Mas os pensamentos ruins me dominam, era inevitável, penso na conversa com Emily e me sinto mal em imaginar que Leone poderia sofrer, não queria decepcioná-lo, ele já estava fazendo muito por mim e eu nem conseguia entender o motivo dele insistir tanto. Nunca fomos próximos, nem contato tínhamos, qual o motivo dele querer se aproximar de mim? Não queria jogar fora a oportunidade que ele estava me ofertando assim de mão beijada, nada na minha vida vinha fácil, muito pelo contrário. Lembro do que ele falou sobre a minha mãe e me irrito por não conseguir me lembrar dela, minha memória era ótima para trazer tudo que eu não queria, mas quando era ao meu favor ela sempre me deixava na mão. Reviro-me na cama, até conseguir dormir.
Acordei mais cedo, ansioso, a verdade é que quase não consegui dormir, eu estava eufórico para chegar o horário do plantão, meu primeiro dia de trabalho na cidade. Fui mais cedo para tentar minimizar a ansiedade, assim que cheguei comecei a acompanhar os pacientes que vinham da emergência direto para cirurgia. Me bati com Emily pelos corredores, não posso negar que ela chamava minha atenção, estava com um jaleco rosa, completamente linda, apenas nos cumprimentamos. Era melhor manter distância, não queria e nem podia me meter em confusão, ainda mais com meu tio que tinha me acolhido tão bem.
O plantão foi agitado do jeito que eu gostava, quase não tive tempo de comer ou descansar. Fui para a sala de descanso quando acabou meu horário, trocar a roupa e me preparar para sair do hospital. Quando entrei vi Leone sentado, imaginei que ele já sabia de tudo e que provavelmente estava chateado, assim que o vi os pensamentos bombardeavam minha cabeça, fiquei tenso e preocupado.
- Como foi o plantão?
- Foi ótimo, muito produtivo. – Tento agir com naturalidade, mas não estava funcionando, eu estava suando de tão nervoso.
- John, será que podemos tomar um café?
- Claro tio, vou só me trocar, te encontro na saída do hospital?
Quando ele saiu da sala eu comecei a andar neurótico para um lado e para o outro, pensando em milhões de desculpas e como falar. Só o que eu podia fazer era pedir desculpas e tentar explicar a situação, só me restava torcer para que ele entendesse. Encontro ele na saída do hospital e vamos andando, eu estava completamente constrangido com a situação, chegamos até a cafeteria ali perto mesmo, nos acomodamos e fizemos os pedidos dos cafés, assim que nos serviram, tomei um pouco do café. Ele estava me observando o que me deixou ainda mais apreensivo.
- John, Emily conversou comigo. – Ele iniciou o assunto.
- Tio eu não sabia. Sinto muito.
- Não se preocupe, somos apenas amigos, tem muito tempo que tivemos uma relação, mas foi muito rápida. Ela é uma mulher livre e até onde eu sei você também é um homem livre.
- Foi uma coincidência muito infeliz.
- Pode ser, a vida tem dessas coisas. – Ele sorri.
- Você gosta dela? – Pergunto.
- Para ser bem sincero, não, na verdade nem deu tempo. Nem sei se posso dizer que tivemos um relacionamento, foi muito rápido. Sempre fomos amigos e tudo não passou de uma confusão momentânea.
- Ainda assim me perdoe.
- Não tem do que perdoa, John. Você está gostando dela? – Ele questiona.
- Não sei como dizer isso... – fico envergonhado. – Nós tivemos momentos bons, mas não há nada emocional, nos encontramos poucas vezes.
- Está apaixonado por outra mulher?
- Infelizmente.
- Ela não sabe?
- O pior é que ela sabe... namoramos por cinco anos.
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As marcas do medo.
RomanceJohn é um jovem médico que há anos luta contra as crises de pânico. Sua vida sofre diversas reviravoltas levando-o a ficar cara a cara com os seus traumas, deixando ainda mais intensa as suas crises e seus medos. O dinheiro não era capaz de lhe comp...