REVELAÇÕES
ULISSES
Assim que saí da casa de Anne, liguei para Fernando, mesmo fazendo o possível para não demonstrar, Anne dizer que se sentia vigiada me deixou apavorado, Fernando pediu que eu fosse imediatamente à casa dele.
- Ulisses, você não pode perder o controle justo agora, nós sabemos que a menina está segura.
- Mas que carro é esse que ela viu? Se for um dos nossos, precisa ser mais discreto pra não colocar tudo a perder.
- Não é um dos nossos, mas é alguém que mordeu a isca o cerco está se fechando e logo eles vão acabar se entregando.
- Estão muito perto, não vou me perdoar se acontecer alguma coisa com ela
- O que você disse a ela quando ela te contou?
- Disse que na próxima segunda-feira vou buscá-la na escola pra descobrir que carro é esse.
- Você não vai
- Como não? O que quer que eu faça?
- Você vai ligar pra ela no momento exato que ela sair, vai dizer que houve um imprevisto e que não tem como sair da delegacia.
- Mas por quê eu faria isso?
- Eles vão ver que ela está distraída no telefone e vão aproveitar o momento pra tentar alguma coisa, nesse momento nosso pessoal vai agir e capturar quem está seguindo ela.
- Fernando, isso é muito arriscado, e se ela sair machucada?
- Ela não vai, nós vamos manter ela segura.ANNE
A segunda feira chegou, a aula correu normalmente e quando eu chegava ao portão o telefone tocou, olhei no visor e era Ulisses, me despedi dos amigos e atendi:
"- Ulisses, já estou saindo
- Anne, aconteceu um imprevisto e acabei ficando preso aqui no trabalho , não vou poder cumprir o combinado
- Entendo, não se preocupe, já estou indo pra casa
- Me perdoa por não poder te buscar?
- Claro! Não precisa se preocupar "
Eu falava com Ulisses quando senti alguém puxar o meu braço, o telefone caiu e dei de cara com a última pessoa que espeva encontrar.
- Marcelo! Como me encontrou?
- Ora, ora se não é a minha filhinha morta!
- Se você não sair de perto eu vou gritar
- Pode gritar a vontade, aqui ninguém vai te ajudar, afinal quem vai procurar uma garota morta?
- Larga ela! - um homem desconhecido gritou
- Isso aqui é briga de família, não se mete - Ruan respondeu com deboche
- Só não sei se você sabe com qual família está se metendo - disse o estranho rindo.
Percebi vários homens armados a nossa volta, minha vista embaçou por conta das lágrimas que eu não conseguia controlar, os homens imobilizaram o Ruan, vi quando tiraram a Queila do carro que eu via desde a semana anterior, então um senhor se aproximou de mim e disse:
- Oi, Anne! Não tenha medo, sou o Fernando e estou aqui pra te ajudar.
- Me ajudar como? De onde o senhor me conhece?
- Você precisa confiar em mim, vem comigo que vou te explicar tudo desde o início
- Como posso confiar no senhor? Quem é o senhor?
- O Ulisses vai estar lá, pode confiar em mim, por favor entre no carro.
Mesmo com medo eu o segui, precisava de respostas e acompanhar aquele desconhecido era a única chance de encontrar.
Chegamos a uma casa enorne, que ficava em um bairro que parecia muito chique, eu olhava tudo em silêncio o Sr Fernando saiu do carro e esperou que eu saisse também, fomos em direção a entrada da casa, e logo que a porta se abriu fui surpreendida por um abraço desesperado do Ulisses
- Anne, querida! Você está bem?
Apenas assenti balançando a cabeça
- Nunca me perdoaria se acontecesse alguma coisa com você, tem certeza que está bem?
- Eu tô bem, Ulisses! Mas preciso entender o que está acontecendo
- Vem, nós vamos te explicar tudo- Ulisses afirmou, segurando minha mão e me guiando pra dentro da casa.
- Anne, vou te contar tudo sei que vai ter muitas perguntas mas peço que não me interronpa ok? - disse o Sr Fernando e eu assenti - Tomás era casado com a Antonella, eles tiveram uma filha, Mary Anne, era uma família linda e que despertava a inveja de muita gente, inclusive pessoas que se diziam amigas do casal. Pouco depois de Mary Anne completar 5 anos, houve um sequestro, os criminosos levaram Antonella e Mary Anne e durante 6 meses Tomás procurou pela esposa e a filha sem obter nenhuma notícia, depois de 6 meses encontraram o corpo de Antonella na beira de um rio em Belo Horizonte, a menina nunca foi encontrada, apesar de Tomás nunca perder a esperança de encontrar a filha, a polícia e a justiça encerraram o caso e pararam as buscas, eu fui contratado por Tomás pra fazer uma investigação particular, mas não tinha nenhuma pista sobre os autores do crime e muito menos sobre o paradeiro da menina. Há alguns meses, o Ulisses me procurou fazendo uma série de perguntas sobre o caso, ele juntamente com o Bernardo tiveram acesso a documentos que eu desconhecia, a partir desses documentos retomamos a investigação em total sigilo, conseguimos encontrar não só a menina, como parte dos criminosos, mas ainda precisamos de uma prova pra chegar aos mandantes desse crime. Alguma pergunta?
- Eu sou essa menina?
- Acreditamos que sim, um exame de DNA pode conprovar nossas suspeitas- Ulisses respondeu.
- Por que não me disse nada?
- Pela sua segurança, têm pessoas muito influentes por trás de tanta maldade, não podíamos te botar em risco - Ulisses respondeu
- E como eles me acharam?
