Capítulo 7

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ANNE

ALGUMAS PEÇAS SE REVELAM

Algumas semanas se passaram, hoje eu começo a estudar, como havia perdido um ano por conta da mudança, vou tentar recuperar esse tempo fazendo um supletivo. Estou muito animada por poder voltar a lutar pelos meus sonhos, se Deus quiser vou conseguir terminar o ensino médio e entrar para uma boa universidade.
Ulisses veio nos visitar poucas vezes, sempre apenas para saber como estávamos, a investigação não estava tendo grandes novidades, ele dizia que havia alguma peça faltando para dar o rumo que deveriam seguir. E a vida seguia normalmente, finalmente eu estava tendo uma vida comum para uma garota da minha idade.

Era um sábado, eu estava ajudando Zélia com algumas arrumações em casa, o dia estava chuvoso e não tinha muita coisa pra fazer. Depois de tudo arrumando, tomamos banho, colocamos pijamas bem quentinhos e deitamos no sofá pra assistir tv, quando a campainha tocou.
- Está esperando alguém? - Zélia perguntou.
- Não! Você está? - perguntei já abrindo a porta.
- Atrapalho? - deparei com Ulisses - desculpa vir sem avisar.
- Sem problemas, entre! - respondi dando passagem.
- Ulisses! Que bom te ver! - Zélia falou quando o viu entrar - Estávamos curtindo o frio assistindo tv, venha.

Ele entrou, se acomodou em um dos sofás e ficamos conversando sobre nossa semana enquanto Zélia foi preparar um chocolate quente. De repente uma imagem na tv me chamou a atenção
- A mulher do Orfanato! - pensei alto enquanto olhava fixo pra tv.
" Socialite Suzana Xavier  promove grande festa em salão nobre de São Paulo, segundo fontes próximas, o principal motivo será a comemoração do aniversário de casamento com o empresário Tomás Vasconcelos "  - dizia a tv.
- Que mulher, Anne? - Ulisses perguntou.
- Esses nomes.... - disse ainda pensando alto.
- Anne, diga o que está acontecendo, está me deixando preocupado- Ulisses disse assustado.
- Essa mulher esteve algumas vezes no orfanato, eu me lembro bem dela, ela sempre me olhava de maneira estranha - Comecei - Quando estava no sítio, descobri que Ruan e Queila tinham sido contratados por uma mulher, havia uma carta com orientações pra me manter escondida e ela foi assinada por Suzana Xavier. Nela havia uma observação de que Tomás nunca poderia saber da minha existência.
- A foto da carta estava no seu antigo celular - Ulisses afirmou- Como pude deixar passar?
- Sim! Havia também a foto de um casal e recortes de jornais com matérias sobre Tomás Vasconcelos- disse.
- Nós tentamos investigar o Tomás, por causa das matérias, mas ele sempre foi muito reservado e só encontramos informações profissionais. - Ulisses disse com frustração.
- Não se culpe, você faz o que pode.- disse compreensiva
- Como não descobrimos que eles são casados? - Ulisses perguntou pra si mesmo.
- Se são casados, por que não usam o mesmo sobrenome? - perguntei.
- Preciso ir, vou agora mesmo procurar respostas pra todas essas perguntas - Ulisses saiu rapidamente.
- Por que o Ulisses saiu desse jeito? - perguntou Zélia.
- Alguma coisa passou desapercebido nas investigações, ele foi atrás de respostas. - respondi.
- Ele está empanhado mesmo... - disse Zélia em um tom que não entendi.

Fiquei muito curiosa, aqueles nomes tinham que levar a alguma informação sobre o meu passado, eu sentia que aquela era a chave de todo mistério.  A noite chegou e fui me deitar, mas não tirava aqueles nomes da minha cabeça, então peguei meu telefone e fiz uma pesquisa no Google sobre o nome da Suzana Xavier.
Haviam muitas materias sobre ela em jornais, encontrei as redes sociais dela e realmente ela era bastante conhecida, mas a matéria que mais chamou minha atenção dizia:
"Foi celebrado, numa cerimônia íntima o casamento de Suzana Cardoso com o viúvo Tomás Vasconcelos Xavier, a moça à partir de hoje passa a assinar Suzana Xavier.  Vale lembrar que Suzana era melhor amiga da falecida esposa de Tomás,  Antonella Pires Vasconcelos Xavier.  Segundo fontes próximas, Suzana abriu mão do sobrenome Vasconcelos em respeito à falecida."

