Capítulo 29

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E NADA É O QUE PARECE

ULISSES

   Depois de deixar Anne em casa, vou pra delegacia pro meu plantão. Não falo nada do que descobri com ninguém, afinal por se tratar da minha noiva, eu não posso me envolver nesse caso.
  Assim que cheguei na delegacia o delegado me chamou.
_ Pois não, senhor!
_ Sente-se, Ulisses. Vou direto ao ponto, você tem alguma informação que nós não temos sobre o sequestro da sua noiva?
_ Não senhor, o senhor mesmo me ordenou que não me envolvesse nas investigações. Por que a pergunta?
_ Você sabe o motivo dela não querer denunciar o Lucas?
_ A Anne o considera uma outra vítima de toda essa história, os pais o envolveram nisso desde criança e ela acredita que ele a sequestrou em um momento de desespero.
_ Você concorda com ela?
_ Eu não sei, minha intuição me diz pra não confiar nesse cara, acho que tem muitas peças soltas nessa história e espero que o senhor tenha colocado uma boa equipe pra esclarecer tudo isso.
_ Olha Ulisses, eu não devia falar sobre esse caso com você, mas como você é um dos meus melhores homens, vou dar uma dica: nada é o que parece a primeira vista. Sua noiva ainda está correndo perigo e se ela continuar achando que todo mundo é bonzinho ela vai acabar a sete palmos do chão.
_ Senhor, como posso ficar tranquilo com o que me disse? Eu não posso deixar minha menina correr perigo!
_ A única coisa que posso dizer é que continue "não se envolvendo" exatamente como está e que saiba escolher em quem confiar. Vou afastar você da delegacia durante essa investigação pra que você possa cuidar da sua menina. Interprete essa punição como um favor pessoal. Está dispensado.

  Essa história está cada vez mais confusa, o delegado sabe que estou investigando, mas ao invés de me punir ele me incentiva.
  
   Saio da sala do delegado e vou até minha sala recolher alguns pertences antes de ir embora. Estava organizando uns papéis quando ouço três batidas na porta.

_ Posso entrar? - levanto a cabeça e vejo a Rebeca na porta.

Rebeca é uma colega que entrou pra polícia um pouco antes de mim, fomos parceiros por um tempo, até que ela foi designada pra trabalhar em casos considerados mais tranquilos depois de ver o ex-namorado dela ser morto em um confronto entre traficantes e policiais. Ele era um dos líderes do tráfico, ela ficou um bom tempo sob investigação, mas não foi encontrado nada que provasse um envolvimento dela nos crimes dele, aparentemente ela não sabia de nada.

_ Entra Rebeca, a que devo a honra?
_ Não sei se você sabe, mas fui designada pra investigar o sequestro da sua noiva.
_ Eu não sabia, e você tem alguma novidade?
_ Podemos conversar fora daqui?
_ Eu estou de saída como pode perceber, por causa dessa confusão toda, acabei sendo afastado por tempo indeterminado.
_ Vou deixar você terminar de arrumar suas coisas, te encontro em uma hora na cafeteria onde costumávamos frequentar quando éramos parceiros.
_ Ok estarei lá.

  Fiquei surpreso com esse convite, logo a Rebeca ser designada pra esse caso, ela que vive sob suspeita. Tem alguma peça que não está encaixando. O delegado Vivas está tentando me dizer alguma coisa.
  Termino de arrumar minhas coisas, ainda tenho meia hora antes de me encontrar com a Rebeca, resolvo passar no escritório do Fernando que é caminho.
_ Que surpresa você aqui a essa hora, não deveria estar na delegacia?
_ Preciso conversar com você, mas preciso que me garanta que o que for conversado aqui fique somente aqui. Ninguém pode saber.
_ Tem a minha palavra

Conto tudo ao Fernando e nem reparei que estava na hora de conversar com a Rebeca. Deixo a cópia dos vídeos pra  Fernando analizar e sigo pra cafeteria, vejo que ela ainda não chegou e resolvo tomar um café enquanto espero.

  _ Desculpe o atraso, mas o idiota do Vivas me chamou quando eu estava saindo - estranho o fato dela se referir ao delegado como idiota e resolvo entrar no jogo dela pra ganhar confiança.
_ O quê ele queria? Alguma coisa sobre o caso da Anne?
_ Ele acha que o instrutor da autoescola está mentindo, fica perguntando a mesma coisa várias vezes, até parece que a investigada sou eu.
_ Afinal o quê esse instrutor falou?
_ Tá me subestimando, benzinho? - debochada como sempre - Você sabe que a investigação é sigilosa e que não posso te dar informações.
_ Então pra quê me chamou aqui, só pra reclamar do idiota do Vivas?
_ Na verdade eu te chamei aqui pra te tranquilizar, pelo que estou vendo essa história já está encerrada, sua noiva está bem e o acusado já está longe. Sem queixa não podemos acusar o cara e sua garota ficou com peninha dele.
_ Seja direta por favor.
_ Não precisa investigar nada por sua conta, essa história já acabou.
_Como acabou? Quem ajudou o Lucas precisa ser punido.
_ Não existe nenhuma prova de que ele teve ajuda. Fique na sua, aproveita que "ganhou" uns dias e vai curtir.- nesse momento me senti ameaçado.
_ Sabe?! Acho que você tem razão, vou aproveitar esses dias e fazer uma viagem pra praia com a minha princesa, acho que ela está precisando. - jogo pra ver até onde ela vai.
_ Só não sai do estado pro idiota não te enquadrar, sabe que enquanto ele não encerrar a investigação você tem que estar por perto.
  _ Pode ficar tranquila, vou ficar por perto.

  Saindo dali fui direto pra minha casa, peguei o telefone que usava pra me comunicar com Anne antes dela voltar e mandei uma mensagem pro Fernando, depois de todas essas conversas malucas, estou desconfiado de que meu telefone pode estar grampeado. Marquei de encontrar com ele em uma loja de artigos esportivos pra não levantar suspeitas.

  Mando uma mensagem pra Anne do meu celular, exatamente pra testar se tem grampo. Digo somente que irei na casa dela e que tenho uma surpresa.

  Encontrei o Fernando e depois de contar minhas suspeitas, ele disse que vai botar o pessoal dele na cola dos dois, tanto do delegado quanto da Rebeca. Combinamos de sair da capital por uns dias, vamos fazer que acreditem que estamos na praia, mas vamos pro sítio que o Fernando tem no interior, lá é seguro apesar de isolado.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora