A pessoa que diz que o dia tem vinte e quatro horas precisa ser estudada, definitivamente essa afirmação é errônea. Hoje ainda é terça-feira e já trabalhei por uma semana inteira, infelizmente, para cobrir os gastos eu tenho que me esforçar o triplo. O despertador tocou no instante que eu estava conseguindo fechar os olhos.
Uma mensagem no meu celular me retirou da briga interna com o meu arqui-inimigo.
"Paciente VIP. Andar de cima. Seja discreta".
É lamentável como a sociedade rotula as pessoas. Os meus pacientes são tratados da mesma maneira, cada um com sua singularidade, independente de sua classe social, raça ou etnia. Contudo, nesse hospital os tratamentos são distintos, o dinheiro está acima de tudo e de todos.
Ando apressadamente até o elevador, mas paro ao encontrar uma maquina de café – um cheiro delicioso – não gostava muito, porém tive que aprender, pois as longas horas de plantão pedem.
Encontro meu chefe impaciente na cobertura do hospital esperando o helicóptero pousar – ele me olha de cima a baixo como se algo o incomodasse, mas desvia o olhar – Qual é a situação do paciente? – Pergunto
- Ferimento à bala no peito direito, muito sangramento, mas ainda está consciente – responde apressadamente – Eda, eu sei que você não concorda com as minhas atitudes, contudo esse paciente é importante. Você tratará apenas ele. – Levanto a sobrancelha incrédula.
- Eu tenho outros pacientes, Efe. – Pontuo – E sou traumatologista, não cirurgião cardiotorácica – Parece óbvio que um ferimento por arma de fogo no local mencionado deveria ser tratado por um especialista, mas não para ele.
- Você é a mais experiente nesse caso. – Ele balança a cabeça, respira e continua – Não tenho que explicar as minhas decisões para você. Apenas faça seu trabalho – Lá está ele, o meu chefe arrogante.
- Não se preocupe Efe bey! – digo enquanto prendo o meu cabelo em um coque ao passo que o helicóptero pousa.
- Ele vomitou sangue durante o translado – O paramédico afirma ao mesmo tempo em que o coloca na terra firme – Perdeu a consciência há poucos minutos. – Um homem bem vestido que desce com ele cumprimenta Efe.
- Doutora Yildiz, muito prazer! – Ele me analisa minuciosamente – Faça o impossível para salvá-lo, por favor! – O seu tom de voz é um tanto quanto autoritário, contudo há um toque de gentileza.
Apenas assinto, o paciente parece ser alguém importante para ele, pois há dor em seus olhos – no entanto, uma mera mortal só pode lidar com o possível.
Duas horas depois
A sala de cirurgia é o local onde eu me sinto segura, feliz e excitada – pode parecer estranho já que eu tenho sangue em minhas mãos, mas estou salvando uma vida – ao contrário de outras pessoas que a retiram.
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Intensos e quebrados
Fiksi Penggemar"Depois da tempestade vem à calmaria". Essa frase pode se enquadrar na vida de muitos, mas não de Eda Yildiz. Perdeu os pais vitimas de um atentado, até então misterioso. A adolescência está carregada de más e doloridas lembranças. Trabalha compulsi...