Copiei o link da matéria e enviei à Ulisses, minha intuição dizia que essa matéria poderia levar à alguma informação. Ainda mais curiosa, resolvi pesquisar a respeito da Antonella, senti curiosidade de ver o rosto dela. Minha surpresa foi quando apareceu uma matéria com a mesma foto encontrada no sítio, a matéria dizia:
" O casal mais querido de São Paulo, Antonella e Tomás Vasconcelos, anunciaram hoje que esperam um herdeiro, ou herdeira, ambos estão radiantes com a notícia e nós estaremos acompanhando todos os detalhes dessa gravidez"

Minhas dúvidas só aumentavam, enviei também esse link para Ulisse e logo em seguida recebi uma mensagem dele:
" Hora de dormir, mocinha! Fica tranquila que vamos encontrar todas as respostas"

Me sentindo um pouco mais tranquila, resolvi dormir e esperar.

-Filha, nunca tire essa correntinha, agora corra pra bem longe antes que eles voltem.
- Mamãe não vou te deixar sozinha, eles são maus.
- Vai filha! Corre! Enquanto usar essa correntinha, mamãe sempre vai estar com você.
Eu corri por muito tempo até cair em um barranco. 

Acordei em um sobressalto, era mais um daqueles pesadelos, mas  parecia tão real, olhei pra janela e vi que o dia já havia amanhecido. Levantei, fiz minha higiene e fui até a cozinha onde Zélia preparava o café.
- Bom dia, querida! Caiu da cama? - zombou.
- Bom dia, tive um pesadelo e resolvi levantar - respondi.
- Quer contar o sonho, pode ajudar - falou carinhosamente.
- Melhor esquecer isso - disse me levantando.
- Não vai tomar café?
- Estou sem fome, acho que vou caminhar um pouco.
- Filha, quando quiser conversar, vou estar aqui- disse vindo me abraçar e apenas assenti.

Caminhei até a pracinha que havia perto da minha casa, procurei um banco afastado e me sentei, precisava ficar um pouco sozinha. Algo dentro de mim dizia que aquele não havia sido um simples sonho, parecia uma lembrança. Fiquei ali distraida com meus pensamentos e não percebi que alguém se aproximava.
- Você está bem? - alguém perguntou tocando meu ombro e me fazendo dar um pulo. - Desculpa se te assustei, sou a Bruna.
- Oi! Tô bem sim, obrigada - respondi rapidamente. - Sou a Anne.
- Se está bem, por que está chorando?

Só então percebi que estava chorando perdida em meus pensamentos.

- Estou bem, obrigada por se preocupar. - respondi encerrando o assunto.

- Você é nova por aqui?- perguntou.
- Sim, moro aqui a pouco tempo.
- Bom, é sempre chato se mudar, nem sempre é fácil se adaptar, mas se precisar de uma amiga, eu moro bem ali - disse apontando para uma casa azul bem em frente a praça.
- Obrigada! Eu moro aqui perto, na outra quadra. - respondi me levantando e voltando pra casa.

Cheguei em casa, resolvi me ocupar pra não pensar tanto no que rondava minha cabeça, fui estudar um pouco. A campainha tocou, eu estava tão concentrada nos livros que resolvi não atender, até que tocou novamente.
- Anne, estou no banho- Zélia gritou, revirei os olhos e fui atender.
- Pois não?- disse sorrindo ao desconhecido em minha frente.
- Quem é você? - ele perguntou com o senho franzido.
- Eu moro aqui, você deseja falar com quem? - respondi desconfiada.
- Como mora aqui? Eu nunca vi você na minha vida!
- O que você quer? Isso é algum tipo de interrogatório? - já estava sem paciência.
- Eu só quero saber quem é a intrusa na casa da...
- Caio! Por que não avisou que vinha? -  Zélia o interrompeu e então descobri quem era o estranho.
- Mãe, quem é essa garota? - perguntou e revirei os olhos dando passagem.
- Ela não é nenhuma intrusa, Caio! Onde está a educação que te dei? - ele revirou os olhos.
- Fico uns dias sem te visitar e você já traz uma estranha pra dentro de casa.
- Fez quatro meses que você não aparece, e se atendesse as minhas ligações saberia que agora tem uma irmã.
- Que loucura é essa, mãe! Eu não atendi pois estava ocupado, e como assim uma irmã?
- Anne, você pode nos dar licença, tenho que conversar com esse desnaturado, daqui a pouco te chamo pra apresentar vocês como se deve. - assenti e fui para o meu quarto.

Depois de mais de uma hora, Zélia me chamou e nos apresentou, Caio já não parecia tão antipático como assim que chegou, se desculpou pela forma como me tratou, disse que Zélia tinha explicado a situação e que ficava feliz por ter alguém cuidando da sua mãe. 

É... até que ele era legal, conversamos por um longo tempo, rimos, comemos e passamos uma tarde bem tranquila, Ulisses ligou dizendo que vinha jantar conosco, fomos preparar o jantar enquanto Caio ficou na sala assistindo  tv. Quando Ulisses chegou, percebi que ele e Caio eram amigos, pelo que entendi tinham a mesma idade e haviam crescido juntos, então Caio se mudou e Ulisses entrou para a polícia.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora