Sinto meus olhos abrirem, com a visão ainda turva, tem um rosto a minha frente, não tinha nenhuma noção do tempo, me sinto confuso, não sabia eu onde estava, complemente perdido. Tento me levantar, me sinto tonto.
- Que horas são? Que dia é?
- Calma John, você só apagou por alguns minutos, você teve uma crise.
Lembro da crise e sinto a cabeça pesar, perdi o controle, tinha muito tempo que isso não acontecia, o meu medo de ter a crise me fazia adiantar a medicação logo no início dos sintomas.
- Você me assustou hoje. – Continua Leone.
- Desculpa, não vai mais acontecer. Fui pego desprevenido, não consegui achar o frasco antes de perder o controle.
- Você sente isso sempre que vai para sua casa? – Ele me olha esperando uma resposta.
Eu abaixo a cabeça, não o encaro, estava envergonhado e não queria responder, não queria começar essa conversar, tinha muita coisa que eu não podia falar.
- John, preciso que você me diga. – Ele insiste.
Eu confirmo apenas balançando a cabeça. Ele me olha e vejo seus olhos cheios de água, odiava causar isso nas pessoas, desvio o olhar, não queria encará-lo, não queria que ele me visse daquele jeito, era como todo mundo me olhava quando me conhecia de verdade, com pena. A culpa vem, me sinto péssimo, deveria ser algo simples, mas para mim era tão difícil, simplesmente não conseguia me controlar, controlar meu medo. Vejo ele se levantar e sair do quarto, observo o ambiente, estava em um lugar completamente desconhecido.
Era um quarto apenas com cama, um armário, uma cadeira perto da cama e uma mesa pequena, as paredes tinham um tom de azul escuro. Talvez eu devesse ir embora, penso. Já tinha dado trabalho suficiente, ninguém tinha nada a ver com os problemas. Procuro meu celular para ver as horas, mas não o encontro no bolso, noto que minhas coisas não estão no quarto, pelo menos não no meu campo de visão, me levanto para vasculhar o ambiente. Leone chega até a porta do quarto com um copo de água nas mãos.
- Sente-se John, tome uma água. - Leone me leva até cama, novamente.
- Obrigado. – Digo enquanto bebo a água. – Melhor eu ir, eu não queria te assustar, sei que parece aterrorizante presenciar uma crise. – Devolvo-lhe o copo.
- John, desculpa se pareceu que tive medo de você. – Ele me olha nos olhos. – Eu tive medo de te perder. – As lagrimas percorrem seu rosto, ele as limpa.
Eu fico sem entender, nunca fomos próximos, não consigo pensar em nenhum motivo para que ele se sinta assim, talvez ele fosse muito emotivo, não tinha certeza, fico em silêncio, sem ter o que dizer.
- Quando estamos perto, me sinto perto da sua mãe. – Ele olha para as suas mãos entrelaçadas. – Quando ela se foi fiquei destruído. Uma parte da minha vida foi embora junto com ela. – O seu rosto fica sombrio.
Eu não conseguia entender, eles eram tão amigos assim? Tinha algumas imagens dele cuidando da minha mãe doente, mas não tenho em minhas memórias essa aproximação. Não me sinto bem em perguntar, percebo que é um assunto delicado demais.
- Eu sei que é confuso para você. Um dia entenderá o que estou dizendo.
Naquele momento nada fazia sentido, penso que pode ser efeito da exaustão, travando o meu raciocínio. Ou as coisas estavam realmente muito estranhas ali, o silêncio predomina no ambiente.
- É melhor eu ir. – Interrompo o silêncio com a voz baixa.
- Tem certeza quer não quer ficar? – Ele me olha preocupado.
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As marcas do medo.
RomanceJohn é um jovem médico que há anos luta contra as crises de pânico. Sua vida sofre diversas reviravoltas levando-o a ficar cara a cara com os seus traumas, deixando ainda mais intensa as suas crises e seus medos. O dinheiro não era capaz de lhe comp...