O álcool me fez apagar rapidamente, acordei com o carinho de Callie na minha cabeça. Olhei para ela um pouco confuso e percebi que o sol já clarear todo o ambiente, eu estava preocupado com o horário, tinha que pegar Cecília na casa de Sara.
- Ainda é cedo. – A voz de Callie era calma. Beijo sua testa e olho em volta procurando pelos meus pertences.
- Você sempre faz sexo de blusa? Já percebi que não gosta muito de ser tocado nas costas.
- Bom... pergunta difícil a essa hora e sem ajuda do álcool. – Sorrio, tentando disfarçar o desconforto. – Não é bem a parte do corpo que eu mais gosto.
- Por causa das marcas?
- São muito sensíveis ao toque. Não me sinto confortável.
- Entendi. Você se lembra do acidente?
- Como posso dizer? – Sento na cama e respiro fundo tentando me posicionar melhor, pensando como falar sobre isso. – Tento esquecer todos os dias, mas é difícil.
As palavras que saem da minha boca, me levam automaticamente ao dia, as imagens vêm na minha cabeça inevitavelmente, tinha muito tempo que eu engava meus pensamentos e desviava dessas memórias, até na terapia eu fugia desse assunto, ainda era muito difícil falar sobre isso. Levanto em busca da minha calça e sapatos, muito apressado. Sabia que essas perguntas poderiam me gerar uma crise.
- Desculpa perguntar tanta coisa. – Ela diz enquanto me observa, tentando pegar todas as minhas coisas.
- Callie, é muito complicado para mim. Esse assunto me gera inúmeras crises é melhor eu ir.
Visto minha calça e pego minhas coisas por cima da mesa de centro. Saio rapidamente do apartamento, desço as escadas praticamente correndo, entro no carro e tento manter a calma para dirigir. Cheguei no apartamento com o coração acelerado e a sensação ruim que eu já conhecia, sabia que não era mais uma crise de ansiedade habitual, não tinha ninguém em casa, meu peito começou a doer muito, eu estava caindo de dor, minhas pernas estavam bambas, sabia que era questão de poucos minutos não daria tempo de chamar ninguém. Deitei no chão da sala, o pensamento que vinha na minha cabeça era do acidente, me vi morrendo e a dor tomando conta de mim, senti que estava morrendo, era inevitável, eu sempre sentia, estava completamente perdido, meu corpo não respondia mais, vi apenas a escuridão tomando conta de mim.
'Adeus John'.
Uma voz ecoava na minha cabeça, era familiar, mas eu não conseguia identificar, estava distante, ainda estava tudo escuro, a voz estava ficando mais alta na minha cabeça, estava me chamando.
- John...
Estava mais próximo, consegui identificar era a voz de Adam, abri os olhos e a visão estava turva. Olhei em volta, estava confuso, o rosto dele começava a ficar mais nítido, ele me ajudou a levantar passando meus braços por cima do seu ombro e me levando até o sofá. Minha blusa estava molhada de suor. Callie vinha com um copo de água. Fico sem entender muito bem.
- Você teve uma crise?
- Tive. – Bebo um pouco de água, minha garganta estava seca. – Não sei quanto tempo fiquei desacordado.
- Vim assim que Callie me falou que tinha saído apressado. John, se você não conseguisse chegar há tempo, podia ter sofrido um acidente de carro. Era para ter me chamado.
- Eu não consegui pensar direito Adam, você sabe como é. Eu só lembrei do acidente e tudo começou a tumultuar na minha cabeça. – Meus olhos se encheram de lágrimas e eu tentei secá-las com braço.
Sinto Adam me abraçar, isso me faz chorar ainda mais.
- Desculpa, a culpa foi minha, te enchi de perguntas. – Callie parecia preocupada. – Quando falei com Adam ele correu imaginei que algo grave podia acontecer.
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As marcas do medo.
RomanceJohn é um jovem médico que há anos luta contra as crises de pânico. Sua vida sofre diversas reviravoltas levando-o a ficar cara a cara com os seus traumas, deixando ainda mais intensa as suas crises e seus medos. O dinheiro não era capaz de lhe comp...