casa e se virando com as demandas, as vezes ela ainda ficava muito cansada e era comum ouvi-la chorar de noite, eu acabava indo lá na tentativa de acalma-la, ela tinha dificuldade de dormir, então eu deitava ao seu lado e fazia carinho na barriga.
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As marcas do medo.
RomanceJohn é um jovem médico que há anos luta contra as crises de pânico. Sua vida sofre diversas reviravoltas levando-o a ficar cara a cara com os seus traumas, deixando ainda mais intensa as suas crises e seus medos. O dinheiro não era capaz de lhe comp...