- Eu tive uma conversa com Tomás, alguns dias atrás, alguém de dentro da delegacia disse a ele que Ulisses andou analisando os arquivos, acredito que tenha algum informante dentre os funcionários dele - Fernando disse muito sério.
- Quando vou fazer esse exame?
- Se você quiser, agora mesmo - uma voz familiar disse atrás de mim - mas agora que a vi com meus próprios olhos, sei que esse exame é mera formalidade.
- Ulisses, é ele! É ele que aparece no meu sonho! - Falei antes de tudo escurecer e eu desmaiar.Acordei assustada sem saber onde eu estava, era um quarto muito grande e bonito, me deparei com três pares de olhos me encarando preocupados, só então me lembrei do que aconteceu antes de desmaiar. Quando parei meu olhar naqueles olhos tão azuis quando os meus, as lembranças vieram como uma avalanche.
"Estávamos no shopping esperando o papai pra comprar meu presente e nos levar pra casa, a tia Suzana chegou e disse a mamãe que papai teve um problema no trabalho e pediu pra ela vir nos buscar, eu tinha medo dela e por isso me agarrei forte no colo da minha mãe.
- Suzana, você precisa passar em algum lugar, se for te atrapalhar, nós pegarmos um taxi.
- Já vamos chegar, Antonella
Logo o carro parou em um lugar muito feio, as portas se abriram e logo apareceram vários homens feios com armas na mão.
- Suzana, o que está acontecendo? - mamãe perguntou
- Você sempre atrapalhou minha vida, não bastasse todo dinheiro que você já tinha, ainda teve que laçar o cara mais rico e mais trouxa da cidade? Agora ainda tem essa bastardinha pra atrapalhar tudo.- disse Suzana com muito ódio
- O que você está dizendo? Sempre fomos amigas
- Até parece que uma songa monga como você tem amiga
- Suzana, se é dinheiro o que você quer, eu dou, mas deixa a gente ir embora.
Vi minha mãe ser amarrada em uma cadeira e eu em outra. Durante vários dias eles nos mantinham amarrados em algum galpão e a noite em um porta-malas sendo levada a outro lugar, até chegar em um lugar onde eles nos batiam a maior parte do dia. Nesse lugar havia uma janela pequena no banheiro, minha mãe colocou a correntinha no meu pescoço e me passou pela janela, mandou eu correr até encontrar alguém pra pedir ajuda, eu corri até tropeçar em uma pedra e rolar um barranco onde bati a cabeça e não sei por quanto tempo dormir, até ser acordada pelo tio Bernardo "Contei tudo aos três homens que me encaravam atônitos, até que Tomás disse
- Cada um que te fez mal, vai pagar, eu te prometo.
- Eu sempre desconfiei da Suzana, mas não imaginava que ela teria feito com as próprias mãos - disse Fernando.
- Como você ainda teve coragem de casar com esse monstro? - Ulisses estava furioso.
- Eu realmente não imaginei que ela fosse a culpada, ela sempre pareceu sofrer pela perda delas - Tomás disse em um sussurro.
- O que vamos fazer agora? - perguntei.
- Preciso garantir que ninguém saiba a verdade por enquanto, em dois meses você completa 17 anos, a data é próxima ao aniversário de 40 anos da minha empresa. - disse Tomás pensativo.
- Pretende desmascarar a víbora na festa? - Fernando perguntou.
- Exatamente, diante de toda a alta sociedade, jornais, revistas e sites de fofoca, ela vai sair da festa pra cadeia, junto com os comparsas dela - Tomás concluiu.
- O plano é o seguinte: Anne segue a rotina que vem seguindo desde que veio pra São Paulo, Ulisses cuida da sua segurança e distrai os abutres, já que você é o único que a vadia não conhece, eu vou preparar a emboscada e Tomás vai fingir que não sabe de nada, todos de acordo? - Fernando perguntou e todos concordamos.
Depois de todo plano traçado, nos despedimos de todos e Ulisses me levou pra casa. Durante o caminho ele estava tenso e totalmente silencioso.
- Você quer falar alguma coisa? - perguntei assim que o carro parou.
- Odeio admitir, mas estou com medo - respondeu baixo.
- Do que tem medo?
- De falhar
- Você não vai falhar
- Anne, eu não posso perder você, eu não vou conseguir me perdoar se acontecer qualquer coisa com você- disse segurando minhas mãos e eu segurei forte.
- Você fez por mim o que ninguém mais fez, você devolveu a vida que me foi roubada, nada vai acontecer comigo, mas caso aconteça não será culpa sua, você é o meu cavaleiro de armadura dourada, aquele me salvou do abismo onde eu estava.
- Você é minha princesa na torre, minha vida hoje é em função da sua, Anne eu não posso mais viver sem você.
Será que era um sonho? Será que eu entendi tudo certo? Eram tantas perguntas... Eu olhava dentro daqueles olhos buscando as respostas que eu precisava, então antes que eu pudesse formular mais perguntas, ele me beijou com urgência e ao mesmo tempo com carinho, só podia ser um sonho, e eu não queria mais acordar.
Paramos o beijo por falta de ar, percebi que Ulisses ia falar alguma coisa, mas eu o calei pondo os dedos em seus lábios, ele fechou os olhos sentindo meu toque, sorrimos um pro outro e entrei em casa.Sem dúvidas esse foi um dia que nunca vou esquecer, de tudo o que aconteceu, não consigo parar de pensar no beijo do Ulisses, saber que meus sentimentos, mesmo proibidos, são recíprocos me dá a força que eu preciso pra enfrentar tudo o que vem pela frente.
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A Herdeira Perdida - Concluído
RomanceUma criança é encontrada dormindo sob uma ponte no parque da cidade, ela não se lembra como chegou ali, seu nome, sua idade.... ela estava completamente perdida