Capítulo 6

45 5 0
                                    

ANNE

COMPLETAMENTE PERDIDA

Ainda não era noite quando saí pela estrada, caminhei até chegar ao centro da pequena cidade, caminhei até a rodoviária e consegui comprar uma passagem para a capital, o ônibus sairia em duas horas, e seriam mais duas horas de viagem. Enquanto esperava, comi algumas frutas que colhi pelo caminho, resolvi deixar os biscoitos pra quando as frutas acabassem.
A hora passou, o ônibus finalmente chegou. Ao meu lado sentou uma senhora muito simpática que logo começou uma conversa:
- Boa noite, moça! Viajando sozinha? - perguntou sorrindo e eu apenas assenti - E onde estão seus pais?
- Eu não tenho. - respondi em um sussurro.
- Me perdoe! Eu e essa minha boca grande - disse envergonhada.
- Tudo bem - respondi com um sorriso pequeno.
- E pra onde você vai? Visitar algum parente? - perguntou bastante curiosa.
- Eu não sei, não tenho ninguém- sussurrei e vi que ela me olhou com um misto de surpresa e pena.
- Quantos anos tem? - perguntou
- Fiz quinze esse ano - respondi
- Tão nova... deveria ter alguém cuidando de você - disse indignada - Esse mundo não é lugar pra uma menina ficar sizinha! - Assenti em silêncio e deviei o olhar.

Me mantive por um longo tempo em silêncio, não sabia se poderia confiar em alguém e por um tempo ela também ficou em silêncio, parecia pensar sobre nossa conversa. Só percebi que havia adormecido quando senti que alguém me sacudia.

- Vamos moça - a senhora ao meu lado dizia impaciente - Estamos chegando, acorde!
Abri meus olhos e percebi através das luzes pela janela, que estávamos na capital. Um tremor percorreu meu corpo e eu não sabia se era alívio por ter conseguido ou medo do desconhecido.

- Me chamo Zélia, e você? - perguntou em tom ameno.
- Me chamo Anne - respondi desconfiada.
- Deus me ajude a não me arrepender desse meu coração mole - Zélia falou pra si mesma - Você tem onde ficar, Anne?
- Ainda não, vou ter que procurar um trabalho e uma pensão ou algo do tipo - respondi sem ter a menor ideia do que fazer.
- Acho que você não é perigosa, vem, vamos pra minha casa - disse me estendendo a mão e eu a olhei atônita - Vamos! Minha casa é simples mas não vai te faltar uma cama macia e uma comida quente.
- Nem sei o que dizer... - disse surpresa.
- Não tem que dizer nada, além do mais, vai ser bom ter uma companhia - disse com um sorriso acolhedor, eu assenti e a acompanhei.

Saímos da rodoviária, pegamos o metrô e em menos de meia hora estávamos na casa da Zélia, chegando lá ela me mostrou um quarto simples com uma cama de solteiro, um pequeno armário e uma cômoda, em seguida me mostrou o restante da casa. Era uma casa simples, mas muito limpa e aconchegante. Pela primeira vez na minha vida, me senti em um lar.
- Vou preparar uma comidinha rápida pra gente, está com fome? - perguntou animada.
- Não precisa se incomodar - respondi sendo traída pelo meu estômago que roncou me fazendo corar.
- Se não é fome, tem um dinossauro na sua barriga! - gargalhou me fazendo gargalhar também - Vamos! Enquanto cozinho, se quiser, pode me contar sua história.
Fomos pra cozinha e enquanto picava alguns legumes contei resumidamente minha história, não era justo esconder de uma pessoa que me deu abrigo, quando disse que vivi o último ano trancada num porão, Zélia não conteve as lágrimas e quando percebi eu também chorava.
Não falei os nomes verdadeiros dos meus pais adotivos, também não falei os nomes da Suzana e nem do Tomás, relatei apenas os acontecimentos dos últimos anos, não poderia colocar mais ninguém em risco.

Zélia era viúva, tinha um filho que morava em outro estado há muito tempo e vivia sozinha quando não estava visitando parentes no interior. Tinha um vizinho que era da polícia federal e garantiu que era de confiança e poderia me ajudar em relação aos meus documentos.

Dois dias depois de chegarmos, recebemos a visita do Ulisses, o vizinho policial, contei minha história a ele, como tinha feito com Zélia, ele pediu pra falar em particular, Zélia se retirou.
- Agora quero saber a outra parte da história - disse autoritário me deixando com medo - Sei que está assustada, mas se quer ajuda eu preciso saber de tudo.
- Eu não sei muita coisa, não me lembro de nada da minha vida antes de ser encontrada naquele parque - respondi sincera, então fui até minha mochila e peguei o celular que o tio Bernardo me deu.- Tudo o que eu sei está relatado nessas mensagens

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora