ANNE
COMPLETAMENTE PERDIDA
Ainda não era noite quando saí pela estrada, caminhei até chegar ao centro da pequena cidade, caminhei até a rodoviária e consegui comprar uma passagem para a capital, o ônibus sairia em duas horas, e seriam mais duas horas de viagem. Enquanto esperava, comi algumas frutas que colhi pelo caminho, resolvi deixar os biscoitos pra quando as frutas acabassem.
A hora passou, o ônibus finalmente chegou. Ao meu lado sentou uma senhora muito simpática que logo começou uma conversa:
- Boa noite, moça! Viajando sozinha? - perguntou sorrindo e eu apenas assenti - E onde estão seus pais?
- Eu não tenho. - respondi em um sussurro.
- Me perdoe! Eu e essa minha boca grande - disse envergonhada.
- Tudo bem - respondi com um sorriso pequeno.
- E pra onde você vai? Visitar algum parente? - perguntou bastante curiosa.
- Eu não sei, não tenho ninguém- sussurrei e vi que ela me olhou com um misto de surpresa e pena.
- Quantos anos tem? - perguntou
- Fiz quinze esse ano - respondi
- Tão nova... deveria ter alguém cuidando de você - disse indignada - Esse mundo não é lugar pra uma menina ficar sizinha! - Assenti em silêncio e deviei o olhar.Me mantive por um longo tempo em silêncio, não sabia se poderia confiar em alguém e por um tempo ela também ficou em silêncio, parecia pensar sobre nossa conversa. Só percebi que havia adormecido quando senti que alguém me sacudia.
- Vamos moça - a senhora ao meu lado dizia impaciente - Estamos chegando, acorde!
Abri meus olhos e percebi através das luzes pela janela, que estávamos na capital. Um tremor percorreu meu corpo e eu não sabia se era alívio por ter conseguido ou medo do desconhecido.- Me chamo Zélia, e você? - perguntou em tom ameno.
- Me chamo Anne - respondi desconfiada.
- Deus me ajude a não me arrepender desse meu coração mole - Zélia falou pra si mesma - Você tem onde ficar, Anne?
- Ainda não, vou ter que procurar um trabalho e uma pensão ou algo do tipo - respondi sem ter a menor ideia do que fazer.
- Acho que você não é perigosa, vem, vamos pra minha casa - disse me estendendo a mão e eu a olhei atônita - Vamos! Minha casa é simples mas não vai te faltar uma cama macia e uma comida quente.
- Nem sei o que dizer... - disse surpresa.
- Não tem que dizer nada, além do mais, vai ser bom ter uma companhia - disse com um sorriso acolhedor, eu assenti e a acompanhei.Saímos da rodoviária, pegamos o metrô e em menos de meia hora estávamos na casa da Zélia, chegando lá ela me mostrou um quarto simples com uma cama de solteiro, um pequeno armário e uma cômoda, em seguida me mostrou o restante da casa. Era uma casa simples, mas muito limpa e aconchegante. Pela primeira vez na minha vida, me senti em um lar.
- Vou preparar uma comidinha rápida pra gente, está com fome? - perguntou animada.
- Não precisa se incomodar - respondi sendo traída pelo meu estômago que roncou me fazendo corar.
- Se não é fome, tem um dinossauro na sua barriga! - gargalhou me fazendo gargalhar também - Vamos! Enquanto cozinho, se quiser, pode me contar sua história.
Fomos pra cozinha e enquanto picava alguns legumes contei resumidamente minha história, não era justo esconder de uma pessoa que me deu abrigo, quando disse que vivi o último ano trancada num porão, Zélia não conteve as lágrimas e quando percebi eu também chorava.
Não falei os nomes verdadeiros dos meus pais adotivos, também não falei os nomes da Suzana e nem do Tomás, relatei apenas os acontecimentos dos últimos anos, não poderia colocar mais ninguém em risco.Zélia era viúva, tinha um filho que morava em outro estado há muito tempo e vivia sozinha quando não estava visitando parentes no interior. Tinha um vizinho que era da polícia federal e garantiu que era de confiança e poderia me ajudar em relação aos meus documentos.
Dois dias depois de chegarmos, recebemos a visita do Ulisses, o vizinho policial, contei minha história a ele, como tinha feito com Zélia, ele pediu pra falar em particular, Zélia se retirou.
- Agora quero saber a outra parte da história - disse autoritário me deixando com medo - Sei que está assustada, mas se quer ajuda eu preciso saber de tudo.
- Eu não sei muita coisa, não me lembro de nada da minha vida antes de ser encontrada naquele parque - respondi sincera, então fui até minha mochila e peguei o celular que o tio Bernardo me deu.- Tudo o que eu sei está relatado nessas mensagens
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A Herdeira Perdida - Concluído
RomanceUma criança é encontrada dormindo sob uma ponte no parque da cidade, ela não se lembra como chegou ali, seu nome, sua idade.... ela estava completamente perdida